Aluno e professora desenvolvem tecido com bagaço da cana-de-açúcar em Goiás
Projeto que une experimentação científica e sustentabilidade foi selecionado
para representar o estado em uma feira na Bahia. Setor diz que ideia está
alinhada aos princípios de circularidade e bioinovação.
Gabrielle e Thiago vão apresentar tecido criado a partir do bagaço de
cana-de-açúcar em uma feira, na Bahia — Foto: Divulgação/ Seduc
Uma professora e um aluno da rede pública de educação de Goiás desenvolveram um
tecido a partir do bagaço da cana-de-açúcar, com potencial para uma futura
produção têxtil. O projeto, que une experimentação científica e
sustentabilidade, foi selecionado para representar o estado em uma feira de
bioinovação que acontecerá em novembro, na Bahia.
Professora de Biologia no Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Osvaldo da
Costa Meireles, em Luziânia, Gabrielle Rosa Silva, de 29 anos, explicou ao DE que a ideia surgiu durante pesquisas, na escola, sobre o desenvolvimento de
algum produto através de material que fosse descartado de maneira comum.
Foram a inquietude e a curiosidade de Thiago Alves dos Santos, seu aluno do
terceiro ano do ensino médio, que levaram ao resultado final. Como eles já
haviam desenvolvido um papel à base de folhas de pequi, o estudante perguntou se
seria possível produzir também tecido a partir do material.
> “Eu falei assim: ‘Será? Vamos tentar. Mas vamos ver qual é o material que a
> gente mais descarta de forma comum e que tem maior quantidade de celulose’.
> Aí, eu falei: ‘vamos tentar o bagaço da cana-de-açúcar’. Porque a gente vai à
> feirinha e vê as pessoas consumindo, mas o bagaço sendo descartado”, contou
> Gabrielle.
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COMO É A PRODUÇÃO
Segundo a professora, o processo de produção envolve, após higienização, a
preparação da biomassa. “A gente extrai a celulose e depois faz como se fosse
uma dissolução porque aquele bagaço é rígido e tem que ficar no caso um
pouquinho mais, digamos, emoliente”, explica.
Só no processo de extração da celulose são necessárias cerca de três horas. O
procedimento utiliza água e soda cáustica sob temperatura constante de 80ºC para
quebrar os compostos orgânicos e liberar a celulose. Em seguida, é feita a
clarificação do material com água oxigenada.
O passo seguinte é o que ela chama de “formação”, quando o bagaço deixa o
aspecto rígido e passa a ser viscoso. “Fica como se fosse um mini algodão.
Então, a gente faz o processo de fiação, que é a formação de um fio. Depois, a
gente faz os ajustes finais. Demora um pouquinho, mais ou menos uns 10 dias para
fazer tudo”, detalhou Gabrielle.
O bagaço de cana-de-açúcar antes e depois de passar pelo processo de
transformação em tecido — Foto: Arquivo pessoal/ Gabrielle Rosa Silva
GRANDE POTENCIAL
Dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), que
representa o setor sucroalcooleiro, dão uma ideia do potencial da ideia caso
ela, um dia, ganhe escala industrial. Segundo a entidade, o Centro-Sul do país
processou cerca de 679,7 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra
2024/25. Cada tonelada de cana moída gera, em média, cerca de 250 kg de bagaço.
Assim, estima-se a geração de cerca de 170 milhões de toneladas de bagaço por
safra.
De acordo com a Unica, atualmente a maior parte do bagaço não é descartada
porque é aproveitada para cogeração de energia (térmica e elétrica) nas próprias
usinas. E uma parte menor pode ser usada em outros subprodutos, como, por
exemplo, ração animal.
Ainda assim, a entidade afirmou, em nota, que avalia como positivas iniciativas
como a da professora Gabriella e do aluno Thiago, uma vez que “ampliam o uso
sustentável dos resíduos da cana, por estarem alinhadas aos princípios de
circularidade e bioinovação que o setor vem promovendo”.
DIVULGAÇÃO E INVESTIMENTOS
Segundo a professora Gabrielle, cerca de um quilo de bagaço é capaz de gerar uma
quantidade de tecido equivalente a uma mão. “O rendimento é muito baixo, então a
gente precisa fazer esse processo várias vezes”, contou.
Para a educadora, o projeto tem capacidade de ganhar mercado mediante divulgação
e investimentos. “A gente precisa, de fato, divulgar, mostrar para as empresas
que a gente é capaz de desenvolver, nem que seja, por exemplo, a parte inicial.
Mas a gente precisa mostrar que a gente consegue fazer algo para que eles também
consigam produzir em sala industrial”, avaliou Gabrielle.
Gabrielle e Thiago vão apresentar o projeto durante a II Feira de BioInovação
Territórios do Brasil (FBioT Brasil), que acontecerá nos dias 27 e 30 de
novembro, no Instituto Federal Baiano, no Campus Uruçuca, na Bahia.




