Pererecas gays? Cientistas descobrem comportamento reprodutivo inédito entre machos de espécies diferentes. Animais foram flagrados realizando ‘abraço nupicial’. A tentativa de cópula pode ser indicativo de degradação ambiental, segundo pesquisadores.
Pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) se depararam com um comportamento inédito entre perereca machos. Indivíduos de duas espécies diferentes, Boana albomarginata e Boana raniceps, foram vistos em posição de “abraço nupcial”.
O flagra foi feito em março deste ano durante uma pesquisa de campo em uma área de Mata Atlântica em São Lourenço da Mata, no Grande Recife. O comportamento, conhecido na literatura científica como amplexo, é usualmente performado entre fêmeas e machos antes da cópula.
“O macho realiza [o abraço nupcial] na fêmea, para que eles deem início ao processo reprodutivo em que ela coloque os óvulos e ele coloque os espermatozoides. E daí tem a fecundação”, explicou o universitário João Cunegundes, que integra a equipe do Laboratório de Estudos Herpetológicos e Paleoherpetológicos (LEHP), sob orientação do professor doutor Geraldo Moura.
Já existem registros na literatura científica de pererecas machos que confundem a fêmea com outros machos ou objetos. Porém, essa foi a primeira vez que o fenômeno foi observado entre essas duas espécies. Os pesquisadores também perceberam que, durante a tentativa de cópula das pererecas, o espécime de B. raniceps emitia um som.
Tanto machos quanto fêmeas podem emitir esse tipo de canto, que é normal durante tentativas de cópulas. No entanto, a novidade encontrada pelos cientistas da UFRPE foi que a vocalização feita naquela ocasião era diferente das já registradas para a espécie. Esse novo canto, ao ser categorizado, pode servir como marcador taxonômico, ou seja, a característica pode ser utilizada pelos cientistas para identificar a espécie.
A tentativa de cópula entre as pererecas macho foi observada durante cerca de 30 minutos pelos pesquisadores. Mesmo que essas interações não sejam prejudiciais para alguns indivíduos, elas podem impactar negativamente os machos, pois eles perdem tempo tentando copular com o indivíduo errado. Além disso, durante a tentativa de coito, os animais podem ficar mais vulneráveis à predação. A pesquisa também discute as possíveis causas desse comportamento inesperado.
“Pelo fato de a degradação ambiental afetar as comunidades, a diminuição das fêmeas pode fazer isso. Nesse caso em específico, a gente trouxe a parte da degradação ambiental. E, às vezes, eles [pererecas] também não enxergam muito bem. São vários fatores”, pontuou João Cunegundes.