Pouso Alegre vence Portuguesa em jogo dramático por 2 x 0

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Opinião: essa é a Portuguesa que diz querer subir para a Série C?

Lusa vai ao Sul mineiro, faz uma das piores exibições nesta Série D e acaba derrotada por 2 a 0 para o Pouso Alegre-MG, com lances grotescos na defesa e no ataque.

Pouso Alegre bate Portuguesa em jogo emocionante por 2 x 0

Pouso Alegre bate Portuguesa em jogo emocionante por 2 x 0

Em nove jogos até aqui, essa talvez tenha sido a pior partida da Portuguesa nesta Série D de Campeonato Brasileiro. Essa derrota por 2 a 0 para o Pouso Alegre-MG fora de casa, no estádio Manduzão, foi a segunda da equipe rubro-verde na competição.

A briga pela pior partida se dá justamente com a da primeira derrota, em Diadema, na Grande São Paulo, quando a Lusa foi superada pelo Água Santa por 2 a 1. Naquela ocasião, o time comandado pelo técnico Cauan de Almeida ao menos marcou um gol.

No entanto, quando se fala em apenas duas derrotas em nove jogos, e se destaca que foram justamente em atuações desastrosas, pode-se deixar a sensação de que são apenas deslizes, pontos fora da curva, exceções, tardes ou noites em que nada dá certo.

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Antes fosse. Quem costuma frequentar esse espaço de opinião já leu, nas duas últimas rodadas, que a Portuguesa não vem bem. Foram dois jogos contra o Nova Iguaçu-RJ. Um empate por 1 a 1 fora de casa e uma vitória por 1 a 0 no estádio do Canindé.

Pouso Alegre x Portuguesa, Série D do Brasileiro — Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

Pouso Alegre x Portuguesa, Série D do Brasileiro — Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

Na Baixada Fluminense, uma bizarra anulação de gol roubou a cena. Na capital paulista, uma briga generalizada dentro de campo ofuscou as atenções. Só que, nos dois casos, a Lusa jogou mal e criou pouquíssimo. No Canindé, só não perdeu por milagres do goleiro Bertinato e só venceu por um inacreditável gol contra de um adversário.

Sim, é verdade que o calor insuportável e o gramado propositalmente alto do Rio de Janeiro prejudicaram o time. Mas não só. A Lusa marcou cedo e arrefeceu, parou, desconectou. Sim, também é verdade que a cera, a catimba e a conivência do apito impediram um bom jogo em São Paulo. Mas o time foi presa fácil para a marcação.

Esperava-se que, no Sul Mineiro, diante do Pouso Alegre-MG, a Portuguesa enfim pudesse ter um desempenho melhor. As condições eram extremamente favoráveis. Temperatura amena, gramado ok, zero pressão da arquibancada, apito discreto, etc.

Isso tudo, porém, não fez sobressair nada de positivo na Lusa. Pelo contrário. Sem nada extraordinário atrair os holofotes, ganharam realce as fragilidades rubro-verdes. Um futebol paupérrimo, inofensivo, lento, desconectado, insosso, quase displicente.

Pouso Alegre x Portuguesa, Série D do Brasileiro — Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

Pouso Alegre x Portuguesa, Série D do Brasileiro — Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

A Portuguesa foi a campo com Bertinato no gol; Sciência na lateral direita e Pedro Henrique na esquerda; Gustavo Henrique e Alysson Dutra no miolo de zaga; Barba e Tauã como volantes, com Cristiano com a 10; Everton, Hericlis e Iago Dias na frente.

Pedro Henrique voltou a substituir Matheus Leal, poupado com lesão no ombro. Alysson Dutra entrou na vaga de Eduardo Biazus, expulso na rodada passada. Everton tornou a ocupar o lugar de Igor Torres, voltando de contusão. Iago Dias, por opção do técnico Cauan de Almeida, assumiu a posição que vinha sendo de Cauari.

À exceção de uma cabeçada de Everton, que acertou a trave no segundo minuto de jogo após um cruzamento de Pedro Henrique pela esquerda, a Portuguesa não levou qualquer tipo de perigo à meta do Pouso Alegre-MG ao longo de todo primeiro tempo.

Não tomou pressão alguma, é verdade, mas não conseguiu produzir nada. Em ritmo baixíssimo, facilitava a marcação mineira e não passava da intermediária do ataque. Ou rodava a bola na zona morta, ou perdia e dava chances de bandeja aos donos da casa.

O Pouso Alegre-MG também tinha dificuldade em construir algo. A estratégia quase que exclusiva era descer pelas beiradas e buscar cruzamentos à área. Foi assim que, em três lances, levou algum perigo. Nada extraordinário, mas era uma equipe ligada.

Pouso Alegre x Portuguesa, Série D do Brasileiro — Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

Pouso Alegre x Portuguesa, Série D do Brasileiro — Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

Isso, ainda mais em uma Série D, faz a diferença. E fez, na verdade. Aos 27 minutos, em tiro de meta, Bertinato tocou para Alysson Dutra sair jogando. O zagueiro adiantou a bola e tentou tocar para Tauã. Que desastre. Deu no pé de Ravanelli, que ficou livre na cara do gol. Uma falha grotesca, surreal, absurda. É até difícil de adjetivar.

Como a Lusa reagiu ao gol? Não muito diferente de como vinha jogando. Não houve um grande chacoalhão, nem um despertar. A quantidade de chances de gol criadas, com perigo real à meta adversária, foi praticamente a mesma até o intervalo. Ou seja, zero.

Para o segundo tempo, Cauan de Almeida fez o que todos esperavam que fizesse desde o início do jogo: colocou Cauari. Sacou, para isso, Everton. O problema é que isso, por si só, não resolveria nada se o coletivo não entrasse no jogo minimamente.

O segundo tempo foi igualmente angustiante de assistir. Foram 15 minutos de nada até entrarem Portuga no lugar de Tauã e Matheus Nunes na vaga de Sciência. Dez minutos depois, Igor Torres substituiu Iago Dias e Hericlis deu lugar a Kauê Dias.

Portuga até deu mais movimentação ao setor ofensivo, mas esteve longe das melhores exibições. Kauê Dias teve uma oportunidade ingrata, no meio de uma fogueira, em um time que custou a conseguir colocar a bola na área. Não seria justo condenar.

Pouso Alegre x Portuguesa, Série D do Brasileiro — Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

Pouso Alegre x Portuguesa, Série D do Brasileiro — Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

Agora, os outros dois que entraram acabaram sendo protagonistas. No caso de Igor Torres, aos 32 minutos. Cristiano cobrou um lateral rápido para Cauari, que foi ao fundo pela esquerda e cruzou. Igor dominou antes do zagueiro e, na marca do pênalti, ficou cara a cara com o goleiro. Inacreditavelmente, chutou por cima. Um gol feito!

Mesmo sem merecer, ali a Portuguesa teve talvez a única chance real de empatar. E, se empata àquela altura, é bem provável que o jogo caminhasse para terminar assim. Só que o futebol não aceita desaforos, né? A equipe rubro-verde foi punida em seguida.

Dois minutos depois, numa ligação direita do goleiro do Pouso Alegre-MG para a intermediária esquerda do ataque, a Lusa bateu cabeça. Gustavo Henrique se embananou todo no quique da bola e deixou Muchacho entrar livre na área.

Quando Muchacho pisou dentro da área, Matheus Nunes chegou todo atabalhoado. Atropelou o atacante do time mineiro. Pênalti claro. O próprio Léo Muchacho foi para a cobrança e marcou o 2 a 0. Dali em diante a Portuguesa até tentou algo. Talvez tenham sido os minutos em que mais cruzou bola à área do time da casa.

Cauan de Almeida, técnico da Portuguesa — Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

Cauan de Almeida, técnico da Portuguesa — Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

Só que foi mais na base do desespero e da aposta na sorte do que efetivamente algo organizado e consciente. O jogo terminou com um placar que reflete muito mais a inoperância e a desconexão da Portuguesa do que qualquer outra coisa.

Não a toa foi a primeira partida nesta Série D em que a Lusa não balançou as redes. Pelo contrário, voltou a tomar gol. Havia tomado em todos os jogos do campeonato, com exceção do último. Esperava-se engatar uma sequência boa, mas nada disso.

A sequência, infelizmente, é de atuações frustrantes. Vale repetir: foi o terceiro jogo ruim seguido da Portuguesa. Rodadas em que, além das já rotineiras preocupações defensivas, ficou evidenciada a dificuldade em construir, finalizar, levar perigo.

Há alguns pontos a destacar. Como, por exemplo, as ausências. Os laterais Talles e Matheus Leal têm problemas defensivos (muito mais o primeiro), mas chegam ao campo de ataque e apoiam muito mais do que Gustavo Sciência e Pedro Henrique.

Ao mesmo tempo, não poder contar com Lohan como referência na frente engessa o time. Até porque não há outro jogador com essa característica para, inclusive, fazer o pivô. E alguns jogos recentes, ou mesmo momentos de jogos, pediram isso.

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Sem contar que uma das beiradas ofensivas já não vinha tão bem com Igor Torres e, com a saída dele por lesão, ficou ainda pior. Nesse último jogo, sem Cauari na outra beirada, o ataque simplesmente não existiu. Everton e Iago Dias tiveram, se muito, lampejos de bons momentos nesta Série D. Nunca convenceram de fato.

São duas beiradas inoperantes que, nos últimos jogos, ainda contaram com um Cristiano pouco inspirado pelo meio (sendo que muitas vezes funciona até melhor pela direita) e um Hericlis sacrificado tendo de tentar ser referência e sem ninguém para tocar.

Defensivamente, o lado esquerdo perde sem Matheus Leal na lateral. Pedro Henrique sofre bem mais na marcação. Nesse último jogo, para piorar, a Lusa não teve Biazus, cumprindo suspensão, e a estreia de Alysson Dutra foi absolutamente desastrosa.

Não que ele tenha jogado mal durante os 90 e tantos minutos. Só que dar aquele gol, naquele lance bizarro, destrói tudo. Inclusive a confiança nele ali atrás e a própria segurança do setor. Biazus deve pegar gancho no tribunal. Será que ele dá conta?

O momento da Portuguesa gera apreensão. A equipe precisa não só que os lesionados se recuperem, mas que os dois reforços recém-chegados entrem bem: o lateral Carlos Eduardo, que atua dos dois lados, e o meia Marcelo Freitas. Só que apenas se reforça a dúvida: será que esse elenco, para o mata-mata, não precisa de mais contratações?

O problema é que a preocupação não para por aí. A postura também tem incomodado. Esperava-se que a “guerra” naquele 1 a 0 sobre o Nova Iguaçu-RJ tivesse feito esse elenco “estrear” de verdade na Série D. No sentido da pegada, da entrega, do foco.

Esse jogo no Sul mineiro mostrou o contrário. Não parece descompromisso, mas soa como desconexão. Sabe-se lá se pelo conforto da classificação, se pela ilusão da matemática ou se pela falta de sangue na veia da própria comissão técnica. Fato é que a Lusa de Cauan parou de evoluir (para usar um termo que ele repete). E precisa. Muito.

*Luiz Nascimento, 32, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 15 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.

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