Prefeitura de SP derruba casas e multa moradores em R$ 5 mil por ocupação de
área irregular no Jardim Pantanal
Moradores afirmaram que foram notificados e que só tem dois dias para deixarem a
área. Jardim Pantanal é ocupado desde os anos 1980 e sofre com enchentes.
1 de 3 Multa recebida por moradora no valor de R$ 5,7 mil. — Foto: Arquivo
Pessoal
Multa recebida por moradora no valor de R$ 5,7 mil. — Foto: Arquivo Pessoal
A Prefeitura de São Paulo multou nesta quarta-feira (19) moradores do Jardim Pantanal, na Zona Leste da cidade, em um valor que ultrapassa R$ 5 mil e demoliu imóveis do bairro por estarem em um terreno irregular.
Agentes da Subprefeitura de São Miguel foram ao bairro acompanhados pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) da capital. Segundo a guarda, foi realizada uma “ação de desfazimento” e os guardas foram acionados para atuar na proteção dos funcionários da prefeitura.
Desfazimento é a demolição de espaços que já estão desocupados. O DE procurou a gestão Nunes, mas, até a publicação desta reportagem, não obteve retorno.
Quem vive na região, que fica em uma Área de Proteção Permanente (APA), próximo ao Rio Tietê, foi multado e recebeu o prazo de dois dias para deixar suas casas.
Em áreas de APA, na teoria, são proibidas construções de casas e ruas. Contudo, a ocupação irregular e desordenada da cidade transformou a região em um bairro que está ocupado desde os anos 80. (Veja mais abaixo)
Jéssica Santana, que vive no bairro há 9 anos, disse que, há duas semanas, agentes da prefeitura foram até o local e pediram para que ela assinasse um documento alegando que deixaria a casa. Ela não assinou.
> “Sou salariada, tenho um filho de 17 anos. Nem o que eu recebo por mês paga metade dessa multa, que eu nem sei dizer por que fui multada. Hoje, os aluguéis são muito caros e ninguém consegue manter. Aí, levantamos a nossa casa com tanto esforço, tiramos comida até da boca para fazer, e veio alguém para nos tirar daqui – um teto que a gente levantou para dormir, e a prefeitura vem nos tirar da casa que é nossa. Se eles falam que o terreno é deles, por que não nos tiraram no começo? Ficamos sem nada, sem ter para onde ir”, afirma.
“A prefeitura, governo, presidente, ninguém dá chance para gente que é pobre. Ver se o pobre tem chance de alguma coisa, a gente sempre tem que viver por baixo, sem ter nada”, completa.
Os Imóveis que já estavam vazios foram derrubados.
2 de 3 GCM e agentes da prefeitura conversando com moradores. — Foto: Arquivo pessoal
GCM e agentes da prefeitura conversando com moradores. — Foto: Arquivo pessoal
Tratores chegando até o Jardim Pantanal, na tarde desta quarta
Uma outra moradora, que prefere não ser identificada, disse que não recebeu a multa, mas a sua casa também foi ameaçada de ser demolida.
> “Já passamos pela humilhação de morar em um lugar que eles chamam de impróprio. Eles [prefeitura] aparecem só ameaçando. A gente gastou tanto pra sair daqui com uma bolsa-aluguel e esperar para um suposto ‘Minha Casa Minha Vida’, que na verdade é ‘Minha Casa Minha Morte’ porque você morre e não termina de pagar”, afirma.
JARDIM PANTANAL
O Jardim Pantanal, distrito que fica na Zona Leste de São Paulo, sofre com enchentes desde os anos 80, no começo deste mês, os moradores ficaram uma semana embaixo d’água.
3 de 3 Jardim Pantanal: moradores do bairro às margens do Rio Tietê esperam solução para alagamento que completou 4 dias — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
Jardim Pantanal: moradores do bairro às margens do Rio Tietê esperam solução para alagamento que completou 4 dias — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
O distrito tem 45 mil moradores, fica dentro do Jardim Helena e é uma área de várzea que se estende por nove bairros ao longo da Zona Leste, divisa com Guarulhos. Localizada na beira do Rio Tietê, a área é onde justamente o rio corre devagar e faz curvas.
Os primeiros moradores chegaram à área ainda na década de 80. Nos anos 2000, a situação se agravou com o aumento da ocupação irregular da região.
Sem conseguir retirar os moradores do local, o poder público começou a levar infraestrutura para as margens do rio e construiu conjuntos habitacionais, escolas e piscinões ao longo das últimas décadas.