Pianista brasileiro Tenório Jr., desaparecido na ditadura argentina, tem certidão de óbito emitida após 50 anos

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Brasil emite certidão de óbito de pianista brasileiro desaparecido às vésperas do golpe militar na Argentina

Francisco Tenório Cerqueira Júnior estava em Buenos Aires para uma série de concertos com Vinicius de Moraes. Ele desapareceu em 18 de março de 1976 e a comparação de impressões digitais permitiu identificá-lo mais de 40 anos depois.

Depois de 50 anos, Argentina identifica corpo de pianista morto em Buenos Aires

A certidão de óbito do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior, conhecido como Tenório Jr., foi emitida pelo 4º Ofício do Gama, no Distrito Federal. A informação foi confirmada ao DE [https://DE.globo.com] nesta terça-feira (23) pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Ainda segundo a pasta, o documento foi expedido após um pedido da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.

O corpo do pianista só foi identificado em setembro deste ano, 49 anos após o seu desaparecimento em Buenos Aires. A confirmação veio por meio de exames de impressões digitais realizados com apoio da Justiça argentina e da Embaixada do Brasil.

Tenório Jr. desapareceu em março de 1976, às vésperas do golpe militar argentino, em um contexto de repressão coordenada pelas ditaduras sul-americanas, conhecido como Operação Condor (veja detalhes abaixo).

Também em setembro deste ano, a família do artista recebeu o laudo oficial que aponta a causa da morte. Segundo o documento, ele foi executado com cinco tiros: um na cabeça, dois no braço esquerdo e três no tronco do músico.

“Tenório Jr.: quem foi o pianista, parceiro de Vinicius de Moraes, sumido na ditadura argentina e identificado morto 50 anos depois”

QUEM FOI TENÓRIO JR.

1 de 1 Corpo de pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Jr. morto pela ditadura argentina é identificado — Foto: Reprodução

Corpo de pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Jr. morto pela ditadura argentina é identificado — Foto: Reprodução

Francisco Tenório Cerqueira Júnior nasceu no Rio de Janeiro em 4 de julho de 1940, no bairro das Laranjeiras. Aos 15 anos, iniciou sua formação musical com acordeão e violão, até se dedicar ao piano — instrumento que o consagraria como um dos maiores nomes do samba-jazz e da bossa nova.

Na década de 1970, tornou-se figura central no Beco das Garrafas, reduto da música instrumental brasileira em Copacabana. Com estilo sofisticado e domínio técnico, Tenório Jr. participou de festivais, turnês e gravações históricas, deixando sua marca em álbuns antológicos.

Tenório Jr. colaborou com grandes nomes da música brasileira, como Vinicius de Moraes, Toquinho, Wanda Sá, Leny Andrade e Edson Machado. Era conhecido por sua habilidade como acompanhante em shows e gravações, contribuindo para a consolidação da bossa nova e do samba-jazz.

Em março de 1976, o pianista embarcou em uma turnê pela Argentina e Uruguai ao lado de Vinicius de Moraes, Toquinho, Mutinho e Azeitona. Após uma apresentação no Teatro Gran Rex, em Buenos Aires, saiu do hotel Normandie e nunca mais voltou.

DESAPARECIMENTO

Segundo investigações, Tenório Jr. foi confundido com um militante político e detido por agentes do serviço secreto da Marinha argentina. Ele teria sido levado para a Escola de Mecânica da Armada (ESMA), centro clandestino de detenção e tortura, onde foi mantido por nove dias antes de ser executado.

Seu corpo foi encontrado em 20 de março de 1976 em um terreno baldio e enterrado como indigente no Cemitério de Benavídez. Na época, o desaparecimento teve pouca repercussão no Brasil, devido à censura imposta pela ditadura militar.

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