Entenda por que os trabalhadores do Ceará têm a segunda pior média salarial do
país
O valor médio recebido no estado é de R$ 2.071 por mês. No Brasil, apenas o
Maranhão tem salários mais baixos.
Recebendo uma média de R$ 2.071 por mês em 2024, os trabalhadores do Ceará têm a
segunda pior média de salários no Brasil e ficam abaixo da média nacional de
rendimento. O Ceará fica atrás inclusive de estados economicamente menos
desenvolvidos, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD) Contínua, do IBGE.
Nesta reportagem, o DE conversou com
pesquisadores e especialistas para entender o motivo de os trabalhadores
cearenses terem a segunda pior remuneração do país.
Segundo a pesquisa, o rendimento real habitual do brasileiro é de R$ 3.225 por
mês, com um aumento de 3,7% em relação ao estimado em 2023.
O Ceará está entre os 18 estados que ficam abaixo dessa média. E amarga o
segundo pior rendimento do país, ficando à frente apenas do Maranhão, que
aparece com rendimento médio de R$ 2.049.
A desigualdade educacional e a alta taxa de informalidade são fatores que ajudam
a explicar esse cenário, conforme João Mário de França, professor do programa de
Pós-Graduação em Economia na Universidade Federal (UFC) e pesquisador do Centro
de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste, vinculado ao FGV IBRE.
Ao analisar o ranking dos rendimentos no país, o pesquisador aponta que os
estados do Norte e Nordeste ocupam as últimas posições e historicamente têm
menor dinamismo econômico e piores resultados em níveis de escolaridade em relação às demais regiões.
Além da baixa escolaridade, o mercado informal também está associado aos piores
salários. Os dados do IBGE também mostram o Ceará entre os sete estados
brasileiros que registraram taxas anuais de informalidade maiores que 50%.
O Ceará aparece na quarta posição deste ranking, com 54,9% de trabalhadores
informais. Como pontua João Mário, esse índice no estado está acima da média
observada no Nordeste, podendo explicar o menor rendimento em relação às outras
unidades da federação.
A tendência à informalidade tem refletido o desestímulo pelas condições de
trabalho no mercado formal, segundo Reginaldo Aguiar, supervisor do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Ceará.
Ele aponta que o Ceará tem taxas de desemprego inferiores a estados nordestinos
com PIB semelhantes, como Pernambuco e Bahia. Para o supervisor, ter mais gente
empregada e com salários médios mais baixos evidencia a precariedade do trabalho
no estado.
Ele aponta que a reforma trabalhista, aprovada em julho de 2017,
enfraqueceu as relações de trabalho e as convenções coletivas, nas quais
sindicatos de empregadores e trabalhadores definem as condições e os direitos
mínimos das categorias.
Continuar os investimentos públicos em educação é um dos caminhos apontados pelo
pesquisador João Mário de França para que a população cearense possa acessar
melhores oportunidades de salários.
Para o professor, outra ação do governo seria buscar requalificar as pessoas
acima de 25 anos que estão no mercado de trabalho sem ter tido acesso à educação
formal completa, contemplando tendências atuais e mecanismos para que ele se
mantenha no mercado.
O turismo, as energias renováveis e a economia digital são vistas por ele como
potenciais para dinamizar o mercado de trabalho cearense.
Para Reginaldo Aguiar, a isenção de impostos para a instalação de empresas no
Ceará é um modelo ultrapassado e que não impacta na melhoria da qualidade do
trabalho para o cearense.
Ele considera que, mesmo recebendo isenção de impostos, estas empresas não têm
investido o suficiente para melhorar as condições de trabalho e os salários dos
funcionários.
Os baixos salários em comparação com outras regiões também podem afugentar as
pessoas que se destacam no Ceará pela alta qualificação.
Conforme o professor João Mário de França, dinamizar a economia local é também
uma saída para evitar a migração de talentos, retendo aqueles que buscam
melhores remunerações, oportunidades de crescimento e a convivência em uma rede
de profissionais igualmente qualificados.