Por que abelhas constroem favos em formato de hexágono? A resposta envolve física, biologia e cooperação. Formato dos favos revela como milhões de anos de evolução transformaram esses insetos em mestres da eficiência.
Quando pensamos em abelhas, logo vem à mente a imagem dos favos perfeitamente hexagonais repletos de mel. Mas por que será que essas pequenas engenheiras da natureza escolheram justamente esse formato? A resposta está na ciência e envolve uma combinação de física, biologia, comportamento coletivo e milhões de anos de evolução.
Antes de mais nada, é importante lembrar que existem cerca de 20 mil espécies de abelhas no mundo. Muitas delas nem produzem mel, e algumas nem constroem colmeias. Mas a nossa imaginação costuma se fixar na mais conhecida: Apis mellifera, a famosa abelha do mel. É ela quem constrói as células hexagonais que conhecemos, mas esse formato não começa assim. Na verdade, as células começam redondas, como pequenos cilindros.
Com o calor gerado pelo corpo das próprias abelhas e a proximidade entre as células, a cera se amolece levemente e as bordas se reorganizam, formando hexágonos – uma forma que preenche o espaço por completo, como os quadrados, mas com menos material e maior eficiência estrutural.
ELAS ‘SABEM’ FAZER ISSO? Não exatamente, pois não há um plano arquitetônico. As abelhas seguem regras simples de construção que foram moldadas ao longo do tempo por processos evolutivos. A simetria dos favos surge da ação coletiva: cada abelha trabalha em conjunto com as demais, respeitando um padrão coordenado que favorece a repetição e a eficiência do desenho.
Outros insetos, como algumas espécies de vespas sociais do gênero Polistes, também constroem ninhos com células hexagonais. Isso mostra que a forma é uma solução evolutiva eficiente, adotada por diferentes grupos diante dos mesmos desafios: economizar material, maximizar espaço e garantir estabilidade estrutural.
Do ponto de vista científico, a explicação para os favos hexagonais é multifatorial. O calor gerado pelas abelhas amolece a cera, permitindo que forças semelhantes à tensão superficial ajam nas bordas das células. Ao mesmo tempo, o comportamento coletivo faz com que várias células sejam construídas lado a lado, promovendo o encaixe perfeito. Comportamentalmente, essas abelhas constroem várias células ao mesmo tempo, muito próximas umas das outras, o que naturalmente leva à formação de um padrão regular e compacto.
O QUE OS HUMANOS APRENDERAM COM AS ABELHAS? Segundo o especialista, as abelhas inspiram engenheiros e designers há séculos. O formato dos favos já foi replicado em setores como o aeroespacial, automotivo e até mesmo na fabricação de materiais resistentes e leves usados em embalagens e equipamentos de segurança. Além disso, o comportamento social das abelhas e suas adaptações corporais estão no radar de cientistas da biomimética, um campo que busca imitar soluções da natureza para criar novas tecnologias. Pesquisadores da UFTM, USP e da Universidade de Milão, por exemplo, já estudaram as superfícies corporais de insetos do grupo Hymenoptera (que inclui abelhas, formigas e vespas) para aplicações que vão da robótica, ao monitoramento ambiental e à medicina.
Para Vinicius, conhecer a fundo esses insetos nos ajuda a entender como a natureza encontra soluções eficientes para resolver problemas de diversos tipos. “Ainda há muito a se descobrir sobre esses organismos incríveis, e isso reforça a importância da sua conservação. Estamos perdendo conhecimento, serviços ecossistêmicos e potenciais fontes de inovação tecnológica antes mesmo de compreendê-los plenamente. Por isso, conservar as abelhas é também preservar oportunidades futuras para a ciência e a sociedade”.