Perereca-de-folhagem Phasmahyla exilis: defesa em mudança rápida de cor

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Rara perereca-de-folhagem usa mudanças rápidas de coloração como defesa

Juvenis da Phasmahyla exilis alternam de forma curiosa estratégias de sobrevivência.

1 de 5 Fotos da espécie Phasmahyla exilis — Foto: Alexander Tamanini Mônico

Fotos da espécie Phasmahyla exilis — Foto: Alexander Tamanini Mônico

Imagine estar caminhando pela Mata Atlântica à noite e encontrar uma pequena perereca verde, imóvel sobre uma folha. Ao se aproximar, ela começa a mudar de cor. Rapidamente exibe tons de marrom, vermelho ou laranja.

Pesquisadores registraram esse comportamento em juvenis da Phasmahyla exilis, espécie rara de perereca-de-folhagem, endêmica da Mata Atlântica. O fenômeno, conhecido como polifenismo de cor, é a capacidade de alterar a coloração da pele em resposta a estímulos ambientais ou comportamentais.

> “A mudança de cor pode desempenhar diferentes funções, dependendo do contexto e da espécie. Em alguns anuros, na ausência de predadores, a coloração é típica do ambiente, funcionando como camuflagem. No entanto, quando detecta a presença de um predador, o animal pode adotar uma coloração de alerta (aposematismo), como observado na perereca Phasmahyla exilis”, explica o biólogo Ubiratã Ferreira Souza, pesquisador de anfíbios.

Nesse caso, a mudança é dinâmica e rápida, ocorrendo pela reorganização dos cromatóforos ao perceber o predador. Quando o estímulo desaparece, o animal retorna à sua coloração habitual, geralmente verde, que facilita a não detecção no ambiente natural.

“Dessa forma, a perereca se beneficia de duas estratégias de cor distintas: a camuflagem, que dificulta a detecção pelo predador, e o aposematismo, que serve como alerta visual sobre seu potencial perigo”, acrescenta ele.

UM RECURSO VERSÁTIL

Nem todas as pererecas mudam de cor pelo mesmo motivo. Algumas, como a Bokermannohyla alvarengai, variam de tons claros a escuros para regular a temperatura corporal, absorvendo menos calor sob o sol forte.

Outras, como a Boana prasina, mudam de verde para marrom conforme a estação, camuflando-se na vegetação seca ou úmida. Já a asiática Dryophytes japonicus ajusta seu tom para acompanhar a cor do substrato onde está pousada.

2 de 5 Boana crepitans — Foto: Ubiratã Souza

Boana crepitans — Foto: Ubiratã Souza

Entre as pererecas-de-folhagem, Phasmahyla exilis e Phasmahyla guttata se destacam pela rápida mudança de coloração diante de predadores. A transição brusca do verde para o vermelho pode confundir e afastar o animal que ameaça a sobrevivência dessas espécies.

Em algumas pererecas, apenas regiões normalmente não visíveis do corpo apresentam cores chamativas. Quando ameaçadas, esses animais adotam posturas defensivas que expõem essas áreas coloridas, produzindo um efeito de surpresa. É o caso de anuros como Leptodactylus rhodomystax, Physalaemus nattereri e Physalaemus deimaticus, que revelam manchas semelhantes a olhos de animais maiores — um recurso visual capaz de inibir a aproximação de predadores.

3 de 5 Edalorhina perezi exibe coloração que ajuda a afugentar predadores — Foto: Ubiratã Souza

Edalorhina perezi exibe coloração que ajuda a afugentar predadores — Foto: Ubiratã Souza

O PAPEL DAS CÉLULAS CROMATÓFORAS

Os dados por trás dessas transformações está nas células cromatóforas, que contêm pigmentos ou refletem luz de forma diferenciada. Dependendo da espécie, a densidade e a responsividade dessas células determinam se a mudança será instantânea ou gradual. Veja:

Mudança rápida: comum em respostas antipredatórias; ocorre em segundos.
Mudança lenta: associada a fatores ambientais estáveis, como luz e temperatura; leva minutos ou horas.

Apesar dos avanços, ainda não está totalmente claro para os cientistas como diferentes cromatóforos interagem para criar padrões tão variados, nem se uma mesma espécie pode responder a mais de um tipo de estímulo – por exemplo, tanto à presença de predadores quanto a variações de luz ou temperatura.

Segundo Ubiratã, ainda há muitas perguntas sem resposta. Por exemplo, qual o papel da comunicação entre indivíduos, já que um exemplar mudando de cor parece “estimular” os outros a fazer o mesmo? Ou mesmo, como fatores como idade, sexo e histórico de exposição a predadores influenciam esse comportamento?

4 de 5 Coloração noturna de Pristimantis guianensis — Foto: Igor Fernandes

Coloração noturna de Pristimantis guianensis — Foto: Igor Fernandes

5 de 5 Coloração diurna de Pristimantis guianensis — Foto: Alexander Mônico

5 de 5 Coloração diurna de Pristimantis guianensis — Foto: Alexander Mônico

Estudos mais detalhados podem ajudar a entender não apenas os mecanismos fisiológicos, mas também como a mudança de cor evoluiu em diferentes linhagens de anfíbios e até revelar padrões semelhantes em espécies não aparentadas, mas que enfrentam desafios ambientais parecidos.

Enquanto isso, na mata, as pequenas pererecas seguem utilizando sua “linguagem visual” para sobreviver. Um lembrete colorido de que, na natureza, aparência também é defesa.

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