Diferentes parasitas ativam produção de teias reforçadas em ‘aranhas zumbis’
Pesquisa revela que espécies completamente diferentes podem ser capazes de induzir
a manipulação comportamental de aranhas através da produção de hormônios pré-
ecdise; entenda.
Pesquisadores descobriram que parasitas completamente diferentes, do ponto de
vista evolutivo, utilizam a mesma estratégia para induzir que ‘aranhas zumbis’
reforcem as próprias teias. A construção dessa teia reforçada garante um
ambiente mais seguro para o parasita completar o seu desenvolvimento após a
morte do aracnídeo.
O artigo, que foi publicado no Biological Journal of the Linnean Society, no
último dia 25, explora a relação das vespas de Darwin (família Ichneumonidae),
das vespas caçadoras (família Pompilidae), das moscas parasitas (família
Acroceridae) e dos fungos parasitas (gênero Gibellula) com diversas espécies de
aranhas.
Naturalmente, quando essas aranhas estão prestes a realizar a ecdise, que é a
troca do exoesqueleto, constroem uma teia reforçada para minimizar o risco de
queda durante o processo, à medida que ficarão mais vulneráveis.
“O nosso estudo propõe que grupos completamente diferentes de parasitas
descobriram uma forma de induzir a ecdise em um momento em que as aranhas não
estariam fazendo isso”, explica Thiago G. Kloss, do Departamento de Biologia
Geral da Universidade Federal de Viçosa, que foi o biólogo orientador do estudo.
Dessa forma, as vespas e moscas, depois de matarem as aranhas, conseguem
utilizar a teia modificada para fixarem os casulos, que permanecem aderidos à
estrutura até a emergência do adulto. Assim, a teia modificada oferece maior
proteção para a pupa desses insetos hospedeiros.
“A teia modificada é essencial para manter o cadáver da
aranha fixado na vegetação, geralmente na face inferior das folhas, evitando sua
queda no solo durante o desenvolvimento do fungo”, diz o pesquisador.
A ciência já sabia desse modo de ‘manipulação comportamental’ entre as vespas
Darwin e as aranhas. Entretanto, a novidade proposta no atual estudo é que
outras espécies de vespas, além de fungos e moscas, criaram a mesma estratégia
de induzir a ecdise antes de matar a aranha hospedeira, sendo isso uma possível
convergência evolutiva.
Os biólogos chegaram a essa conclusão por meio de uma revisão sistemática de
todos os trabalhos publicados sobre o tema, avaliando as semelhanças entre as
teias.
O nosso fato é que a teia das aranhas parasitadas por diferentes grupos de
parasitas é idêntica à teia de ecdise construída normalmente por essas aranhas.
Isso sugere que eles ativam o mecanismo inato da ecdise, mas ainda não
conhecemos os detalhes do mecanismo molecular utilizado por esses parasitas
É por meio do aumento de um hormônio chamado ecdisona que a aranha recebe o
sinal de começar a reforçar a teia pré-ecdise, mas agora o próximo passo é
descobrir como espécies diferentes conseguem induzir a produção desse composto.
O estudo propõe diversas possibilidades que poderão ser investigadas nos
próximos anos.
O trabalho foi liderado pelo aluno Ítalo Mendes Delazari, do Programa de
Pós-Graduação em Ecologia-UFV, tendo também a participação da pós-doutoranda
Thairine Mendes-Pereira, do Departamento de Entomologia-UFV e do aluno Stephen
J. Saltamachia, da University of Louisiana at Lafayette.