Mais da metade das crianças e adolescentes da rede pública do RJ estudaram em áreas dominadas pelo crime organizado
Unicef, Geni/UFF e Fogo Cruzado divulgam pesquisa em que mostram que 800 mil menores de idades sofrem com ações do crime organizado no dia a dia de aulas. De acordo com estudo, houve mais de 4.400 tiroteios próximo às unidades escolares.
Uma população de estudantes à mercê do crime organizado, foi o que constatou a pesquisa Educação Sob Cerco: as escolas do Grande Rio, divulgada nesta quinta-feira (29). De acordo com os dados, cerca de 800 mil estudantes cursaram o ensino fundamental em escolas localizadas em áreas conflagradas no Rio.
Até 2022, mais de 4.400 tiroteios interromperam as aulas em unidades escolares.
De acordo com o levantamento, na cidade do Rio, 55% das crianças e adolescentes cursam os ensinos fundamental e médio, das redes municipais e estadual. Na Região Metropolitana e na Baixada Fluminense esse número chega a 48%. O levantamento trata da cidade do Rio e de 19 municípios da Baixada Fluminense e da Região Metropolitana.
O estudo foi feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Instituto Fogo Cruzado.
O período estudado foi escolhido por ser o ano em que os pesquisadores tiveram acesso integral aos dados fornecidos pelos órgãos do governo estadual.
Alunos de escola na Maré se deitam no chão para se proteger de tiros — Foto: Reprodução/Globo
O documento analisa o impacto do controle territorial armado por traficantes de drogas e milicianos sobre escolas públicas. Alunos, pais, professores e funcionários à mercê do crime.
“Esses dados são alarmantes e têm contornos ainda mais preocupantes quando comparamos o impacto da violência armada entre estudantes das diferentes regiões do Grande Rio. Essa situação reforça as desigualdades já conhecidas, mas também a necessidade de promover maior integração entre as políticas de segurança pública e educação para lidarmos com os efeitos do controle territorial armado no acesso à educação”, afirma Flavia Antunes, chefe do escritório do UNICEF no Rio de Janeiro.
De acordo com os dados, a Zona Norte concentrou o maior número de casos. Escolas da região estavam submetidas por tiroteios em 1.714 vezes. O número da Baixada Fluminense chegou a 1.110.
“Vivemos em um estado que registra níveis inaceitáveis de confrontos. Mas eles não acontecem da mesma maneira e com a mesma intensidade em todos os locais. Hoje podemos identificar padrões da violência armada que podem ajudar a priorizar áreas de intervenção do poder público e que demonstram como a participação da polícia nos confrontos pode ser decisiva em alguns locais”, afirma Maria Isabel Couto, diretora do Instituto Fogo Cruzado.
Segundo Maria Isabel, informações como essas são instrumentos para ajudar a combater desigualdades futuramente, e negá-las é negar o direito igual à educação.
“As duas dimensões da violência armada do Rio de Janeiro, a crônica e a aguda, precisam ser enfrentadas com urgência. O primeiro passo este relatório já oferece, ou seja, uma caracterização precisa dessas dimensões da violência armada e o apontamento de soluções específicas para cada uma delas. Mas é necessário seguirmos para o segundo passo, da atuação concreta na proteção de crianças e adolescentes”, comenta Daniel Hirata, do Geni/UFF.