Última atualização 20/01/2022 | 12:20
Um novo relatório investigativo sobre a arquidiocese acusa o Papa Bento XVI de saber de padres que abusaram de crianças enquanto foi arcebispo de Munique de 1977 a 1982. O relatório foi revelado nesta quinta-feira (20) e contradiz as negações de longa datas feitas por Bento XVI.
“Ele foi informado sobre os fatos”, disse o advogado Martin Pusch em Munique como parte de um painel que anunciou as conclusões da investigação.
“Acreditamos que ele pode ser acusado de má conduta em quatro casos”, disse Pusch. “Dois desses casos dizem respeito a abusos cometidos durante seu mandato e sancionados pelo Estado. Em ambos os casos, os perpetradores permaneceram ativos na pastoral”, acrescentou.
Os advogados responsáveis pelo caso dizem que Bento XVI continua negando as acusações. As descobertas são um julgamento condenatório sobre o ex-papa, então conhecido como Cardeal Joseph Ratzinger, que surge após anos de especulação sobre o quanto ele sabia.
“Durante seu mandato, ocorreram casos de abuso”, disse Pusch, referindo-se a Bento XVI. “Nesses casos, esses padres continuaram seu trabalho sem sanções. A Igreja não fez nada”, completou.
“Ele alega que não sabia de certos fatos, embora acreditemos que não seja assim, de acordo com o que sabemos”, disse Pusch.
O relatório completo deve ser divulgado ainda nesta quinta-feira, após seus autores terem detalhado as principais descobertas feitas.
Em comunicado, o Vaticano disse que aguardaria a publicação detalhada do relatório antes de comentar mais. “A Santa Sé considera que deve ser dada a devida atenção ao documento, cujo conteúdo é atualmente desconhecido. Nos próximos dias […] a Santa Sé poderá examiná-lo cuidadosamente e detalhadamente”, disse.
“Ao reiterar a vergonha e o remorso pelos abusos cometidos por clérigos contra menores, a Santa Sé expressa sua proximidade com todas as vítimas e reafirma os esforços empreendidos para proteger os menores e garantir ambientes seguros para eles”, acrescentou o comunicado.
Renúncia Bento XVI
Bento XVI, agora com 94 anos, foi o primeiro papa em séculos a renunciar o cargo em 2013. Seu mandado foi ofuscado por um escândalo global de abuso sexual na Igreja Católica e as descobertas dos investigadores – que agora o acusam diretamente em um fracasso para prevenir e punir abusos – ameaçam destruir a reputação do ex-pontífice.
Um advogado Ulrich Wastl apresentou uma cópia da ata de uma reunião dos líderes da Igreja de Munique em 15 de janeiro de 1980, quando foi tomada a decisão de assumiu ao qual o relatório como ”Padre X”.
Em 2010, a arquidiocese de Munique disse que Bento XVI não tinha conhecimento de que um padre que trabalhava na arquidiocese havia cometido abuso sexual.
Em 2019, o ex-papa escreveu um ensaio controverso sobre a crise dos abusos sexuais na Igreja Católica, alegando que ela foi causada em parte pela revolução sexual dos anos 1960 e pela liberalização do ensino moral da igreja.