Tão jovem, Hugo Motta, presidente da Câmara, e por ora tão pequeno. Ele joga para a plateia quando deveria jogar para o país. Segundas, quartas e sextas, Hugo Motta (Republicanos-PB) faz acenos a Lula e ao governo. Terças, quintas e sábados, à direita bolsonarista. Nos domingos, descansa que ninguém é de ferro, nem mesmo ele, 35 anos, o presidente mais jovem da Câmara.
E assim começa a levar sua nova vida. Ora diz que não abrirá processo de impeachment contra Lula porque sua eleição foi legítima e o país dispensa mais turbulências; ora que a lei da Ficha Limpa exagera ao fixar em oito anos a inelegibilidade do punido. Lula sorri aliviado e agradecido. Bolsonaro sorri satisfeito e quer mais. Quando deputado federal, Bolsonaro votou pela aprovação da Lei da Ficha Limpa e elogiou-a como arma no combate à corrupção. Agora, diz que ela só serve para perseguir a direita.
Verdade que, em 2002, Bolsonaro votou no segundo turno para eleger Lula presidente da República. E o procurou depois interessado em indicar um nome para ministro da Defesa. Levou um chá de cadeira. Foi embora sem que Lula o recebesse. Bolsonaro avisa que irá procurar Motta para conversar sobre a Lei da Ficha Limpa que o tornou inelegível até 2030 por abuso de poder econômico e político. Aproveitará a ocasião para tentar apressar a votação de um projeto de anistia que o beneficiaria.
Ao contrário de Lula, que não o recebeu no passado e que faz questão de atacá-lo sempre que julgar necessário, Motta receberá Bolsonaro e o tratará como amigo. Motta votou nele em 2022. O PL de Bolsonaro votou em Motta para presidir a Câmara. Motta antecipou o que pensa sobre a anistia tão desejada por Bolsonaro e por todos aqueles condenados, ou em vias de ser, pelas tentativas de golpe de Estado em 2022 e início de 2023: Motta é a favor, embora não cite o nome de Bolsonaro. Disse: “O que aconteceu não pode ser admitido que aconteça novamente. Foi uma agressão às instituições. Foi uma agressão inimaginável, ninguém imaginava que aquilo pudesse acontecer. Agora querer dizer que foi um golpe? Um golpe tem que ter um líder, tem que ter uma pessoa estimulando, apoio de outras instituições interessadas e não teve isso”.
“Você não pode penalizar uma senhora que passou na frente lá do Palácio, não fez nada, não jogou uma pedra e recebeu 17 anos de pena para regime fechado. Há um certo desequilíbrio nisso. Nós temos de punir as pessoas que foram lá, que quebraram, que depredaram, Essas pessoas sim, precisam e devem ser punidas para que isso não aconteça novamente. Mas entendo que não dá para exagerar no sentido das penalidades com quem não cometeu atos de tanta gravidade”.
Essa é a tese do coração da extrema-direita bolsonarista e da direita de punhos de renda que se diz liberal. É uma tese que já foi rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal e que será novamente quando ele julgar, este ano, Bolsonaro e seus cupinchas. A Polícia Federal os indiciou pelo crime mais grave descrito na Constituição. Eles serão em breve denunciados pela Procuradoria Geral da República. E o Supremo os condenará até o fim do ano. Então, a inelegibilidade de Bolsonaro se estenderá além de 2030.
Motta sabe disso. Bolsonaro tanto sabe que clama por anistia antes mesmo de ser julgado. Motta joga para a plateia: seus eleitores na Paraíba e parte dos deputados que o elegeram presidente da Câmara. Se aprovada na Câmara, não será pelo Senado. Se fosse, não seria mais tarde pelo Supremo, a quem cabe a última palavra sobre matéria constitucional. Motta pretende confrontar o Supremo justamente quando precisa se entender com ele sobre a transparência devida no caso das emendas ao orçamento? A cadeira de presidente da Câmara, por enquanto, é muito maior que o seu ocupante. Que Motta cresça para melhor preenchê-la.