PM fez cinco alertas sobre invasão aos três poderes, mas foi ignorado

PM fez cinco alertas sobre invasão ao Congresso, mas foi ignorado

Um relatório da Polícia Federal (PF) enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira, 9, apontou que o tenente-coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), Jorge Henrique da Silva Pinto, fez pelo menos cinco alertas a sete autoridades antes da invasão ao Congresso Nacional, no dia 8 de janeiro deste ano. O militar, porém, foi ignorado.

Os avisos foram realizados em um grupo de WhatsApp chamado “Difusão”. De acordo com o documento, havia sete pessoas no grupo, sendo: o coronel da PMDF Fábio Augusto Vieira, os policiais civis do DF Thiago Frederico de Souza Costa e Alberto Barbosa Machado Nunes Rodrigues, o ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres, o secretário de Segurança substituto Fernando de Sousa Oliveira, a delegada da PF Marília Ferreira de Alencar e o tenente-coronel Jorge Henrique da Silva Pinto.

Alertas foram realizados a sete autoridades locais. (Foto: Reprodução/Metrópoles)

O primeiro alerta foi realizado no dia 6 de janeiro, às 18h33. Na ocasião, José Henrique encaminhou, um link de uma espécie de informativo de inteligência, do Portal Athena, vinculado à Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do DF. 

Depois, o militar manda um texto em formato de boletim, aparentemente, oriundo da Subsecretaria de Inteligência (SI), acerca dos acampamentos no Setor Militar Urbano (SMU).

Já o segundo alerta foi realizado no dia 7, quando o tenente-coronel começou a enviar alertas sobre a chegada de bolsonaristas à Brasília, que teriam a intenção de compor o movimento chamado “Tomada do Poder”. Conforme o relatório da PF, ao todo, Jorge Henrique fez sete avisos sobre os atos no grupo. Porém, cinco deles ocorreram antes das invasões.

Avisos

Às 9h09 do dia 7 de janeiro, o militar encaminha, no mesmo padrão de boletim da SI/SSP-DF, um informe de uma “convocação, a nível nacional, para que simpatizantes do movimento patriota se desloquem para Brasília com a intenção de compor o movimento ‘Tomada do Poder’ durante os dias 7 e 8 de janeiro de 2023”.

Ele avisa ainda que, segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), havia a expectativa da chegada de 43 ônibus interestaduais, com 1.622 passageiros, no decorrer do dia.

Já pela tarde, às 14h44, Jorge Henrique envia um novo boletim no grupo Difusão. Na ocasião, ele relata a chegada de 50 ônibus em Brasília, além da presença de aproximadamente 1,5 mil manifestantes no QG do Exército e de algumas pessoas próximas ao Ministério da Saúde (MS). 

De acordo com a PF, o que mais chama a atenção no informativo é o trecho que fala sobre os ânimos dos manifestantes, inclusive com possibilidade de confronto com as forças de segurança.

O dia 7 termina no grupo com o encaminhamento de mais um informe por parte de Henrique, por volta de 23h. Ele envia uma imagem de câmera do Palácio do Buriti mostrando o fluxo normalizado na via N1.

Nessa última atualização, ele aponta a presença de 80 ônibus interestaduais em Brasília, além do público oriundo das caravanas, já em torno de 2,5 mil pessoas. O PM também ressalta a chegada de mantimentos (alimentos, água, material de higiene) e a instalação de diversas barracas de camping e lona no QG do Exército.

No dia 8 de janeiro, o tenente-coronel voltou a atuar no grupo às 14h08. Na mensagem, ele diz que grandes grupos acampados no QG haviam iniciado deslocamento para a Esplanada dos Ministérios. 

Junto com o boletim, Henrique também encaminha vídeo que mostra bolsonaristas caminhando até o centro de Brasília. Naquele momento, já eram 126 ônibus interestaduais presentes na capital para os atos golpistas.

Às 15h13, Jorge Henrique envia no grupo Difusão mais um informativo. Neste, ele chama atenção para o fato de que bolsonaristas estavam improvisando barracas e coberturas com o material que estava no gramado central da Esplanada. Depois, manda imagem que comprova o texto. Esse foi o último aviso do policial militar antes da invasão ao Congresso Nacional.

Já às 15h48, o alerta de Henrique é que manifestantes haviam subido a rampa do Congresso Nacional. Na sequência, ele encaminha imagens das câmeras do Congresso e informa que parte do prédio havia sido invadida. Depois, ele manda outras imagens de câmeras do local e de Ministérios.Às 15h54, o tenente-coronel divulgou novo boletim seguido de outras imagens. Esse é o último aviso que Jorge Henrique Pinto fez ao grupo, que consta no relatório da PF.

Segundo o major da PMDF Flávio Silvestre de Alencar, o número de policiais mobilizados na Esplanada dos Ministérios em 8 de janeiro era insuficiente para conter os manifestantes. Entre 311 policiais sob o seu comando, 178 eram do curso de formação e não tinham qualquer experiência em campo.

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BYD cancela contrato com empreiteira após polêmica por trabalho escravo

Na noite de segunda-feira, 23, a filial brasileira da montadora BYD anunciou a rescisão do contrato com a empresa terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda., responsável pela construção da fábrica de carros elétricos em Camaçari, na Bahia. A decisão veio após o resgate de 163 operários chineses que trabalhavam em condições análogas à escravidão.

As obras, que incluem a construção da maior fábrica de carros elétricos da BYD fora da Ásia, foram parcialmente suspensas por determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia. Desde novembro, o MPT, juntamente com outras agências governamentais, realizou verificações que identificaram as graves irregularidades na empresa terceirizada Jinjiang.

Força-tarefa

Uma força-tarefa composta pelo MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), resgatou os 163 trabalhadores e interditou os trechos da obra sob responsabilidade da Jinjiang.

A BYD Auto do Brasil afirmou que “não tolera o desrespeito à dignidade humana” e transferiu os 163 trabalhadores para hotéis da região. A empresa reiterou seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, especialmente no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores.

Uma audiência foi marcada para esta quinta-feira, 26, para que a BYD e a Jinjiang apresentem as providências necessárias à garantia das condições mínimas de alojamento e negociem as condições para a regularização geral do que já foi detectado.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que sua embaixada e consulados no Brasil estão em contato com as autoridades brasileiras para verificar a situação e administrá-la da maneira adequada. A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em Pequim, destacou que o governo chinês sempre deu a maior importância à proteção dos direitos legítimos e aos interesses dos trabalhadores, pedindo às empresas chinesas que cumpram a lei e as normas.

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