Parecendo prever que o Ministério Público de Goiás (MP-GO) investigaria as transações milionárias da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) e temendo consequências judiciais, um gerente jurídico da entidade escreveu um documento com questionamentos sobre como deveriam justificar às autoridades as evidências de “lavagem de dinheiro, organização criminosa, desvio de finalidade” e outros possíveis crimes. O documento, que estava endereçado ao padre Robson de Oliveira, foi divulgado nesta quinta-feira (8) por promotores de Justiça.
O sacerdote sempre negou qualquer irregularidade enquanto esteve à frente da Afipe, entidade fundada por ele e responsável pela administração do Santuário Basílica de Trindade. A defesa do padre disse em nota que “causa surpresa membros do Ministério Público divulgarem publicamente material obtido irregularmente em busca e apreensão de operação que o Tribunal de Justiça mandou arquivar”(leia a íntegra ao final).
O nome do gerente não foi divulgado, por isso, o G1 não localizou a defesa dele para se manifestar. Já a nova diretoria da Afipe informou que, “independente da decisão da Justiça”, continuará seu planejamento à frente da entidade, que inclui o trabalho de auditoria, reforma administrativa e demais ações.
Os promotores não informaram quando o documento foi escrito. A revelação de algumas supostas provas contra o padre Robson e membros da associação, até então guardadas em sigilo, vieram à tona dois dias depois de o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) trancar a investigação que os promotores conduziam contra o pároco.
O promotor Sandro Haldfeld diz que o documento foi apreendido no dia 21 de agosto, durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão da Operação Vendilhões, que esteve em diversos endereços coletando documentos, inclusive na casa do padre e de pessoas ligadas a ele. Os promotores investigam supostos desvios em R$ 120 milhões ofertados por devotos.
O gerente jurídico da entidade questiona, no documento, a saída encontrada para apresentar às autoridades os supostos crimes cometidos com o dinheiro doado por fiéis do Divino Pai Eterno.
O documento segue questionando: “Quer dizer que a solução é passar um recibo, cristalizar a situação criminosa de lavagem de dinheiro, caixa dois, organização criminosa, simulação, desvio de finalidade e outros?”. Haldfeld diz que quando o gerente menciona “caixa dois”, ele entende que é apropriação indébita.
O gerente continua a criticar a “solução”: “Alegar que um presidente, um padre, diga-se de passagem, não qualquer padre, com mestrado, administrador de instituição milionária, e os advogados, uma vez questionados, responderão: ‘Não sabíamos, não fizemos com dolo, erramos mas foi por desinformação e ignorância da lei, etc”.
O autor do documento começa, em seguida, fazer vários questionamentos:
Essa é a grande saída?
E quem garante isso? Seus amigos delegados e delegadas da Polícia Civil? Genial mesmo.
Quando serão dadas as explicações e justificativas?
Antes ou após a intervenção do Ministério Público?
Antes ou depois da perda dos benefícios fiscais da Afipe?
Antes ou depois das multas milionárias?
Antes ou depois da prisão de várias pessoas?
Antes ou depois de escândalo midiático?
Antes ou depois de gastar milhões com advogados grandes e grandes escritórios?
Antes ou depois de determinação judicial de dissolução da Afipe?
No fim da carta, o diretor diz que esse “é o parecer conclusivo” e que aguarda respostas. “As perguntas, estou imprimindo em três vias, uma para mim, uma para [mulher], uma para o padre Robson, com aviso de recebimento devidamente anotado no caderno de protocolo de entrega de documento”, finaliza o gerente.
- Com informações do G1