Prefeitura não tem registro atualizado das bocas de lobo de Goiânia

“Vai chegar um momento em que a prefeitura terá de prestar total atenção nesse problema, porque atualmente estão sendo tomadas apenas medidas preventivas”

As redes de drenagem de chuva em Goiânia foram projetadas baseadas em parâmetros muito “humildes”, que, na época do planejamento da infraestrutura da cidade, levavam em conta a situação da cidade naquele período. Os responsáveis pelas obras não contavam com tantas alterações no solo ou no meio ambiente, que podem ser observadas hoje. “A prefeitura não tem registrado a quantidade de bocas de lobo da capital. O último cadastro, feito manualmente, demorou seis anos e foi finalizado por volta de 2009, porém, ele nem se quer foi digitalizado. Grande parte desse papel já se perdeu, se deteriorou ou apagou”, explica o engenheiro civil e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (CREA-GO) Alexandre Garcês.

“As galerias pluviais não foram projetadas levando em conta os índices de impermeabilização que atualmente estão em proporções tão grandes. Por conta de tanta impermeabilização do solo, as bocas de lobo hoje em dia não suportam tanto quanto na época em que foram planejadas. As galerias da época não foram projetadas considerando que 100% da água seria conduzida para as bocas de lobo. As galerias foram projetadas considerando que parte da água seria infiltrada e não que a sua totalidade fosse encaminhada para elas. Isso torna a galeria insuficiente para tanta água “, explica o engenheiro, que trabalhou na Prefeitura de Goiânia por 14 anos.

A impermeabilização também acelera a velocidade com que a água escoa nas vias, fazendo com que chegue muito rápido nas bocas de lobo. Originalmente, era considerado que deveria demorar mais para chegar na captação. “O volume de água das chuvas não mudou muito, o que gera o desconforto na população é o fato de que está chovendo em tempo menor. O volume de água que antes levava o dia todo para cair, hoje está caindo em uma hora. O período de tempo entre as chuvas é que está menor”, detalha.

Ainda segundo o engenheiro, há uma escassez de profissionais qualificados no ramo de infraestrutura urbana. “A maior parte daqueles que se formam em engenharia civil prefere a área da construção civil, o que cria um déficit de profissionais que trabalham na infraestrutura urbana de Goiânia. A prefeitura também encontra dificuldades para contratar profissionais especializados nessa área por conta disso”, ressalta.

Garcês fala que são vários os envolvidos na responsabilidade de um melhor escoamento das águas. “A maior é a do poder público, que precisa investir em planejamento da infraestrutura da cidade e na educação da população, que também precisa fazer sua parte na limpeza da cidade e nas construções de lotes, que muitas vezes impermeabilizam o solo. Lixos deixados na rua muitas vezes vão diretamente para a boca de lobo”, explica.

A prefeitura investe por volta de R$ 2 milhões por ano para desentupir as bocas de lobo da cidade. No viaduto da Avenida H com a Jamel Cecílio, próximo ao Shopping Flamboyant, por exemplo, Gârces explica que a obra para resolver o problema de enchentes que tomam o local está com orçamento por volta dos R$ 2,5 milhões. “O gasto da prefeitura em um ano para desentupir bocas de lobo poderia ser utilizado naquela obra. A população pode contribuir muito na economia dos gastos e também com o meio ambiente. A drenagem de água em seu terreno, por exemplo, em vez de sair do telhado e ir para a rua, os donos de terreno podem fazer cisternas secas, na qual a água é infiltrada, retorna para o lençol freático e apenas o excesso é enviado para as ruas. O CREA faz gratuitamente esse tipo de serviço”, segundo o engenheiro.

Gârces alerta ainda para mais de 70 pontos de escoamento em situação crítica pela capital. Alguns dos principais exemplos são o Córrego do Serrinha, no Parque Amazônia; a Vila Santa Helena; a Marginal Botafogo; e o Bairro Goia, no qual não existem galerias pluviais. “Esses pontos precisam de um planejamento. Na sua maioria, a prefeitura realiza um planejamento completamente errado, no qual às vezes sai simplesmente puxando bocas de lobos. É preciso gastar tempo com planejamento, que tem um custo muito baixo”, explica.

“Falta financiamento e planejamento. Existem ainda os problemas do trânsito e o fato do solo estar cheio de equipamento de fibra ótica, que atrapalham em serviços de implantar novas tubulações. Vai chegar um momento em que a prefeitura terá de prestar total atenção nesse problema, porque atualmente estão sendo tomadas apenas medidas preventivas”, finaliza o engenheiro.

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BYD cancela contrato com empreiteira após polêmica por trabalho escravo

Na noite de segunda-feira, 23, a filial brasileira da montadora BYD anunciou a rescisão do contrato com a empresa terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda., responsável pela construção da fábrica de carros elétricos em Camaçari, na Bahia. A decisão veio após o resgate de 163 operários chineses que trabalhavam em condições análogas à escravidão.

As obras, que incluem a construção da maior fábrica de carros elétricos da BYD fora da Ásia, foram parcialmente suspensas por determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia. Desde novembro, o MPT, juntamente com outras agências governamentais, realizou verificações que identificaram as graves irregularidades na empresa terceirizada Jinjiang.

Força-tarefa

Uma força-tarefa composta pelo MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), resgatou os 163 trabalhadores e interditou os trechos da obra sob responsabilidade da Jinjiang.

A BYD Auto do Brasil afirmou que “não tolera o desrespeito à dignidade humana” e transferiu os 163 trabalhadores para hotéis da região. A empresa reiterou seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, especialmente no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores.

Uma audiência foi marcada para esta quinta-feira, 26, para que a BYD e a Jinjiang apresentem as providências necessárias à garantia das condições mínimas de alojamento e negociem as condições para a regularização geral do que já foi detectado.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que sua embaixada e consulados no Brasil estão em contato com as autoridades brasileiras para verificar a situação e administrá-la da maneira adequada. A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em Pequim, destacou que o governo chinês sempre deu a maior importância à proteção dos direitos legítimos e aos interesses dos trabalhadores, pedindo às empresas chinesas que cumpram a lei e as normas.

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