Primeiro bebê Pitaguary registrado com nome da etnia celebra conquista ancestral: ‘continuidade à luta’

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Família celebra primeiro bebê Pitaguary a levar o nome da etnia indígena na certidão: ‘dar continuidade à luta’

Segundo a família, registro de Heine Kayan Agostinho Vieira Pitaguary marca conquista simbólica para o povo Pitaguary, que luta por reconhecimento e preservação cultural.

O bebê, batizado com sobrenome indígena no Ceará, trouxe uma renovada esperança para a comunidade. Embalado ao som de um toante, música que rege o toré (manifestação sagrada presente em diversas etnias indígenas do Brasil), o pequeno Heine Kayan Agostinho Vieira Pitaguary dorme tranquilo nos braços de seu pai, o professor Madson Vieira. Heine nasceu no dia 16 de outubro e já cumpre uma bonita missão: ele é o primeiro bebê indígena a ser registrado oficialmente com o nome da etnia a qual pertence, a Pitaguary.

A mãe Jennifer Agostinho celebra o feito, que para a comunidade é sinônimo de resgate da história e fortalecimento da identidade Pitaguary: “É um orgulho. Ele se identifica como Pitaguary, já está no sangue dele. Ele vai ter como levar isso para outras gerações. A partir dele, todo mundo vai ter esse sobrenome”, conta Jennifer, emocionada.

O povo Pitaguary é uma etnia indígena do Ceará que vive principalmente nos municípios de Maracanaú, Pacatuba e Maranguape. Heine Kayan e seus pais fazem parte dessa comunidade que anseia pela demarcação da Terra Indígena Pitaguary, homologada pelo Governo do Ceará e o Governo Federal em agosto deste ano. O pai relata ter enfrentado alguns obstáculos para registrar a criança com o sobrenome Pitaguary: “A ideia é agregar o nome do nosso povo, dar continuidade à luta e reafirmar a presença do povo aqui. A gente não sabe como vai ser daqui a 20, 30, 40 anos. Tudo muda, está em transformação”.

Jennifer é artesã e comunicadora indígena, enquanto Madson é professor e trabalha na escola indígena Ita-Ará. Juntos, o casal realiza um importante trabalho de resgate da cultura indígena e divulgação da tradição nas redes sociais e dentro da comunidade. Para eles, é crucial que as futuras gerações cresçam com consciência de sua identidade e história, com destaque para a continuidade da língua materna, o Nheengatu.

O Ceará apresenta uma diversidade linguística e étnica relevante, com 51 línguas indígenas declaradas por pessoas de 5 anos ou mais de idade e um total de 140 etnias declaradas, segundo dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE. O nheengatu, língua indígena com maior número de falantes no estado, é uma das línguas gerais dos povos indígenas no Brasil. O esforço para manter viva a cultura e a língua dos povos indígenas, como o povo Pitaguary, é essencial para garantir a preservação da identidade e tradição. O registro de Heine Kayan como o primeiro bebê indígena a ter seu sobrenome oficialmente reconhecido é um passo significativo nesse processo.

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