COP30, Brics e acordo Mercosul-União Europeia adiado: relembre destaques do ano
da diplomacia do Brasil
O Brasil teve uma intensa agenda internacional sediando eventos como as cúpulas
dos Brics e a COP30 e enfrentando o desafio de negociar a retirada do tarifaço
dos Estados Unidos.
A diplomacia brasileira encerra 2025 com o adiamento da assinatura do acordo do
Mercosul com a União Europeia. O ano
marcou uma intensa agenda internacional do Brasil seja sediando eventos como as
cúpulas dos Brics, no Rio de Janeiro (RJ), e da COP30, em Belém (PA), ou negociando o tarifaço dos Estados Unidos.
O DE conversou com o embaixador Maurício Lyrio, negociador do Brasil nos Brics e
na COP30. É secretário de Clima e Meio Ambiente do Ministério das Relações
Exteriores. Já foi secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros e integrou a
equipe brasileira de negociação do Mercosul.
ATUAÇÃO NO MERCOSUL
O Brasil presidiu o Mercosul ao longo do segundo semestre de 2025
e esperava ter entregue a presidência do bloco para o Paraguai, no sábado (20),
com o acordo com a União Europeia assinado.
Negociado há 26 anos, o tratado pode ampliar o acesso a mercados, reduzir
tarifas e fortalecer as relações comerciais entre a América do Sul e a Europa. Do lado europeu, porém, ainda não há consenso.
A conclusão foi adiada para 2026. O Paraguai ficará responsável por conduzir as
negociações do Mercosul no próximo semestre.
Os países do Mercosul já fecharam questão pela assinatura do acordo. A
negociação foi concluída em dezembro de 2024, durante reunião em Montevidéu com
a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da presidente da
Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Apesar da dificuldade da União Europeia de chegar a um consenso, Lyrio destaca
que o Mercosul mantém uma agenda externa ativa.
O bloco já firmou mais de dez acordos comerciais ao longo de sua história. No
terceiro mandato de Lula, assinou um acordo com Singapura e concluiu a
negociação com a União Europeia após mais de uma década sem novos tratados.
Na avaliação do diplomata, o principal desafio do Mercosul hoje não está fora do
bloco, mas dentro dele: aprofundar o alinhamento entre os países-membros.
Segundo Lyrio, medidas unilaterais adotadas por potências afetam os países do
Mercosul de forma desigual e aumentam a pressão para negociações individuais,
especialmente com os EUA. Soma-se a isso a divergência ideológica entre governos
da região.
Ainda assim, ele afirma que o Brasil tem conseguido manter diálogo com
lideranças de diferentes espectros políticos. Para o diplomata, ampliar acordos
externos também fortalece o bloco internamente, ao criar compromissos comuns.
COP30
O Brasil segue na presidência da COP30 até a próxima conferência, no fim de
2026. A edição realizada em Belém reuniu mais de 42 mil participantes de 195
países.
A COP termina sem acordo sobre combustíveis fósseis enquanto ciência prevê
aquecimento acima de 1,5°C encerrou-se com um alerta claro da ciência. O balanço
das negociações mostra que ainda um longo caminho para cumprir os objetivos
climáticos estabelecidos até aqui.
Apesar das críticas e da frustração de cientistas e ambientalistas com o
resultado, Lyrio avalia que, diante do contexto geopolítico, houve avanços
relevantes.
BRICS
Durante a presidência brasileira do Brics, em um contexto de intensificação dos
conflitos globais, o embaixador diz que o país buscou reforçar a cooperação em
áreas ligadas ao desenvolvimento social e econômico.
Um dos principais resultados foi o lançamento da parceria para a erradicação de
doenças socialmente determinadas, comuns em países em desenvolvimento. A
iniciativa colocou a saúde no centro da agenda do grupo.
A agenda climática também foi tema. O Brasil trabalhou para construir uma
posição comum do Brics sobre mudança do clima, o que ajudou a pavimentar as
negociações da COP30. Segundo Lyrio, os países do grupo foram aliados centrais
do Brasil nos momentos mais decisivos da conferência.
Ao avaliar a imagem do país no exterior, Lyrio afirma que o Brasil voltou a
exercer liderança na defesa de soluções coletivas para desafios globais.
Combate à fome, agenda climática e defesa do comércio internacional estão entre
os eixos centrais da política externa.
Segundo ele, essa linha deve se manter em 2026, com foco no desenvolvimento
social, na redução das desigualdades, no acesso a financiamento para países em
desenvolvimento e no enfrentamento da crise climática, temas que continuarão no
centro da atuação internacional brasileira enquanto o país mantiver a
presidência da COP30.




