Uma pesquisa inédita realizada pelos alunos de pós graduação do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás, revelou que profissionais acabam naturalizando a violência obstétrica e a justificam como culpa da própria mulher.
Os alunos estudaram o significado atribuído à violência obstétrica por médicos e enfermeiros vinculados à rede pública de saúde. Dos profissionais que foram acompanhados, a maioria admitiu a violência como parte do cotidiano das unidades de saúde, apesar de negar as agressões como fruto de sua própria ação. A outra parcela, no entanto, mencionou a terminologia como descabida, criada para degradar os profissionais.
Os médicos e enfermeiros mais antigos e tradicionais foram os que apresentaram dificuldades para entender o que seria a violência obstétrica. Também não demonstraram compreensão aprofundada sobre a humanização do parto.
Mesmo entre os profissionais de saúde que reconheceram a violência obstétrica, não foram todos os tipos de agressões percebidas como práticas rotineiras. Além do abuso físico e verbal, a pesquisa também identificou um tipo de violência mais sutil e imperceptível, chamada de discriminação. Caracterizada como a atitude de desqualitficação da mulher, como se ela não fosse capaz de compreender o parto e sua condução.
De acordo com o estudo, a conduta do profissional se move entre atitudes que buscam a humanização no atendimento e ações que tentam minimizar o protagonismo da mulher, dando margens ao aparecimento das violências.
Um fator motivacional para a realização da pesquisa foi a rotina de alta demanda das unidades de Saúde Pública – onde a pesquisa foi realizada – que exigem um atendimento rápido e um parto acelerado por procedimentos, a precariedade dos recursos humanos e físicos, a falta de capacitação foram alguns dos motivos elencados pelos profissionais de saúde como potencializadores das situações de violência. Outro condicionante citado foi a falta de informação da mulher sobre o período da gravidez, parto e pós-parto, resultado de um pré-natal falho.
Segundo uma das pesquisadoras, Mayara Guimarães, os profissionais reclamam que a mulher não tem a compreensão sobre o que é um trabalho de parto, como e quando ele se inicia. Afirmam que elas chegam sem documentos e ali na emergência não têm tempo de orientá-las da forma adequada.
De acordo com resultados da pesquisa, os profissionais de saúde sabem que a violência existe, vivenciam-na e, de alguma forma, naturalizam-na e a justificam como culpa da mulher. Deixando claro os resultados a culpabilização da mulher e a violência de gênero.