Apologia ao diabo: veja as páginas que fizeram a Prefeitura de Sorocaba censurar livro na rede municipal
Exemplares do livro premiado ABC Doido são usado com aval do Ministério da Educação. Escolas têm até o dia 9 de setembro para entregar o material.
Um tridente, uma cruz, uma ilustração do que seria o diabo e um pequeno texto provocativo. Esses foram os elementos que fizeram a Prefeitura de Sorocaba (SP) censurar e determinar a retirada da rede municipal de ensino, na quarta-feira (3), os exemplares do livro premiado ABC Doido, usado com aval do Ministério da Educação.
O documento, assinado por Clayton Cesar Marciel Lustosa, que é bispo evangélico e secretário de Educação da cidade, determina que os exemplares que estiverem nos acervos das instituições educacionais da rede municipal sejam separados e retirados do uso imediatamente. “Informamos que esta obra literária não deve ser utilizada em sala de aula e nem disponibilizada aos alunos”, diz o documento.
O G1 teve acesso a um exemplar do material de uma das unidades de ensino. O alvo da polêmica é uma obra escrita em 1999, com 112 páginas. A ideia da autora Angela Lago era ensinar o alfabeto de forma não convencional, no caso, de trás para frente. A editora Melhoramentos lamentou a decisão da prefeitura (veja mais detalhes abaixo).
As ilustrações e textos coloridos aparecem em páginas também multicoloridas. Ao longo da obra, há várias menções carinhosas como “anjinho, santo e benzinho”. Entretanto, o que chamou a atenção de pais de alunos da rede pública foi o conteúdo das páginas 28, 29, 30 e 31.
Na página 28, o texto diz o seguinte: “Minha cruz é você! Mas tem outra cruz no ABC…” Na página seguinte, ao retratar o alfabeto, a letra “s” é representada por um saci – um dos símbolos do folclore brasileiro. Já a letra “t” é representada por tridente – arma de três pontas, frequentemente associada ao diabo, mas que apresenta diferentes representações dependendo da cultura -, e a “v” por um vampiro.
Na página 30, ao falar da letra “t”, em meio a várias figuras, o texto diz o seguinte: “É um T de tridente, diabo? Ou é um cruz, capeta? Cruz não!”
A página seguinte apresenta a letra T, com a ilustração de uma pessoa, que foi interpretada como a imagem que lembra Jesus crucificado.
A Secretaria de Educação (Sedu) informou que, diante de questionamentos de pais de estudantes da rede municipal, “solicitou, de forma cautelar, o recolhimento dos exemplares do referido livro das unidades escolares. O levantamento da quantidade de obras já está em andamento”.