Pais denunciam racismo contra criança imigrante chamada de cocô, no Paraná

Uma menina haitiana estaria sendo vítima de racismo em uma escola de Curitiba, no Paraná. A família da garota, de apenas 4 anos, denuncia que a escola onde a situação ocorreu não se manifestou sobre uma sequência de violência física e psicológica a que a vítima teria sido exposta. Eles reclamam que a filha teria até sido chamada de cocô por um colega de sala por ser negra.

As ‘brincadeiras’ do garoto teriam começado na primeira semana de aulas, no início deste ano, quando houve o xingamento. Em seguida, ele teria feita a imigrante tropeçar de propósito, o que a levou a quebrar o punho e ficar 15 dias afastada do colégio. No episódio mais recente, cuspiu no rosto da menina. A criança teria reclamado com a professora e a resposta foi a de sempre, de que conversaria com os pais do suposto agressor.

“Isso me deixa tão magoada. Estou com ódio, indignada. Uma criança de quatro anos passando por isso! Minha filha ter sido cuspida me lembra o tempo da escravidão em que o fazendeiro fazia o que quisesse com o escravo, até cuspir na cara”, lamenta a mãe, Frandeline Belotte, que está com o pai da menina no Brasil há dez anos.

Segundo ela, a mãe do garoto trabalha na escola. “Ele tem preconceito contra a minha filha e a professora só passa a mão na cabeça dele. Não fez nada, não tomou nenhuma providência”, reclama. O  provável caso de racismo foi denunciado ao Ministério Público e ao Conselho Tutelar. Eles aguardam um laudo médico sobre a lesão para registrar Boletim de Ocorrência, mas abriram mão da bolsa de estudos da filha e a matricularam em um colégio público na capital paranaense.

Por meio de nota, o Sesc Educação Infantil negou a denúncia de preconceito ou discriminação, se posicionou contra atos do gênero e afirma que “adotou internamente diversas medidas para averiguação da veracidade dos fatos”.

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Restauração da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos faz descoberta de cemitério de africanos escravizados

A restauração da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Jaraguá, culminou em uma importante descoberta arqueológica: um cemitério com mais de 200 anos. Durante as escavações para a implantação de um sistema de drenagem, os arqueólogos encontraram ossadas que, segundo especialistas, são possivelmente de africanos escravizados e negros libertos.

A obra, iniciada em abril deste ano, é realizada pelo Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), com um investimento de R$ 3,5 milhões. A conclusão está prevista para 2025. A descoberta das ossadas aconteceu em novembro, quando 35 ossadas foram exumadas sob o calçamento externo, e centenas de outros túmulos foram identificados.

Importância Histórica e Cultural

“É uma descoberta importantíssima para a história de Jaraguá e do estado de Goiás, pois nos permite resgatar a memória histórica de um período significativo para a formação cultural”, ressalta a secretária de Estado da Cultura, Yara Nunes. Este achado reforça a importância da preservação do patrimônio material e imaterial, conectando-nos com as raízes de nossa história.

Além das ossadas, os trabalhos também revelaram, com a remoção do piso de madeira, 56 campas funerárias numeradas dentro da igreja. Segundo os arqueólogos, há cerca de 150 sepultamentos nas laterais, no fundo e no pátio frontal da igreja. “Tem um sepultamento atravessado embaixo da escada da igreja, então quer dizer que aquela escada não é tão antiga, não é a original da construção. Em alguns locais a gente encontrou sobreposição de esqueleto, ou seja, existia o uso contínuo dessas covas”, conta o arqueólogo Wagner Magalhães.

A equipe agora enfrenta o desafio de extrair o máximo de informações possíveis sobre os esqueletos, que estão em péssimas condições de preservação devido ao solo úmido do local. As ossadas retiradas serão estudadas em laboratório para obter informações sobre sexo e faixa etária. Posteriormente, será feito um levantamento histórico com base nos registros de batismo e morte.

“Foi um trabalho surpreendente não só porque é inédito, mas é uma coisa que está mexendo com a memória. Quem eram essas pessoas? Apesar de não ter a história completa, a gente tem uma ideia do que aconteceu ali”, ressalta a arqueóloga Elaine Alencastro.

Educação patrimonial

Após o trabalho de curadoria da equipe arqueológica, a Secult, em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Goiás, vai oferecer uma ação de educação patrimonial na igreja. “Todas as nossas obras já possuem tapumes educativos que contam a história do edifício, mas, com essa descoberta, vamos montar uma estrutura na igreja para que todos possam conhecer mais sobre essa história que ficou escondida durante tantos anos”, adianta a superintendente de Patrimônio Histórico e Artístico da Secult, Bruna Arruda.

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foi construída em 1776 pela irmandade de negros de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Nessa época, era comum a construção de igrejas específicas para a população negra. “Essa igreja foi dedicada aos pretos e foi construída por eles, e a população africana teve um papel importantíssimo até para a formação da cidade de Jaraguá. Então o que a gente tem aqui é um pouquinho da nossa história e traz também um pouco da história do início das minas de ouro, desses povos que trabalharam lá”, explica Wagner Magalhães.

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