A Prefeitura de São Paulo descredenciou a Associação para o Desenvolvimento Educacional de Jovens e Infância (Adeji), responsável por administrar oito creches municipais na Zona Sul da capital, após a Diretoria Regional de Ensino identificar falhas na prestação de contas. A mudança na gestão dos Centros de Educação Infantil (CEIs) Alegria, Algodão Doce, Arco-Íris, Sakura, Abayomi I e II, Brincar e Ateliê da Infância surpreendeu mais de 100 funcionários na última segunda-feira (7). O CEI Abayomi I foi fechado, e os alunos foram transferidos para o Abayomi II.
Professores relataram ao DE que não foram oficialmente informados pela organização social (OS) sobre o descredenciamento e souberam da troca por meio de gestores das unidades e de pais de alunos. “Nós fomos pegos de surpresa. A única informação que temos é que uma instituição que não sabemos de onde é vai ficar conosco, na creche em que trabalho. Mas não sabemos se irão ficar com os funcionários. A única coisa que pediram foi para a gente enviar o currículo. Estamos até agora aguardando”, afirmou uma professora, que prefere não ser identificada por temer represálias.
Segundo ela, em outra creche, em que uma colega trabalhava, nenhum dos antigos profissionais foi reaproveitado. “A Adeji não falou nada para a gente. Só enviou uma nota depois dizendo que vão tentar reverter a situação.” Uma outra funcionária, que também não será identificada, relatou ao DE ter sido surpreendida no primeiro dia do recesso com várias mensagens no grupo da unidade que prestava serviço. “Assim descobri que o nosso tão merecido descanso passou de recesso para uma demissão. Sem mais informações. Me vi perdida, com um misto de sentimentos de uma só vez. Desempregada e desamparada.”
Uma terceira professora ouvida pelo DE afirmou que não há garantia de que todos os funcionários serão recontratados pelas novas OS. “Saímos de recesso e o que era para ser um descanso virou um pesadelo. Fui até a unidade onde participei de um processo seletivo, respondi um questionário e conversei com os novos mantenedores, que disseram que não vão ficar com todos. Disseram que até segunda vão avisar se fui aprovada ou não”, relatou.
A associação descredenciada chegou a ser investigada pela Polícia Federal no caso que envolve desvio de dinheiro público de creches conveniadas da Prefeitura de São Paulo. Em julho de 2024, a PF indiciou 116 pessoas suspeitas de desviar dinheiro público. Em novembro, a Justiça Federal autorizou a abertura de um inquérito contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB) em relação às operações suspeitas envolvendo as creches. Na época, Nunes disse que ficou perplexo com a autorização e negou as acusações.
Em nota, a associação disse que o descredenciamento não tem relação com a investigação, e que “foi surpreendida por essa decisão [da prefeitura], que se fundamenta em supostas falhas administrativas relacionadas à sobreposição de informações em extratos bancários”. Alegou que acionou a Justiça e que “espera retomar plenamente suas atividades” (veja nota completa abaixo). A Secretaria Municipal da Educação também reforçou que o descredenciamento não tem relação com a investigação da PF e garantiu a continuidade do atendimento a todas as crianças das oito unidades.
Além disso, informou que “cerca de 90% dos funcionários das unidades aceitaram a proposta de recontratação feita pelas outras OSCs”. A Associação para o Desenvolvimento Juvenil e Infantil (ADEJI), por meio de sua assessoria jurídica, esclareceu a situação referente à intenção unilateral da DRE-SA de romper os Termos de Colaboração. A ADEJI afirmou que apresentou documentação e provas irrefutáveis que atestam a lisura de sua gestão e aguarda uma decisão judicial nos próximos dias para retomar suas atividades plenamente.
A Secretaria Municipal de Educação informou que os termos de colaboração com a Associação de Desenvolvimento Juvenil e Infantil (ADEJI) foram descontinuados devido a irregularidades identificadas pela Diretoria Regional (DRE) na prestação de contas, garantindo a continuidade do atendimento às crianças. Das oito unidades, sete já têm nova parceria com outras Organizações da Sociedade Civil (OSCs), e os alunos do CEI Abayomi foram transferidos para o CEI Abayomi II, na mesma rua. Cerca de 90% dos funcionários aceitaram a proposta de recontratação feita pelas novas entidades.