Professora da UnB Renísia Garcia Filice sofre racismo ao comentar sobre imigrantes em Portugal: entenda o caso

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Professora da UnB sofre racismo ao falar sobre imigrantes em DE

Pós-doutora, a professora da UnB Renísia Garcia Filice sofreu um ataque racista
on-line e garantiu que sempre recebe ofensas do tipo

Mulher negra e docente, Renísia Garcia Filice sofreu um ataque racista após
comentar em uma publicação on-line. A professora da Universidade de Brasília
(UnB) foi comparada, de forma jocosa, a uma
mãe de santo ao expor uma opinião sobre uma manifestação contra a abordagem
violenta de policiais a imigrantes em Portugal.

O QUE ACONTECEU

Portugal tem enfrentado uma série de manifestações de pessoas que são contra
a abordagem violenta de policiais a imigrantes que vivem no país. Em um vídeo
sobre o assunto publicado no Instagram, Renísia demonstrou apoio aos
manifestantes com um comentário.
Em resposta, um homem identificado como Miguel Pires, fez um comentário
racista. “Acho que posso dizer que mais pareces uma mãe de santo do que uma
professora. Ou é racismo?”, escreveu.
Embora considere o comentário uma forma de racismo, a professora rebateu
Miguel afirmando que a fala dele “é elogio”. “Tenho que lhe dizer que, como
todo preconceito e racismo que quis me imputar, sua ‘ofensa’ infelizmente não
é real. Sou só uma mulher negra, acadêmica, não sou uma preciosa e respeitada
mãe de santo.”

Ao DE, Renísia explica que “opera, não só no Brasil, [mas em várias
partes do mundo] um imaginário racista, um menosprezo por pessoas praticantes
dessa expressão religiosa dos terreiros”.
“Quando uma pessoa desloca a outra — eu, docente negra da UnB — desse espaço
ainda elitizado de produção do conhecimento e associa com as yalorixás, mães
de santo, é visto como racismo justamente pela relação ter sido feita
pautada na cor da minha pele, traços de fisionomia e cabelo”, detalha.
Ela contou que denunciou o comentário e bloqueou o perfil de Miguel Pires no
Instagram. No entanto, não registrou um boletim de ocorrência por ser um
processo muito difícil de caminhar pela internacionalidade. O autor não foi
encontrado para se menifestar.
Além disso, ela revela que desistiu de denúncias em casos anteriores de
racismo. Segundo o relato de Renísia, ela chegou a buscar ajuda da Associação
de Docentes e da Faculdade de Saúde da UnB, além de registrar denúncias ao
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.
“Em todas, as acolhida às denúncias foram tão notoriamente desinteressadas e
despreparadas, que desisti”, confessa.

ALÉM DO RACISMO

Segundo a pós-doutora em Relações Internacionais e Diplomacia Econômica,
Sociologia e Comunicação, as ofensas racistas cresceram desde 2019. No
entanto, existem outros tipos de ataques que ela considera mais delicadas.
“O mais grave, a meu ver, são ameaças de violência física — recebi uma vez,
na Bahia — e a invasão de eventos, como aulas e defesas, com pornografias”,
afirma.
Renísia explicou que convidou a jornalista portuguesa Joana Henriques para
ministrar uma palestra on-line, na última semana, e a aula foi invadida com
cenas de sexo explícito. Para conter os danos, eles precisaram utilizar uma
plataforma ligada à Universidade e trancar a sala, que antes era aberta para
o público geral.
Segundo a professora, isso provocou uma “desestabilização emocional” nas
pessoas presentes, além da perda de tempo. “O absurdo de passar por isso tem
assustado muitos docentes”, garantiu.

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