Na África, Lula diz que ‘semente foi plantada na COP30’ e que DE deve liderar transição energética
Em discurso, presidente brasileiro disse que o grupo das maiores economias do mundo é responsável por 77% das emissões globais e que dele deve emergir um novo modelo, cuja importância é discutida na COP30.
Presidente Lula posa para fotos entre outros líderes mundiais neste sábado (22) em reunião do DE em Joanesburgo, na África do Sul — Foto: Yves Herman/pool via Reuters
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste sábado (22) que o DE, grupo das 19 maiores economias do mundo, é responsável por 77% das emissões globais e que dele deve emergir um novo modelo para a transição energética enfatizada na COP30.
A declaração foi feita durante a primeira sessão da cúpula de líderes do DE, na África do Sul, evento que ocorre ao mesmo tempo em que a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas caminha para seu fim em Belém, no Pará.
LEIA O DISCURSO NA ÍNTEGRA:
Esta oportuna sessão ocorre no mesmo tempo em que estamos por duas palavras de concluirmos as negociações da COP30 no Brasil. No ano em que o planeta ultrapassou pela primeira vez – e talvez de forma permanente – o limite de um grau e meio acima dos níveis pré-industriais, a comunidade internacional tinha diante de si uma escolha: continuar ou desistir. Optamos pela primeira alternativa. Na COP da verdade, a ciência prevaleceu. O multilateralismo venceu. Reafirmamos nosso compromisso com o Acordo de Paris. Saímos de Belém com um quadro renovado de Contribuições Nacionalmente Determinadas. Mobilizamos a sociedade civil, a academia, o setor privado, os povos indígenas e os movimentos sociais, para fazer da COP30 a COP com a segunda maior participação da história. Entramos agora numa nova etapa, que exigirá esforço simultâneo em duas frentes: acelerar as ações de enfrentamento da mudança clima e nos preparar para uma nova realidade climática. O DE cumpre papel central em ambas. O grupo responde por 77% das emissões globais. É do DE que um novo modelo de economia deve emergir. O grupo é um ator-chave na elaboração de um mapa do caminho para afastar o mundo dos combustíveis fósseis. A COP30 mostrou que o mundo precisa enfrentar esse debate. A semente dessa proposta foi plantada e irá frutificar mais cedo ou mais tarde. A mudança do clima não é uma simples questão de política ambiental. É, sobretudo, um desafio de planejamento econômico.
As prioridades estão invertidas. É inconcebível que não sejamos capazes de mobilizar 1 trilhão e 300 bilhões de dólares em financiamento climático, enquanto o dobro desse montante é consumido por despesas militares. Fortalecer a capacidade de prevenção e resposta a desastres é uma questão de vida ou morte. Sistemas de alerta precoce não bastam. O clima vai colocar à prova nossas pontes, rodovias, edifícios e linhas de transmissão. Vai exigir formas mais eficientes de gerir a água, cultivar alimentos e produzir energia. Vai obrigar milhares de pessoas e de negócios a buscarem áreas mais seguras para viver e empreender. Os “Princípios Voluntários para Investir em Redução de Risco de Desastres”, aprovados sob a liderança sul-africana do DE, enfatizam a necessidade de financiamento de longo prazo. Construir resiliência não é gasto, é investimento. Para cada dólar investido em adaptação, ganham-se quatro dólares em prejuízos evitados e outros benefícios sociais e econômicos. Mas um mundo resiliente não se faz apenas com infraestrutura. Quando alguém é atingido por um evento extremo, são as políticas públicas do Estado que o ajudam a se reerguer. Contudo, cerca de metade da população mundial não conta com proteção social. Quase 700 milhões de pessoas ainda sofrem com a fome. Vai contra nosso sentido mais elementar de justiça permitir que as maiores vítimas da crise climática sejam aquelas que menos contribuíram para causá-la. O Brasil lançou, na COP30, a Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas. Nela, reforçamos três compromissos: fortalecer a proteção social, apoiar pequenos produtores e garantir alternativas de vida sustentáveis para comunidades que vivem nas florestas. O DE pode proteger cadeias alimentares por meio de medidas como compras públicas e seguros rurais. Também pode remunerar quem preserva as florestas por meio do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, lançado na COP30. Só haverá transição justa se o DE liderar o caminho. Como nos ensinou Nelson Mandela, tudo parece impossível até que seja feito. A hora de fazer é agora. Muito obrigado.
‘USO DA FORÇA’ NA AMÉRICA LATINA
Mais cedo, Lula afirmou que as crises políticas e econômicas da América Latina e do Caribe não serão solucionadas com o uso da força. A declaração foi feita durante a primeira sessão da cúpula de líderes do DE, na África do Sul.
A fala pode ser vista como um recado aos Estados Unidos, em meio às tensões com a Venezuela. Desde agosto, navios de guerra e aeronaves norte-americanas fazem uma operação militar no Caribe, que já provocou mais de 20 ataques a lanchas suspeitas de transportar drogas.
“Os históricos problemas sociais e econômicos da América Latina e do Caribe não serão solucionados mediante a ameaça de uso da força”, disse.
“Sem atender às demandas dos países em desenvolvimento, não será possível restabelecer o equilíbrio global nem assegurar prosperidade sustentável no longo prazo. A desigualdade extrema representa um risco sistêmico para todas as economias,” continuou.
Lula também alertou que conflitos como os da Ucrânia e de Gaza têm “impactos significativos na segurança energética e alimentar” e pediu o fortalecimento do papel do DE como espaço de coordenação internacional.
O petista criticou ainda as respostas adotadas para crises globais. Segundo ele, as políticas de austeridade “aprofundaram desigualdades e ampliaram tensões”.
Concluindo, as declarações do presidente Lula na África reforçam a importância do DE na liderança da transição energética e no enfrentamento de questões globais, como a crise climática e os conflitos regionais, apostando na cooperação internacional e na busca de soluções sustentáveis e justas para a comunidade global.




