Portuguesa x Mixto: decisão no Canindé rumo à efetivação com postura de final

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Opinião: decisão no Canindé contra o Mixto exige Lusa enfim efetiva, ligada e com postura de final

Com trapalhada defensiva e sem efetividade ofensiva, Portuguesa perde do Mixto-MT por 1 a 0 em Cuiabá pela segunda fase da Série D; é possível reverter no Canindé, mas com outra postura

DE 1 x 0 Portuguesa | Gol | 2ª fase | Brasileiro Série D 2025

DE 1 x 0 Portuguesa | Gol | 2ª fase | Brasileiro Série D 2025

A Portuguesa precisará vencer o Mixto-MT no estádio do Canindé, neste sábado (9), para conseguir avançar à terceira fase da Série D do Campeonato Brasileiro. Vitória com dois ou mais gols de diferença dá em classificação rubro-verde. Vitória por margem mínima leva aos pênaltis.

Isso porque, em Cuiabá, no estádio Dutrinha, a Lusa foi derrotada por 1 a 0. Tanto o placar quanto o campo não mostraram um cenário inviável, improvável ou impossível de reverter. Só que o elenco lusitano precisará ter uma postura e uma concentração diferentes.

Será necessário encarar a partida da forma correta: decisão, final, tudo ou nada. Além das fragilidades já conhecidas por todos que acompanharam a primeira fase da Portuguesa, o que se viu em Mato Grosso foi uma equipe cometendo erros capitais para um mata-mata.

Foram dois principais. Um é o lance que originou o gol do Mixto-MT. Seja o vacilo de Igor Torres no início da jogada, seja no pênalti bizarro cometido por Carlos Eduardo. Outro – não único, porém, mais gritante – foi o gol inacreditavelmente perdido por Lohan cara a cara com o goleiro.

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A derrota se resumiu a isso? Claro que não. A Lusa repetiu problemas crônicos, vistos à exaustão desde a primeira rodada da competição, para não citar alguns que persistem desde o Paulistão. Quem acompanha este espaço de opinião já deve estar farto ou farta de ler sobre eles.

A começar pela escalação: Bertinato no gol; Carlos Eduardo na direita e Matheus Leal na esquerda; Gustavo Henrique e Eduardo Biazus na dupla de zaga; Tauã, Portuga e Cristiano no meio; Igor Torres em uma beirada, Cauari na outra e Lohan centralizado à frente.

DE-MT x Portuguesa — Foto: Rodrigo Moura / Portuguesa

O meia Marcelo Freitas se lesionou nos treinos da semana e, por isso, o técnico Cauan de Almeida voltou à formatação adotada em toda a Série D até o atleta chegar. Não há grande novidade no restante, mas vale fazermos dois destaques de atuações repetidamente a desejar.

Uma delas é a do lateral direito Carlos Eduardo. Chegou no meio do campeonato, vindo da Lituânia, e até aqui não fez um jogo bom sequer. Atuações decepcionantes e falhas repetidas. Outra é a insistência em Igor Torres como opção na frente. Até aqui, mostrou pouco.

Não que haja grandes opções de banco. É repetitivo mencionar o elenco curto e com trocas que derrubam o nível técnico. Só que Talles, que não vem fazendo uma boa Série D, sobretudo defensivamente, não estava tão mal quanto Carlos Eduardo. O jovem Sciencia ainda menos. Já no ataque, De Paula pode ainda não ter entregado o que se esperava, mas é bem mais incisivo.

Não se trata de ser engenheiro de obra pronta. Quando saiu a escalação, em Cuiabá, na arquibancada, as discussões já giravam em torno disso. Principalmente na insistência em Igor Torres. Portanto, não surpreende que o gol da valiosíssima vitória do Mixto-MT tenha saído dali.

Igor Torres é a melhor opção sob o ponto de vista da recomposição? De voltar para marcar? De ajudar defensivamente quando o time está sem a bola? Isso só mostra a fragilidade do elenco e a insistência pouco inteligente em uma formatação idealizada e pouco produtiva.

O gol não foi resultado de algo isolado. Era nítido que o Mixto-MT tentaria, nos primeiros 25 ou 30 minutos, exercer pressão. Estava jogando em casa, em um estádio apertado, com arquibancada cheia. Sem contar o calor de 36°C, em tempo seco, com aquele bafo enorme.

A Lusa parece ter entrado em outra rotação. Até sofrer o gol, deixou-se envolver pela correria do time mato-grossense e teve seríssimas dificuldades em criar algo. As forças só se equilibraram, e a equipe rubro-verde passou a ter superioridade, após o pênalti convertido por Gilvan.

DE-MT x Portuguesa — Foto: Rodrigo Moura / Portuguesa

Em parte porque a própria Portuguesa parece ter acordado e entrado no jogo, em parte porque o próprio Mixto-MT imediatamente recuou. Não esperou nem o intervalo. Fechou-se para preservar a vantagem e tentar ampliar em um eventual contragolpe em velocidade. Que foi até raro.

Sim, a Lusa ficou com a bola, tomou a iniciativa, passou a criar chances. Só que poucas efetivas. A falta de efetividade, aliás, é outro problema crônico desse time. Não foram zilhões de arremates na direção do gol, mas houve. Bastava converter um deles para que tudo mudasse.

O goleiro Mota brilhou? Sim. Mas a zaga do Mixto-MT deu belas entregadas. Aliás, o próprio Mota cometeu algumas trapalhadas. A Portuguesa não soube aproveitar. Pode-se citar alguns casos, mas nenhum seria tão claro, gritante e retumbante quanto o de Lohan cara a cara com ele.

Quem escreve não é nenhum perseguidor de Lohan. Muito pelo contrário. É comum ler por aqui que o centroavante sofre. A bola raramente chega. É um nove de área em um time que pouco chega lá. Só que quando uma chance dessa surge não dá para desperdiçar. Está lá para isso.

É honesto reconhecer que, em certa altura do segundo tempo, a Lusa sentiu o cansaço. Quem esteve em Cuiabá jamais relevará a questão climática. Estava difícil acompanhar até da arquibancada, quanto mais em campo. Lohan mesmo cansou uns 15 minutos antes do fim.

Cauan fez duas trocas bem conservadoras e pragmáticas, que foi sacar os dois laterais amarelados para colocar outros limpos: Pedro Henrique e Talles. Uma que talvez fosse a aposta de todos para a escalação inicial: De Paula na frente. E uma que buscou mexer um pouco na formatação ofensiva, que foi colocar Barba no meio e liberar mais Portuga para o ataque.

A superioridade veio, mas o gol não. Vale destacar atuações apagadíssimas de nomes dos quais a Lusa tem dependência como Cristiano e Cauari. Também vale registrar outra insistência do treinador, que foi colocar Matheus Nunes nos minutos finais. Inócuo. Com Lohan nitidamente exausto na frente, em um time que tentava fazer pressão, precisando colocar sangue novo.

Enfim, a Portuguesa repetiu velhos problemas como a insistência do treinador em determinados nomes, a postura inicial desconectada do perfil do jogo, o vacilo inconcebível em toda a construção do gol sofrido e a falta de efetividade diante das oportunidades criadas.

Como já escrito a exaustão por DE, a comissão técnica é essa, o elenco é esse, vai ter que ser desse jeito. Só que, desse jeito, não se pode cometer esses erros. São pontos que amplificam os problemas. Sem vacilo ou com certa efetividade, a Lusa voltaria a São Paulo com um empate.

DE-MT x Portuguesa — Foto: Rodrigo Moura / Portuguesa

Trata-se de um campeonato de nível técnico baixo, mas bem equilibrado. Os times são parelhos. Não tem muito bicho papão. Se mata-mata tradicionalmente já costuma ser decidido nos detalhes, ainda mais em um cenário como o da Série D. O Mixto-MT teve méritos.

Fez o que se esperava dele e, mesmo passando algum sufoco, conseguiu pressionar, obter um pênalti, converter, preservar a vantagem e sair na frente no mata-mata fazendo o Dutrinha ser um ativo. Vai ser pragmático e tentar amarrar o jogo no Canindé? Pode ser. É justo e inteligente.

Isso vai dificultar a vida da Portuguesa? Certamente. Mas a vitória em Cuiabá não foi fruto de uma superioridade técnica, uma maior organização tática, algo fora da curva ou que a Lusa não possa ter. Só que o time do Canindé precisará encarar essa decisão como ela de fato é.

A sensação dos torcedores da Lusa que estiveram em Cuiabá, após o apito final, foi de que a equipe complicou mais a situação, de forma desnecessária. Aliás, parabéns a quem se fez presente. Teve gente que mora em Mato Grosso, que vive em estado vizinho, que gastou os tubos para ir de avião e que pegou mais de 20 horas de estrada de carro ou de van.

Uma torcida que em momento algum deixou de apoiar, incentivar ou acreditar. E tem de ser assim ao longo da semana, principalmente no sábado (9), às 16h, no Canindé. A repetição dos erros incomoda, enerva, revolta. Lógico. Mas não surpreende. É o que se tem, infelizmente.

Só que quem resiste ao lado da Portuguesa na arquibancada sabe o que significa essa Série D, o que representa um acesso, o quanto essa volta em São Paulo é importantíssima. Não dá, portanto, para desistir, abrir mão, jogar a toalha. A chance está aí. É preciso lutar e acreditar.

Pelos traumas do passado e pelas insistências no erro do presente, o clima com uma derrota acaba azedando mais do que aconteceria em outro clube. Só que, se isso prevalecer, com as dificuldades que já conhecemos dentro de campo, aí é que se vai por tudo a perder mesmo.

DE-MT x Portuguesa — Foto: Rodrigo Moura / Portuguesa

É hora de a SAF retomar a promoção de ingressos no Canindé. É hora de a torcida mais uma vez comparecer, apoiar, empurrar (se não der certo, cobrar, com toda razão). É hora de comissão técnica e time darem a resposta, fazerem valer os 100% de aproveitamento em casa na Série D. É hora de mostrar que esse elenco sabe o que é a Portuguesa e o que o acesso representa.

*Luiz Nascimento, 33, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 15 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.

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