Da altura de um prédio de 22 andares: Pesquisador da UFV descreve emoção ao descobrir maior jequitibá-rosa do Brasil
Árvore foi encontrada na Reserva Biológica da Mata Escura, na região do Vale do Jequitinhonha, na expedição liderada pelo professor Fabiano Rodrigues de Melo, da UFV. O grupo, no entanto, visitava a região para monitoramento de macacos da espécie muriqui-do-norte e acabou surpreendido pela localização da maior árvore da Mata Atlântica.
Pesquisador da UFV conta como foi encontrar o maior jequitibá-rosa do Brasil
Pesquisador da UFV conta como foi encontrar o maior jequitibá-rosa do Brasil
No meio de uma mata fechada em busca do maior primata das Américas – o muriqui-do-norte, o professor e pesquisador Fabiano Rodrigues de Melo, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), não podia imaginar que identificaria outra preciosidade: o maior jequitibá-rosa do Brasil e a maior árvore da Mata Atlântica.
A descoberta foi na Reserva Biológica da Mata Escura, localizada entre as cidades de Jequitinhonha e Almenara, no norte de Minas, que abriga um raro remanescente de Mata Atlântica e onde o pesquisador da UFV realiza expedições desde 1999.
O jequitibá tem 65 metros de altura e mais de 5 metros de diâmetro. Para efeitos de comparação, corresponde a um prédio de aproximadamente 22 andares e dois carros perfilados, respectivamente. A estimativa é que o “gigante” da floresta tenha 300 anos de vida.
Fabiano, que faz expedições pelos quase 51 mil hectares em busca dos muriquis, uma das espécies de macacos mais ameaçadas do Brasil, confessou que não esperava estar à frente da descoberta do jequitibá.
> “Em 2022, passamos por essa árvore. Naquele dia curiosamente achamos um macho de muriqui adulto passando naquela região [do vale da árvore], mas estava de tarde e já estava fazendo sombra na região, não dando para ver a árvore direito. Desta vez, voei com o sol batendo no vale e percebi a dimensão do tronco da árvore principal. Isso me assustou e vi que era uma árvore muito grande.”
Conforme ele, não há outra árvore da espécie desta mesma dimensão catalogada no país, situação que pode ser justificada pela destruição de quase 90% da cobertura do bioma.
“Encontrar uma árvore desse porte é excepcional. Árvores seculares ou até mesmo milenares tendem a cair com tempo por causa do tamanho, da idade. Elas podem apodrecer, ter doenças e acabam perecendo, mas de fato, na Mata Atlântica, o que mais aconteceu, infelizmente, foi a derrubada de florestas ao longo desses séculos. Então, a gente praticamente perdeu aquela originalidade da floresta. As árvores maiores, normalmente de madeira boa, foram retiradas, consumidas. Boa parte da Mata Atlântica foi perdida.”
DRONES FORAM FUNDAMENTAIS PARA A DESCOBERTA
Após ficar muitos anos sem retornar ao Vale do Jequitinhonha, o pesquisador voltou a fazer o monitoramento dos muriquis na região em 2022, com auxílio de drones.
“A reserva fica em uma região muito montanhosa. Temos um terreno muito íngreme, principalmente nos vales encaixados, que são compridos e muito extensos, com o que há de melhor em termos de florestas primárias da Mata Atlântica. Mas é muito difícil andar, porque não tem trilhas, são morros em declives muito acentuados. Dez dias não são suficientes para conhecer a unidade de conservação”, explicou ele sobre a região e sobre a necessidade de recorrer às novas tecnologias.
“No dia 18 de fevereiro voei com o drone já com o sol quente e estava bem desanimado devido ao calor. Mas isso foi o fator determinante para eu encontrar o jequitibá gigante, porque, como ele era muito alto em relação as outras árvores, os galhos já estavam aquecidos pelo sol. A câmera térmica distinguiu muito bem a copa da árvore, aquilo me chamou atenção por ser muito grande e pensei que precisava fazer mais imagens para confirmar”, relatou.
“Fiquei realmente impressionado com a copa e com a altura dela em relação às outras árvores que estavam ali. Eu já voo com drone desde 2017 e nunca tive essa sensação que precisava medir uma árvore por ser tão grande”.
DUAS GIGANTES ENCONTRADAS NO MESMO LOCAL
Conforme o professor, após uma semana, os pesquisadores chegaram à metragem oficial do jequitibá: 60 metros de altura por 5,80 metros de largura, que já quebrava o recorde do maior exemplar já catalogado na Mata Atlântica – na cidade de Ipaba, também em Minas Gerais.
Eles, no entanto, se surpreenderam ao encontrar um jequitibá ao lado, com medições ainda maiores. Junto da árvore gigante, estava outra, com os 65 metros de altura e mais de 5 metros de diâmetro.
“Eram quase 1.800 metros de declive. Foi muito puxado, tanto para subir como para descer. Ficamos quase um dia inteiro para ir e voltar”, relatou ele, sobre a expedição e descoberta dos exemplares. O achado foi comemorado e postado nas redes sociais.
“É uma beleza e uma riqueza da Mata Escura, que tem o de melhor da Mata Atlântica. Tem um bom tempo que a reserva foi criada e só agora a árvore foi localizada. E foi identificada por um drone. Isso mostra como essa floresta está protegida e preservada e como mantê-la para a prosperidade”, celebrou.