Músico que se segurou em corrimão de metrô para fugir de enxurrada pensou que morreria: ‘Não tinha por onde escapar’
Bruno Marcolino de Farias, de 28 anos, estava com sua esposa na estação Jardim São Paulo – Ayrton Senna, Zona Norte de São Paulo, quando a enxurrada invadiu o local. A Linha 1-Azul funcionou parcialmente após o temporal e voltou a funcionar normalmente nesta segunda (27).
Chuva deixa estação de metrô alagada e passageiros se agarram nas grades em SP
Chuva deixa estação de metrô alagada e passageiros se agarram nas grades em SP
O músico e professor de dança Bruno Marcolino de Farias, de 28 anos, relata que viveu momentos de pânico e terror enquanto ficou preso na estação de Metrô Jardim São Paulo – Ayrton Senna, da Linha 1-Azul, durante a forte chuva que atingiu a capital paulista na última sexta-feira (24).
A estação, que fica na Zona Norte de São Paulo, foi tomada pela água. Um vídeo que circula nas redes sociais registrou o momento em que cerca de 20 passageiros se agarraram em um corrimão e em grades da estação para não serem levados pela forte correnteza que invadiu o local.
Bruno e sua esposa, Mariana Miossi Martins, de 34 anos, estavam entre os passageiros que aparecem no vídeo sentados no corrimão (veja acima).
Ele conta que a esposa também é professora de dança. Na sexta, eles iriam para a escola, mas decidiram voltar para casa. Foi na estação que acabaram sendo surpreendidos pela tempestade. O casal ficou mais de uma hora esperando a água baixar e chegou a pensar que não sobreviveria.
“A enxurrada veio do nada e foi o que arrastou pessoas do lado. Ninguém esperava que ia vir um monte de água de uma vez. Foi o que deu pânico. Não tinha por onde escapar. Se viesse mais água, todo mundo morreria porque não tinha como se segurar. Quando veio a grande quantidade, que ficamos sabendo que foi um muro que caiu, veio tudo de uma vez. E a força da água levou as pessoas que não conseguiram se segurar”, afirmou Bruno ao DE.
> “Eu pensava que, se viesse uma enxurrada maior, íamos morrer. Foi a hora que mais deu desespero. A gente ficou em choque sem saber o que fazer, só esperando a morte. Quando vimos aquela quantidade de água e pessoas sendo levadas, pensamos: ‘Vamos morrer agora’.”
Bruno ainda conta que pessoas que não conseguiram subir no corrimão ou nas grades acabaram sendo levadas pela enxurrada. Apesar do susto, elas não ficaram gravemente feridas.
“A água só aumentava, só aumentava. Lá fora chuva forte, muito vento forte, e as placas do metrô caíram. Assustou bastante todo mundo. É por isso que ninguém conseguiu sair também. E foi uma coisa muito rápida. Quem conseguiu ocupar um espaço ali no corrimão sentou para não ficar na correnteza. Algumas pessoas subiram na grade. Outras não conseguiram sentar no corrimão e foram essas que foram arrastadas quando veio de uma vez a enxurrada.”
“Tinham duas crianças e tinha idosa. Uma das crianças estava sentada do nosso lado, chorando muito, desesperada, e a outra também no corrimão. Foi o que salvou, porque se a criancinha tivesse ali, eu acho que a água iria encobri-la e eu não sei se ela ia conseguir sobreviver.”
O músico ainda conta que enquanto estavam presos um policial apareceu para tentar ajudá-los e acalmá-los.
“Não sei como ele conseguiu entrar. Assim que chegou, veio [água] de uma vez, ele quase que foi mas conseguiu se segurar. Ao mesmo tempo que no semblante ele estava desesperado, tentou acalmar. Até sobre as pessoas que foram levadas, ele explicou que elas iam ficar mais para baixo e levantar. O policial deu um jeito de sair pela grade e levar a criança para outro lugar, para outra saída”, conta.
“E na hora a gente pensava: ‘Se segurar no máximo’. Estávamos em cima, sentados no corrimão. Pensamos então: ‘Vamos nos segurar com a força que puder.’ Na hora é muita adrenalina e a gente não conseguia pensar em nada a não ser se segurar. A sorte é que eu e minha esposa estávamos juntos e um foi acalmando o outro”, ressaltou.
Bruno ainda afirma que, enquanto todos estavam nessa situação, não havia nenhum suporte para emergência vindo do Metrô.
“Percebemos que não havia plano para emergências como essa. Os funcionários sumiram, e a gente não teve nenhum suporte. A desgraça não aconteceu porque a chuva parou. Se a gente tivesse mais alguns minutinhos de chuva com certeza iria alagar aquilo tudo. Depois a gente ficou pensando quanta coisa poderia ter acontecido… algum fio elétrico cair na água eletrocutando todo mundo, o corrimão que a gente estava quebrar e também levar todo mundo.”
E complementa: “Parece que foi tudo bem, mas não foi. Acho que [a prefeitura] tem que acompanhar essas pessoas, as crianças que ficaram em pânico também. Como é que vai ficar isso psicologicamente? Será que alguém pegou alguma doença, alguma infecção?”
### O QUE DIZ O METRÔ
Funcionários que trabalharam na limpeza da estação Jardim São Paulo durante o fim de semana, após a enxurrada de sexta-feira (24). — Foto: Divulgação
Em nota, o Metrô de São Paulo informou nesta segunda-feira (27) que a Linha 1-Azul voltou a operar em toda sua extensão, de Jabaquara a Tucuruvi.
Segundo a empresa pública, as estações Tucuruvi, Jardim São Paulo e Parada Inglesa foram reabertas às 23h05 do domingo, totalizando 55 horas de paralisação, por conta do temporal que atingiu a capital paulista na sexta-feira (24).
Cerca de 200 pessoas trabalharam na drenagem, na limpeza e nos reparos para garantir a operação da linha. Desde o final da tarde de sexta, os trens circularam somente no trecho entre as estações Jabaquara e Santana do Metrô.
Segundo a companhia, será reforçada a estrutura de “um muro do acesso, que sucumbiu com a força da água, não impedindo a inundação da estação Jardim São Paulo”.
### O QUE DIZ O PREFEITO
‘É humanamente impossível conter’, diz Nunes sobre temporal que caiu em estação de São Paulo
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou no sábado (25) , sobre a enxurrada que atingiu a região da estação Jardim São Paulo, que não havia o que fazer na região para deter a força da água.
> “Num volume de água igual aquele [na estação São Paulo do Metrô], não adianta, você vai ter problema. É humanamente impossível conter, com a quantidade de água e aquele volume, no mesmo local em um espaço curto de tempo. Ali é um vale. Tivemos situações no passado de ter essa situação, agora é trabalhar para fazer bombeamento”, afirmou Nunes.
“A gente precisa ser muito transparente, com aquela quantidade de água, colocou um rio ali. Podia fazer o que fosse, não teria condições de evitar os danos. Infelizmente são situações do clima que tem acontecido e a gente tem que estar preparado. Agora é fazer ações, pegar o mapa de drenagem e fazer bombeamento como a gente tem o sistema no túnel do Anhangabaú. Mas sinceramente falando, com aquele volume de água, não teria nenhum mecanismo que pudesse evitar aquele tipo de transtorno”, avaliou.
Confira abaixo imagens do cenário enfrentado em São Paulo: [imagens]