Picape de 2,4 Toneladas Voou a 10 Metros em Duna: Impacto de 26 Toneladas no Solo

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“Voo” a 10 metros de altura e impacto de 26 toneladas no solo: por que picape
ficou destruída após manobra em duna

O DE ouviu professores de Física para explicar os conceitos por trás do salto da
picape nas dunas. Apenas o motorista, Valécio Nogueira Granjeiro, ficou ferido.
Ele foi multado em R$ 2.934 e é investigado por crime ambiental.

Picape de 2,4 toneladas que voou em duna teve impacto de várias toneladas ao
tocar solo

Picape de 2,4 toneladas que voou em duna teve impacto de várias toneladas ao
tocar solo

A picape filmada praticamente voando sobre uma duna em Canoa Quebrada,
no município de Aracati, estava
a mais de 130 km/h quando se descolou do solo e foi projetada no ar. Com isso, o
veículo chegou a cerca de 10 metros de altura. Os dados foram obtidos pelo
professor de Física, Astronomia e Ciências, vinculado à Secretaria da Educação
do Ceará (Seduc), Luan Angelo.

OITOS SEGUNDOS NO AR: A TRAJETÓRIA

Luan analisou o vídeo quadro a quadro com o software Tracker, ferramenta que
permite transformar pixels em medidas reais. Com base nas dimensões da Ford
Ranger Raptor, foi possível estimar altura máxima atingida pela picape, a
velocidade no momento em que ela se desprende da duna e a força do impacto ao
tocar o solo.

Conforme a análise, ao sair da duna, a picape passou a seguir um movimento
oblíquo (quando algo é lançado para cima e para frente ao mesmo tempo),
caracterizado por uma trajetória em forma de parábola — um conceito comum nas aulas de cinemática nas escolas.

Ou seja, assim que o veículo saiu da duna, ele não foi só para cima nem só para
frente — ela fez os dois movimentos ao mesmo tempo. Isso criou uma curva no ar,
uma trajetória parabólica.

Um dado que não é possível calcular a partir do vídeo é o alcance da picape, ou
seja, a distância entre o início e o fim do “voo”. Isso porque a pessoa que
filmou a cena se moveu para acompanhar o trajeto, em vez de ter ficado parada.

O veículo era pilotado pelo empresário Valécio Nogueira Granjeiro, proprietário
de supermercados na cidade de Russas, a 166 quilômetros de Fortaleza.
Devido à manobra, Valécio foi autuado por demonstração de manobra perigosa, uma
infração considerada gravíssima, e levou multa de R$ 2.934. Ele também está
sendo investigado por crime ambiental.

Confira no infográfico abaixo os dados levantados pelo físico, a pedido do DE,
por meio de um software que analisa o movimento a partir de imagens:

1 de 2 — Foto: Arte DE

— Foto: Arte DE

ALTA VELOCIDADE E ‘VOO’ A 10 METROS DE ALTURA

Durante o salto, a picape chegou a cerca de 10 metros de altura — quase a altura
de um prédio de três andares. Segundo o professor Luan Angelo, isso só foi
possível por causa da alta velocidade no momento em que o veículo perdeu contato
com a duna, que pode ter chegado perto dos 150 km/h.

“Se ele [o veículo] tivesse tido uma velocidade menor, o alcance dele teria
sido menor, e ele teria provavelmente colidido ali com o buggy.”, comenta.

O alcance maior também foi possível graças à inclinação da duna, que tinha cerca
de 27º. Uma inclinação diferente também teria diminuído o alcance, podendo ter
feito com que a picape caísse mais perto do ponto inicial.

Ao tocar o solo, a picape sofreu um impacto tão forte que danificou os quatro
pneus, amassou o capô e acionou o sistema de airbag. Segundo o professor Luan, a
veículo atingiu o chão com uma força estimada em mais de 268 mil newtons — o
equivalente a 26,5 mil quilos-força, mais de 11 vezes o peso da própria picape.

“Além do sistema de suspensão desse modelo da picape, que amorteceu o impacto,
também foi na areia. Isso também ajudou a amortecer o impacto. Em um solo
plano e duro, ele [o motorista] poderia ter tido grandes lesões”, comentou Luan.

Segundo Gabriel, é importante lembrar do conceito de força, conforme a segunda
lei de Newton. Na equação que se aprende na escola, a força é igual à massa
multiplicada pela aceleração.

Durante o impacto, outro conceito importante a ser lembrado é o da
terceira lei de Newton: toda ação gera uma reação igual em sentido oposto.
Assim, a força que o veículo exerceu sobre o chão teve a mesma intensidade da
força que o chão exerceu sobre o carro.

Quanto maior e em menos tempo for essa variação da velocidade do carro, maior
vai ser a força que foi aplicada sobre o carro. […] Foi durante o contato
que ele teve com o chão, então foi o chão que aplicou essa força sobre o
carro”, explica Gabriel.

O exemplo do “voo” sobre a duna de Canoa Quebrada vai entrar para o repertório
das aulas do professor Luan Angelo para abordar os conceitos da cinemática.

Colocando situações do dia a dia, isso ajuda o aluno a se interessar e
perceber que a física pode ser utilizada, por exemplo, para determinar
situações perigosas e avaliar os riscos, pensarem também antes de fazer algo
tão perigoso como foi esse caso”, explicou Luan.

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