Operação São Francisco: Polícia prende 47 em ação contra tráfico de animais e resgata 800 bichos

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Em áudio, traficante de animais diz que grupo vendeu onça a mulher de miliciano,
que desistiu: ‘Chegou na hora era onça parda’

Mais de 800 animais de várias espécies foram resgatados nesta terça em ação da
Polícia Civil. A instituição considera esta “a maior operação da história do
Brasil de combate ao tráfico de animais silvestres, armas e munições”.

Polícia prende 47 em operação contra tráfico de animais silvestres e salva 800
bichos

Diálogos obtidos pela Polícia Civil do Rio na investigação que culminou na
Operação São Francisco, contra o tráfico de animais silvestres,
mostram que os criminosos chegaram a negociar onças.

Em um diálogo, o criminoso conta que chegou a vender uma onça para a mulher de
um miliciano, que desistiu do negócio.

“A mulher não vai querer não. A mulher de um miliciano brabo lá da Zona Oeste
lá, que uma vez o Tatinha tinha vendido uma onça pro cara. Aí acabou que o
Tatinha tinha falado que era onça pintada, chegou na hora era onça parda”,
explicou o criminoso.

Em outro áudio, o bandido diz que enviou um macaco para São Paulo e o outro para
o Complexo do Alemão. “O ‘machinho’ eu mandei pra São Paulo, a fêmea mansinha,
mansinha mesmo, a maiorizinha, o amigo já mandou levar lá no Complexo. Só ficou
esse bebê mesmo.”

A Polícia Civil do RJ prendeu, nesta terça-feira, 47 pessoas, algumas em
flagrante na operação A instituição considera esta “a maior operação da história
do Brasil” no segmento. Mais de 800 bichos foram resgatados.

Traficantes de animais do RJ negociavam até onças — Foto: Reprodução/RJ2

A ação também apreendeu uma granada, um fuzil, uma pistola, munição e um
cinto-bomba (cinto com explosivos).

Cerca de mil agentes saíram para cumprir 45 mandados de prisão preventiva e 275
de busca e apreensão em todas as regiões do estado, mais São Paulo e Minas
Gerais.

Duas pessoas foram baleadas. Um suspeito foi atingido em uma troca de tiros e
está internado em estado grave. Uma policial civil também foi atingida na perna
durante um ataque de criminosos na comunidade da Mangueira, na Zona Norte do
Rio. O estado de saúde dela é considerado estável.

Um dos alvos de busca é o ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva,
TH Joias, preso em outra operação — ele teria comprado 4 macacos.

“Nós identificamos 145 autores e conseguimos, junto à Justiça, através de uma
longa e complexa investigação, 45 mandados de prisão preventiva, todos por
organização criminosa”, disse o delegado André Prates.

Um dos focos da força-tarefa é um núcleo criminoso “especializado” em primatas,
responsável por caçar, dopar e comercializar ilegalmente macacos retirados de
áreas de mata, especialmente na Floresta da Tijuca e no Horto.

Segundo os investigadores, os bichos eram retirados de seu habitat de forma
cruel e transportados para centros urbanos, onde eram vendidos ilegalmente.

Bernardo Rossi, secretário estadual de Meio Ambiente, afirmou que apenas um dos
presos “comercializou mais de 45 mil espécimes”. “É o corredor da morte dos
nossos animais silvestres. A crueldade é enorme”, declarou.

Rossi disse também que havia no esquema espécies com risco de extinção, como
onças, e que 60% dos animais retirados chegavam sem vida ao destino.

Segundo a polícia, o comércio desses animais movimenta os cofres de uma
organização criminosa que fatura milhões.

Foi montada na Cidade da Polícia uma base para receber os animais. Lá, os bichos
receberão atendimento médico veterinário por profissionais voluntários e serão
avaliados por peritos criminais. Em seguida, serão levados para centros de
triagem, a fim de garantir a reintrodução na natureza.

Procurada, a defesa do ex-deputado TH Joias informou que ainda não teve acesso
aos autos da investigação.

Alguns dos bichos resgatados na Operação São Francisco — Foto:
Reprodução/TV Globo

ESTRUTURA DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

A organização criminosa operava por meio de diversos segmentos:

* Caçadores (mateiros): realizavam a captura em larga escala.
* Atravessadores: transportavam os animais até os centros urbanos.
* Falsificadores: produziam documentos e selos públicos falsos para “esquentar”
a origem dos animais.
* Núcleo de armas: fornecia armamento e munições para a proteção das atividades
ilegais.
* Consumidores finais: foram identificados diversos compradores que alimentavam
o mercado clandestino.

A investigação também revelou a relação entre o tráfico de animais e o tráfico
de drogas, com feiras clandestinas como as da Pavuna e Duque de Caxias como
pontos de venda.

“A gente identificou um grupo ligado ao tráfico de drogas que fornece armas e
munição em larga escala. Esse núcleo teve algumas prisões hoje. Um deles é
apontado como um latrocida contumaz, demonstrando que o tráfico de animais e o
tráfico de drogas estão na mesma organização criminosa”, explicou o delegado
André Prates.

A ação é coordenada pela Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) e tem o
apoio do Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente do Ministério Público
do Rio de Janeiro (Gaema/MPRJ), do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), da
Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Gaiolas de passarinhos apreendidas na Operação São Francisco — Foto:
Reprodução

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