ONU: Ajuda humanitária só deve chegar neste sábado em Gaza

Contrariando a previsão inicial do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza está programada para iniciar neste sábado, dia 21, e não mais nesta sexta-feira. Um acordo foi fechado entre os EUA, Israel e o Egito, este último fazendo fronteira com a cidade de Rafah, para permitir o envio de suprimentos.

A nova estimativa foi fornecida pelo subsecretário-geral das Nações Unidas para assuntos humanitários, Martin Griffiths, em Genebra, nesta sexta-feira. “Estamos em negociações avançadas com todas as partes relevantes para garantir o início de uma operação de ajuda em Gaza o mais rápido possível. A primeira entrega está programada para amanhã ou depois”, declarou.

Para a Organização das Nações Unidas (ONU), o cenário é desastroso: não há eletricidade desde 11 de outubro, a insegurança alimentar aumenta, e o sistema de saúde está à beira do colapso. Muitas crianças sobreviveram a bombardeios em Gaza, mas ficaram órfãs. Veja vídeo:

O governo de Israel havia bloqueado o fornecimento de água, alimentos, eletricidade e combustível para Gaza logo após o início do conflito. Entretanto, no último domingo, autorizou o fornecimento de água. Em uma reunião em Tel Aviv nesta semana, Biden costurou a autorização para o envio de ajuda à região com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.

Em comunicado, o gabinete do premiê israelense destacou que, desde que os suprimentos não cheguem ao grupo Hamas, “não impedirá” a entrada de alimentos, água e medicamentos. No entanto, o comunicado não menciona o combustível, essencial para alimentar os geradores de hospitais na região. O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, instou Israel a incluir combustível nos suprimentos autorizados para Gaza.

À beira do caos

Esta será a primeira vez que a população da Faixa de Gaza receberá auxílio internacional desde o início do conflito entre Israel e o Hamas, em 7 de outubro. A OMS havia alertado anteriormente que Gaza estava com menos de 24 horas de provisão de água potável, agravando a crise humanitária na região.

O bloqueio na passagem de Rafah, a única entrada e saída não controlada por Israel, havia impedido o envio de ajuda humanitária para a pequena e densamente povoada Faixa de Gaza, onde mais de 2 milhões de pessoas vivem.

Segundo Biden, as estradas próximas à passagem precisaram ser reparadas devido aos constantes bombardeios aéreos israelenses para permitir a passagem dos caminhões. Ele informou que os trabalhos de reparação seriam realizados na quinta-feira, com duração de oito horas, a fim de viabilizar a entrega dos suprimentos.

O presidente dos Estados Unidos destacou que a abertura se limitaria à ajuda humanitária, excluindo evacuações de civis. Até o anúncio de Biden, o presidente egípcio Abdul Fatah Khalil Al-Sisi havia demonstrado relutância em relação ao aumento do fluxo de refugiados palestinos em direção ao Egito quando a passagem fosse autorizada. Entretanto, ele foi pressionado por vários governos, incluindo o do Brasil, a abrir um corredor humanitário em meio ao conflito, que já causou mais de 5.000 vítimas.

Ajuda urgente

Após um ataque em larga escala do grupo terrorista Hamas contra Israel em 7 de outubro, que resultou na morte de centenas de pessoas, o país impôs um bloqueio total ao território palestino, interrompendo o fornecimento de água, comida, combustível e eletricidade. Desde então, a situação dos mais de 2,3 milhões de palestinos que vivem em Gaza tem se deteriorado rapidamente.

Agências da ONU alertaram que o território dispõe de comida para menos de uma semana e que a usina de dessalinização de água em Gaza foi desligada, aumentando o risco de mais mortes devido à falta de água, desidratação e doenças relacionadas à ingestão de água contaminada.

 

 

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Tribunal Penal Internacional emite mandado de prisão contra Netanyahu e líder do Hamas por crimes de guerra

O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu, nesta quinta-feira, 21, mandados de prisão internacional para o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o ex-ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, e o líder do Hamas, Mohammed Deif, por supostos crimes de guerra e contra a humanidade.
 
Os mandados foram expedidos após o procurador do TPI, Karim Khan, ter solicitado a prisão deles em maio, citando crimes relacionados aos ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 e à resposta militar israelense em Gaza. O TPI afirmou ter encontrado “motivos razoáveis” para acreditar que Netanyahu e Gallant têm responsabilidade criminal por crimes de guerra, incluindo a “fome como método de guerra” e os “crimes contra a humanidade de assassinato, perseguição e outros atos desumanos”.
 
Netanyahu e Gallant são acusados de terem privado intencionalmente a população civil de Gaza de bens essenciais à sua sobrevivência, como alimentos, água, medicamentos, combustível e eletricidade, entre outubro de 2023 e maio de 2024. Essas ações resultaram em consequências graves, incluindo a morte de civis, especialmente crianças, devido à desnutrição e desidratação.
 
Mohammed Deif, líder militar do Hamas, também foi alvo de um mandado de prisão. O TPI encontrou “motivos razoáveis” para acreditar que Deif é responsável por “crimes contra a humanidade, incluindo assassinato, extermínio, tortura, estupro e outras formas de violência sexual, bem como crimes de guerra de assassinato, tratamento cruel, tortura, tomada de reféns, ultrajes à dignidade pessoal, estupro e outras formas de violência sexual”.
 
Os mandados de prisão foram emitidos para todos os 124 países signatários do TPI, incluindo o Brasil, o que significa que os governos desses países se comprometem a cumprir a sentença e prender qualquer um dos condenados caso eles entrem em territórios nacionais.
O governo israelense rejeitou a decisão do TPI, questionando a jurisdição do tribunal sobre o caso. No entanto, os juízes rejeitaram o recurso por unanimidade e emitiram os mandados. O gabinete de Netanyahu classificou a sentença de “antissemita” e “mentiras absurdas”, enquanto o líder da oposição, Yair Lapid, a chamou de “uma recompensa ao terrorismo”. O ex-primeiro-ministro israelense Naftali Bennett também criticou a decisão, considerando-a uma “vergonha” para o TPI.
O conflito na Faixa de Gaza, que se arrasta há mais de um ano, deixou milhares de mortos e devastou a região. A decisão do TPI simboliza um avanço na responsabilização por crimes graves, embora sua eficácia prática seja limitada, dado que Israel e os Estados Unidos não são membros do TPI e não reconhecem sua jurisdição.

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