Última atualização 14/05/2024 | 11:18
O Ministério Público de Goiás (PMGO) denunciou sete PMs pelos crimes de tortura e tentativa de homicídio, após investigação da Corregedoria. Os crimes ocorreram em outubro de 2021, mas foram mantidos em segredo por mais de dois anos. A denúncia ainda não foi acatada pelo Judiciário.
Os documentos foram obtidos pelo jornal Metrópoles. A investigação aponta que a vítima, que é Major, foi torturada com varadas, pedaços de madeiras e açoites de cordas durantes três dias seguidos. As agressões ocorreram durante o 12º Curso de Operações Especiais do Bope, na Base Aérea de Anápolis, durante um curso batizado de “Momento Pedagógico”.
Devido as agressões, o major desmaiou e entrou em coma. Ele ficou diversos dias intubado ema Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sendo acompanhado por outro major que se apresentava com médico.
Segundo o MP, a situação médica da vítima foi escondida da família. A internação apenas chegou ao conhecimento da esposa do major após um amigo do marido informar que ficou sabendo da suposta internação da vítima por Covid-19, fato usado pelos militares para esconder as torturas.
A mulher foi as pressas ao hospital e foi recepcionada pelo coronel responsável pelo acompanhamento da vítima. O médico militar chegou no hospital usando uniforme militar e portando arma, e alegou que o major havia sido contaminado com Covid-19, sendo internado com 40% dos pulmões comprometidos. A tomografia que comprovava a situação médica nunca foi apresentada para a família.
Um exame realizado horas depois apresentou que a vítima precisava de hemodiálise, pois os rins estavam comprometidos. Este fato não havia sido informado pelo médico militar, o que aumentou ainda mais a suspeita da mulher. Mais tarde, a esposa percebeu que o marido não estava sendo assistido por nenhum médio intensivista e que estava sozinho em um cômodo de hospital, além de se apresentado na maca com o corpo coberto com uma manta até o pescoço.
A família decidiu transferir o major para um hospital de confiança, mas o médico coronel tentou colocar diversos obstáculos. Após muita insistência, a esposa conseguiu que a vítima fosse transferida para o Hospital Anis Rassi, em Goiânia, onde foram constatadas lesões corporais gravíssimas e exame negativo para coronavírus.
O major recebeu alta no dia 27 de outubro daquele ano, sendo internado novamente após contrair uma infecção pelo cateter do tempo de internação. Ele conseguiu se recuperar e, apesar de fisioterapia, perdeu parcialmente os movimentos de um lado do corpo e 30% dos rins comprometidos.
“A vítima nunca mais foi a mesma, especialmente devido ao sentimento de impunidade em relação aos responsáveis pelo ato e por ter sido ‘desprezado’ por seus companheiros de farda”, escreveu o Ministério Público na denúncia.
Ocultação do crime
Mesmo depois da vítima mudar de hospital, os militares envolvidos nos crimes tentaram destruir provas que comprovassem as torturas sofridas pelo major. Segundo o MPGO, um informante da polícia tentou pegar o prontuário médico da vítima no primeiro hospital em que ele foi internado, em Anápolis, alegando que representava a família. No entanto, ele foi impedido pela esposa do major, que havia ido ao hospital para buscar o mesmo documento. Já outro militar, que não foi denunciado, teria ido ao Hospital Anis Rassi e tentado acessar o quarto em que a vítima estava internada.
“Na ocasião, a esposa da vítima foi informada e se dirigiu até a recepção para conversar com o policial militar, que se recusou a identificar-se, afirmando apenas que lá estaria por determinação do Comando”, diz trecho da denúncia do Ministério Público.
O documento do MPGO denunciou os policiais coronel Joneval Gomes de Carvalho Júnior, tenente-coronel Marcelo Duarte Veloso e coronel David de Araújo Almeida Filho por crimes de tortura, omissão e tentativa de homicídio. Além disso, o capitão Jonatan Magalhães Missel, coordenador do curso do Bope, foi denunciado por torturar diretamente o major e tentativa de homicídio.
O MP pediu que os militares fossem afastados imediatamente de suas funções e que os armamentos portados por eles fossem recolhidos. Em nota, a Polícia Militar de Goiás informou que a investigação do caso foi concluída e encaminhada a Justiça Militar.