Chefe de ‘grupo de extermínio’ que matou mais de 20 pessoas no Paraná acompanhava execuções de dentro da cadeia por videochamadas, diz polícia
Mílicia foi alvo de megaoperação em cinco estados com 250 medidas cautelares, entre mandados de prisão preventiva, de busca e apreensão e de sequestro de bens e valores e bloqueios de contas bancárias.
‘Grupo de extermínio’ suspeito de matar mais de 20 pessoas é alvo de operação no Paraná
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O chefe da milícia considerada como um “grupo de extermínio” pela Polícia Civil do Paraná (PC-PR) acompanhava os assassinatos por videochamada, de dentro da prisão, segundo a corporação. No intervalo deem um ano e oito meses, o grupo é suspeito de executar pelo menos 21 pessoas em Ponta Grossa, nos Campos Gerais.
“A milícia era comandada por um indivíduo que já se encontrava preso na Casa de Custódia de São José dos Pinhais, de onde emitia as ordens para os assassinatos – chegando a acompanhar em tempo real as execuções, muitas vezes por chamadas de vídeo. Foi identificado que quando não conseguia acompanhar as mortes, o chefe do grupo de extermínio solicitava que vídeos com as execuções fossem registrados e lhe encaminhados na sequência”, explica a corporação.
Segundo a Polícia Civil, pelo menos 28 pessoas estavam envolvidas nos crimes. De acordo com o delegado Luís Gustavo Timossi, o grupo é suspeito de envolvimento em diversos outros homicídios, “cujos trabalhos periciais devem comprovar a atuação do bando”.
“As investigações que culminaram no desencadeamento da operação tiveram início após o setor de homicídios da Polícia Civil detectar que o grupo criminoso havia constituído uma milícia privada para execução de seus rivais e desafetos, elevando o número de mortes na cidade de Ponta Grossa”, afirma a corporação.
Os suspeitos foram alvo de uma megaoperação deflagrada na manhã desta quarta-feira (11) em 17 cidades de cinco estados: Paraná, em Ponta Grossa, Curitiba, Carambeí, Colombo, Imbituva, Ivaí, Piraquara e São José dos Pinhais; Mato Grosso do Sul, em Campo Grande e Cassilândia; Santa Catarina, em Florianópolis, Herval D´Oeste e Palhoça; São Paulo, em Araçatuba, Birigüi e Sud Mennucci; Rondônia, em Parecis.
No total, foram emitidas 250 medidas cautelares, sendo 48 mandados de prisão preventiva, 133 mandados de busca e apreensão e 69 medidas de sequestro de bens e valores e bloqueios de contas bancárias.
Segundo o Ministério Público, também foram obtidas provas de corrupção de um monitor de ressocialização, servidor terceirizado do sistema penitenciário, que receberia propina para conceder benefícios e facilidades aos investigados presos.
Esse servidor terceirizado teve a sua prisão preventiva decretada nesta fase das investigações e já foi afastado das funções pelo próprio Departamento de Polícia Penal do Estado”, afirma o órgão.
Os nomes dos suspeitos não foram revelados. A DE tenta identificar as defesas deles.
INVESTIGAÇÕES
Segundo a Polícia Civil, para identificar todos os envolvidos e desarticular as atividades da organização, foram instaurados três inquéritos policiais.
“Após a coleta de diversas provas de atuação do grupo criminoso, que contou com apoio do setor de inteligência da Polícia Penal, foi constatado que membros da milícia já eram alvos de investigações pelo Gaeco pela prática de diversos crimes, dentre os quais pertencer a organização criminosa e lavagem de capitais”, afirma o delegado Nagib Nassif Palma, chefe da 13ª Subdivisão Policial da Civil.
A corporação, através do setor de homicídios, ficou responsável pelas investigações relacionadas à atuação da milícia.
Em conjunto com a Polícia Militar, a Civil também foi responsável pelas investigações relacionadas às associações criminosas do grupo, visando a identificação de envolvidos com o tráfico de drogas e porte ilegal de armas de fogo.
Já o Gaeco, em nova fase da Operação Pax, fez as investigações relacionadas à atuação da organização criminosa, com enfoque na lavagem de dinheiro promovida pelo grupo, visando atacar as finanças da organização.
GRUPO ESTRUTURADO
As investigações apontam que o grupo possuía diversos núcleos, segundo a Polícia Civil: chefe, que estava preso e emitia ordens de execução de dentro da cadeia; indivíduos associados, que se utilizavam da estrutura do bando para solicitar a prática de homicídios de rivais e desafetos; responsável financeiro, a quem competia realizar os pagamentos aos executores; grupo de apoio logístico, responsável por auxiliar no planejamento da fuga até o transporte dos criminosos; setor com olheiros da milícia, responsável por realizar levantamento das residências dos alvos, bem como ocultar as armas de fogo após a prática dos homicídios, buscando evitar as prisões em flagrante; núcleo de executores, formado principalmente, mas não só, por adolescentes, afirma a corporação.
“O uso de adolescentes visava, especialmente, à impunidade do grupo, em razão da previsão de penalidades mais brandas em razão da menoridade”, explica o delegado Nagib Nassif Palma.
21 ASSASSINATOS E SEIS TENTATIVAS
De acordo com a Polícia Civil, entre janeiro de 2023 e agosto de 2024, o grupo foi responsável por 21 assassinatos e seis tentativas de homicídio apenas em Ponta Grossa – foram sete assassinatos e uma tentativa em 2023, e 14 mortes e cinco tentativas em 2024.
Além do crime de milícia, as investigações identificaram a prática dos crimes de tortura e de corrupção de menores. As penas, somadas, podem chegar a 16 anos.
“No caso do chefe do bando, em que as investigações apontam para atuação direta em todos os homicídios, as penas, somadas, podem chegar até 750 anos de prisão”, afirma o delegado.
TRÁFICO DE DROGAS
As investigações também identificaram dois grupos criminosos atuantes no tráfico de drogas e porte ilegal de armas de fogo, que possuíam “vínculo direto com membros da milícia envolvidos em tentativas de homicídio na região”, segundo a Civil.
“As investigações identificaram a atuação de 11 pessoas no grupo, sendo representada e deferida pelo Poder Judiciário a expedição de 10 mandados de prisão preventiva, 9 mandados de busca e apreensão domiciliar e 2 ordens de bloqueio de contas bancárias, a serem cumpridos nas cidades de Ponta Grossa, Ivaí, Carambeí e Curitiba”, afirma a corporação.
De acordo com o delegado Romeu Ferreira, responsável pelo inquérito, os grupos tinham alguns integrantes presos, mas “mantinham suas atividades criminosas por meio de colaboradores ainda em liberdade, cujas prisões foram decretadas”.
A operação também autorizou bloqueios de contas bancárias. Agora, a polícia busca localizar outros possíveis envolvidos.