A incidência de partos prematuros está aumentando. Atualmente, o Brasil é o 10º país com o maior número absoluto de ocorrências dessa natureza, representando 11,8% dos nascimentos totais até o ano de 2021, em dados da Valor Saúde Brasil. Em Goiânia, profissionais também estão observando o aumento de casos, que possuem relação com a diminuição nos cuidados do pré-natal desde o início da pandemia da Covid-19.
Aumento de partos prematuros em Goiânia
O Diário do Estado solicitou informações a respeito de partos prematuros em maternidades públicas de Goiânia. A assessoria da Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (FUNDAHC) informou que não há esse tipo de categorização geral específica. Portanto, é impossível quantificar tais casos na Capital.
No entanto, algumas maternidades realizaram categorizações individuais. O Hospital e Maternidade Municipal Célia Câmara (HMMCC), no Conjunto Vera Cruz, informou que houve apenas um parto prematuro em 2020. Em 2021, foram 50 partos desta natureza, um aumento de 4900%.
Em 2022, foram 82 partos prematuros no HMMCC, um aumento de 8100% em relação a 2020 e de 64% em relação a 2021. Vale ressaltar que os dados deste ano são apenas parciais, sendo que ainda estamos no mês de julho.
Já na Maternidade Nascer Cidadão (MNC), no Jardim Curitiba III, o coordenador médico do local afirmou que, como a unidade é de baixo risco, não há um número expressivo de partos prematuros.
Por outro lado, no Hospital e Maternidade Dona Íris (HMDI), na Vila Redenção, o coordenador disse ter percebido aumento no número de prematuros na rotina.
Opiniões de profissionais
Jussara Borges Guimarães é enfermeira neonatologista, pós-graduanda em obstetrícia, supervisora de enfermagem de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal – SUS, e consultora em amamentação da Equipe Florescer. De acordo com a profissional, as causas por trás de um parto prematuro podem ser muitas.
Atualmente, a ausência dos cuidados de pré-natal, infecção urinária e hipertensão estão entre os principais motivos. Diabetes, infecções maternas, desde sistêmicas até as que surgem no trato genital, uso de álcool e drogas também entram na lista.
Além disso, segundo Jussara, mulheres estão engravidando mais velhas, por fertilizações e com muitas gestações múltiplas. Em outro extremo, muitas adolescentes cada vez mais jovens estão se despertando para a sexualidade, engravidando ainda na adolescência, entre 13 e 14 anos, o que favorece o elevado número de partos prematuros.
“Não vejo isso diminuir no futuro. Pelo contrário, vejo aumentar, pois cada vez mais a população não irá mudar tais fatores que elevam os números. Continuarão sendo mães mais velhas e/ou muito adolescentes, engravidando através das fertilizações, vivendo uma rotina de estresse, trabalhando muito, alimentando e dormindo mal”, enfatiza a enfermeira.
Os bebês prematuros podem sofrer diversas sequelas. Entre elas, destacam-se especialmente os problemas respiratórios, o baixo peso, dificuldade na amamentação, fraqueza na sucção, falta de reflexo na hora de mamar e alteração na coordenação das funções neurovegetativas.
Consequências da Covid-19
A médica Stephânia Laudares, especialista em pediatria e com pós-graduação em docência do Ensino Superior, ressalta uma outra questão importante sobre partos prematuros.
“Nos últimos tempos, temos visto o aumento de casos possivelmente podendo ser atribuídos a um pré-natal inadequado. Principalmente depois que a pandemia se iniciou, muitos se afastaram do sistema de saúde por medo e preocupação pela Covid-19”, salienta.
A coordenadora geral de redes de atenção à saúde da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), Paula dos Santos Pereira, confirma que a Covid-19 gerou mais prematuridades. Ela também cita que a cultura do parto cesáreo, onde muitas vezes há o agendamento do nascimento, que pode ocorrer de forma prematura, também interfere.
Maneiras de sair dessa situação
De acordo com Paula Pereira, apesar de ser um cenário preocupante, é perfeitamente possível contornar o panorama de aumento de partos prematuros. O planejamento reprodutivo, aliás, é uma das estratégias centrais para auxiliar as famílias a se preparar para uma gestação no momento certo.
“A mudança desse cenário é possível com a melhor qualidade do pré-natal e com o investimento na atenção primária à saúde, na qualificação dos profissionais. Assim, identificam-se agravos para cuidar no tempo certo a fim de evitar a prematuridade e até os óbitos”, reforça.