Por que pagar mais caro pela gasolina?

Neste momento em que a inflação apresenta crescimento e no qual é prioritário racionalizar o orçamento familiar e os custos dos transportes, é importante buscar soluções para a redução dos preços de produtos e despesas fixas mensais. Nesse contexto, cabe refletir sobre uma situação peculiar no Brasil, referente à composição da gasolina (refinada ou formulada?), tema sobre o qual se divulgam informações equivocadas, fazendo com que muita gente acabe pagando mais caro por um item com peso significativo nas despesas das pessoas e no IPCA.

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), todas as gasolinas produzidas no Brasil, como no mundo, são formuladas, pois são misturas de hidrocarbonetos. Podem ser fabricadas diretamente nas refinarias de petróleo ou em formuladoras e centrais petroquímicas. Em nosso país, contudo, criou-se um mito de que são diferentes e de que a chamada refinada seria melhor.

Essas informações incorretas, muitas vezes difundidas por postos de abastecimento, acabam desorientando e enganando os consumidores. As empresas formuladoras são responsabilidade pela excelência de seus produtos. As que operam dentro dos padrões de legalidade, devem submetê-los ao controle de qualidade rigoroso existente nas distribuidoras de combustíveis, conforme as normas da ANP. E isso impede a adulteração.

O que se chama de gasolina formulada no Brasil é a produzida fora das refinarias, mas sua qualidade é igual e pode até ser superior. Depende dos atributos e tipos de cada uma, como comum, aditivada ou premium. Os consumidores têm uma alternativa de qualidade e preço mais baixo ao abastecerem seus veículos com gasolinas fabricadas por formuladora. Por que pagar mais caro? Todo combustível é formulado, seja de posto com bandeira ou não.

A gasolina conhecida como formulada, independentemente de não ter sido fabricada numa refinaria, também é boa, desde que atenda à legislação e aos padrões de qualidade estabelecidos pela ANP. As adulterações de combustíveis não ocorrem nas refinarias, nas empresas formuladoras ou nas distribuidoras, mas sim em postos de abastecimento inescrupulosos. Por isso, o consumidor deve sempre dar preferência aos varejistas de combustíveis de sua confiança. Os que trabalham com seriedade e honestidade sempre oferecerão um produto de qualidade, seja de refinaria ou de formuladora.

O importante é saber que toda gasolina produzida, distribuída e comercializada por empresas que primam pela lisura atendem aos requisitos exigidos pela ANP. Nenhuma delas causa problemas no motor, reduz o desempenho e o nível de consumo dos veículos. Sua composição depende dos hidrocarbonetos (naftas) e processos de produção utilizados. São constituídas de misturas químicas criteriosamente balanceadas, visando atender aos requisitos de performance.

Também é importante saber que a gasolina produzida nas formuladoras não tem menos densidade, que é estipulada pela ANP, com especificação mínima de 715,0 kg/m3. Os produtores têm o dever de atender a essa especificação. Com a nova resolução da agência, em vigor desde o dia 3 de agosto de 2020, as mudanças referentes à especificação da gasolina em densidade mínima de 715,0 kg/m3, espera-se um rendimento cerca de 5% maior por litro de combustível, conforme estudos realizados pela própria agência.

Conhecendo-se todas essas questões técnicas, muitas vezes não divulgadas publicamente, o consumidor também pode aumentar o rendimento de seu dinheiro. Com cada real gasto, será possível rodar alguns quilômetros a mais.

Por: Rosangela Batista Gomes, bacharel em Química Tecnológica e Supervisora de Laboratório da Copape Formuladora de Combustíveis.

🔔Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram do Diário do Estado e no canal do Diário do Estado no WhatsApp

A crise moral da nova geração de médicos

Médico com máscara.

Por: SARA ANDRADE

Uma jornalista jovem de classe média tem livre circulação nos ambientes frequentados por pessoas com histórias relativamente parecidas: vivendo dentro dos seus vinte anos, formando-se na faculdade e começando carreiras no mercado de trabalho. Nesta bolha, destaca-se a quantidade de moças e rapazes que optaram pelo estudo da medicina.

Estão aí para provar as estatísticas: de 2000 para 2020, o número destes profissionais no Brasil mais que dobrou, passando de 230 mil para meio milhão, segundo resultados do estudo “Demografia Médica no Brasil 2020”, liberado pelo Conselho Nacional de Medicina em parceria com a Universidade de São Paulo.

As milhares de entregas de canudo, tão comemoradas, foram responsáveis por alargar a média de médicos a cada mil habitantes no país: de 1,4 para 2,4, colocando o Brasil no mesmo patamar de nações como Japão ou Polônia, e apenas décimos atrás dos Estados Unidos, com média de 2,6. O que os números não podem mostrar, no entanto, são os pormenores deste fenômeno. Aqui vale o ponto de vista de uma jovem jornalista, e o cenário não é tão simples quanto parece.

A medicina sempre carregou consigo seu bocado de nobreza. Curar doenças, tirar a dor das pessoas, aumentar o tempo e a qualidade de vida: de fato, o jaleco branco pode ser uma espécie metafórica de batina, numa profissão quase sacerdotal, sagrada. Não seria falta de noção falar até em “amor ao próximo”. Muitos jovens estudantes parecem ter esta ideia romântica em mente: ajudar as pessoas através do trabalho de suas vidas. Não é só um emprego: torna-se missão e vocação.

Enquanto isso, outros estudantes de medicina parecem perdidos pelo caminho. Atenção: este é um questionamento aos que em breve serão médicos! Você está verdadeiramente preparado para abrir mão de si, dos seus desejos e caprichos, em prol de um desconhecido? Muitas vezes, seus pacientes serão “impacientes”, inoportunos e sem educação (até porque podem estar sob o efeito de grande dor).

Você pode não ser agradecido, nem reconhecido ou elogiado. Quem sabe até injustiçado. Pense consigo, você pode suportar? Você quer suportar? A sua escolha deve ser como em um casamento: o padre sempre avisa da riqueza e da pobreza, da saúde e da doença: quem diz sim, o diz para tudo.

Com o prestígio do ofício, vêm os abutres. Quantos não estão cursando medicina pelo status social, pelo dinheiro prometido, ou ainda apenas pela experiência da vida festeira de universitário? Tudo isso pode estar no pacote, caso o amor também se faça presente. Sem amor primeiro, é tudo vazio neste coração de doutor. Assim, a indagação martela nas mentes: como um universitário interesseiro e exibido, que nunca se doou a nada, nem a ninguém, pode ser um bom médico? De onde tirará o amor que tudo suporta, que persevera? Ninguém pode dar o que não tem.

Seria possível que um estudante qualquer de medicina, na condição de escravo de aprovação, de likes em redes sociais, incapaz de reconhecer o esforço da família para formá-lo, que só se importa em figurar bem para os amigos nos ambientes sociais… seria possível que disso saia altruísmo, doação e abnegação de si? Doar-se não é lá tão impossível e atos como arrumar a própria cama já são ótimos sinais de ordem interior. A disciplina, a sinceridade, a submissão aos superiores, tão necessárias no dia a dia do médico: tudo isso começa pequeno, mostrando-se no dia a dia do estudante.

Se você não sente obrigação nenhuma para com ninguém, se o mundo inteiro (seus amigos, pais) está sempre errado e você certo, ou se a culpa de seus fracassos, ou más ações, nunca é sua, pobre vítima… falta-te o principal para ser um bom médico: o amor. E este só vem com maturidade, com a compreensão de que sua vida não é para você se entupir de si mesmo, mas um presente ao mundo: ao tiozinho da esquina que sofre, à criança resfriada e à fofoqueira insuportável do bairro. Desse modo, seus dias ganharão um sentido maior.

Muitos reduzem o sucesso na vida ao sucesso profissional. Nada mais equivocado! Quantos não são fracassados com contas bancárias gordas? Isso acontece porque sucesso verdadeiro é ter personalidade, maturidade. E isso só se alcança com consciência moral, que diferencia bem e mal, e que gera noção de dever. Mas o que será de uma geração de jovens médicos que tem horror à própria ideia de moralidade? De ordem? Ou com uma dificuldade imensa de compreender a necessidade de regras, de ritos… Serão eles ricos? É possível. E também miseráveis, porque imaturos e sem personalidade. No fim, ninguém é feliz assim, ou cumpre seu chamado no mundo, sua vocação.

Aliás, o que levaria um jovem médico a doar-se por alguém? Sem sombra de dúvidas, a certeza da dignidade da vida humana, e o conhecimento da sua transcendência. Infelizmente, esta geração tem receio até mesmo de dizer que uma vida humana vale mais que a vida de um papagaio, ou de uma lesma. Como amar o humano, se não se sabe o que ele é, ou quanto vale? Ingênuo pensar que um estudante imaturo e incapaz de amar tornaria-se imediatamente amoroso e dedicado pelo toque mágico do diploma em suas mãos.

Essa dinâmica se aplica a todas as profissões, mas o médico deve ser o primeiro da fila a entender a vida. Porque muitas vezes, ela está em suas mãos. Um bom exemplo a guiar os novatos de consultório pode ser São Lucas. Médico, artista e historiador. Com uma vida inteira doada ao conhecimento da verdade humana. Que a paixão pela beleza da existência também inspire você a cada dia, jovem médico, e te leve ao amor maior. Especialmente neste dia 18, dia do médico e de São Lucas, padroeiro da honrosa missão de curar.

Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram do Diário do Estado e no canal do Diário do Estado no WhatsApp