No dia 15 de dezembro, Sidnei Schroeder, de 52 anos, tornou-se o primeiro sacerdote gay ordenado pela Igreja Episcopal Anglicana de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Para Schroeder, sua ordenação vai além da representatividade LGBTQIA+, simbolizando um acolhimento para todas as pessoas marginalizadas pela sociedade.
“Minha vocação não se define pelo fato de eu ser gay, mas pela possibilidade de direcioná-la às minorias: mulheres, crianças, jovens, idosos, indígenas, prostitutas. É onde Cristo sempre esteve presente”, explica o reverendo.
A trajetória de Schroeder na Igreja Anglicana começou em 2009, após seu afastamento de uma fraternidade católica. Ele conta que deixou a Igreja Católica devido à incompatibilidade entre seu trabalho como guia de turismo internacional e a vida religiosa no catolicismo. Durante sua permanência na instituição, chegou a frequentar um seminário, mas relata não se sentir acolhido. “Parecia uma bolinha de Natal apagada. Via muita hipocrisia. Muitos colegas eram homossexuais, mas mantinham isso em segredo. Eu não conseguia me conformar com isso”, afirma.
Além de reverendo, Schroeder continua atuando como guia de turismo internacional, profissão que considera sua prioridade. Ele explica que a Igreja Anglicana oferece diferentes formas de viver o presbitério: integral, parcial ou livre – a última sendo a que ele escolheu, permitindo-lhe conciliar as duas atividades.
A Igreja Anglicana, fundada pelo rei Henrique VIII em 1533, chegou ao Brasil em 1890 por meio de missionários americanos que assistiam comunidades anglicanas de imigrantes ingleses. Atualmente, a instituição possui nove dioceses no país e, desde 2018, realiza casamentos homoafetivos. Além disso, em 2015, adotou uma liturgia mais inclusiva, com expressões como “Deus Pai”, “Deus Mãe” e até linguagem neutra.
Apesar da visibilidade gerada por sua ordenação, Schroeder expressa preocupação com sua segurança pessoal, mas acredita que o reconhecimento do trabalho da igreja em acolher grupos marginalizados é um passo importante. Um exemplo desse compromisso é a pastoral Anglicanos, criada após a aprovação do casamento igualitário, que discute sexualidade e busca respaldo bíblico para a vivência plena dessa dimensão humana.
Outro projeto apoiado pela igreja é a Construindo Igualdades, a primeira casa de apoio ao público LGBTQIA+ no Sul do Brasil, inaugurada em 2001.