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Professores do crime: Estelionatários anunciam pacotes de cursos com 800 formas de aplicar golpes

Última atualização 27/10/2022 | 18:11

‘Na escola que você está entrando eu sou professor’. A frase popularmente presente no vocabulário brasileiro representa um crime, um tanto inusitado, mas que vem ganhando força nas redes sociais: cursos de como aplicar golpes de estelionato. Isso mesmo, além de praticar, esses criminosos também passaram a cobrar para ensinar iniciantes no 171 (artigo que configura estelionato).

Por uma semana, o jornalismo do Diário do Estado se passou por um estelionatário, se infiltrando em grupos de WhatsApp, Telegram e Facebook, para acompanhar de perto a movimentação desses criminosos, que anunciam  pacotes de cursos com até 800 formas de lesar uma vítima, que vão desde hackear um aparelho celular, a aplicar golpes envolvendo instituições financeiras e até restaurantes. 

Visionários, além das opções de cursos, os criminosos também vendem a R$ 20, PDF’s com exemplos de como fazer o PIX falso, entre outros crimes. A ideia é não deixar de lucrar, visto que nem todos os clientes possuem dinheiro suficiente para adquirir o pacote, que pode variar de preços a depender da escolha das modalidades.

“Vem com o neguinho esquemas. Tenho esquema de Mercado Pago, virada de saldo do PicPay, esquema em restaurantes específicos como o Ifood. Tenho esquemas da Loja Americanas e Casas Bahia”, diz uma publicação. 

Criminosos oferecem pacotes de cursos de golpes. (Foto: Pedro Moura)

Compra de contas bancárias 

Alguns criminosos, que inclusive participam de uma quadrilha atuante em alguns estados, sendo também presente em Goiânia (GO), anunciam ainda a venda, aluguel e procura de contas bancárias de diferentes instituições financeiras como: Santander, Nubank, Itaú e Mercado Pago. Entre as contas oferecidas há opções com selfie (conta com foto, onde a pessoa realiza saques com reconhecimento facial) e sem selfie (conta normal, sem reconhecimento facial).

Para os mais exigentes, há as opções de contas bitz (conta-corrente digital do tipo “não-bancarizada”. Ou seja, se trata de uma conta de pagamentos pré-paga) e conta volts (conta digital, que permite o acesso aos serviços de pagamentos de contas e boletos pelo aplicativo, saques em caixas da rede banco24horas, transferências via pix, cartão sem anuidade e cartão virtual).

“É comum. É claro que há uma regra para fornecer essa conta. Conforme o dinheiro vai encontrando na conta utilizada pelo fraudador, o laranja (quem empresta, vende ou aluga a conta) ganha um percentual. Se usar a conta 10 vezes, 10 vezes ele vai receber esse valor. Porém, também é comum o criminoso criar uma conta é a vender por um valor pré-combinado. As pessoas sabem que é para a prática de ilícito”, explicou o delegado Paulo Ludovico.

Valores e parcelas 

Os valores destas contas variam de R$ 20 a R$ 70, conforme apurado pelo repórter que se passou por um estelionatário, a fim de negociar com esses criminosos. Ao todo, o homem ofereceu 11 contas em nomes de laranjas. Nas imagens é possível ver os valores de possíveis fraudes que chegam a mais de R$ 1,3 mil, cada transação.

Uma das contas, por exemplo, era do Nubank. Segundo o homem, a conta é bem movimentada e possui limite de PIX de R$ 50 mil por dia. Porém, além do valor cobrado pelo homem, o repórter teria que desembolsar 15% do valor de cada transferência. Por exemplo, uma movimentação de R$ 500, renderia R$ 150 para o laranja. 

Durante o diálogo, o criminoso chegou a oferecer uma ‘parceria’ ao repórter, se comprometendo a ‘lavar’ o dinheiro de cada golpe. Esse processo de lavagem seria realizado por um outro integrante da quadrilha, chamado de Humberto, residente em Goiânia. 

“Ele sempre manda pagamento pra mim, não recebe, apenas envia. A gente cobra esse preço para o dinheiro chegar limpo em você. A gente faz várias transações em diferentes contas para não rastrear”, escancarou o criminoso ao repórter.

Criminoso oferecendo contas bancárias ao repórter. (Foto: Pedro Moura)

Como os estelionatários despistam as autoridades

O delegado diz que esse processo de realizar múltiplas transferências é utilizado pelos estelionatários para evitar a prisão por meio do reconhecimento da conta. Ou seja, os laranjas servem como uma espécie de ‘cortina’. O processo de localizar esses golpistas é complexo, mas se resume em localizar o laranja (o mais vulnerável dentro do esquema criminoso) e posteriormente o fraudador, conforme Paulo.

O investigador conta ainda que o laranja, assim como o estelionatário, também pode ser preso por participar dos golpes. A pena para esse tipo de crime varia de um a cinco anos, além de multa que pode chegar a R$ 10 milhões.

“A conta bancária é pessoal e intransferível. Tanto é que quando a pessoa vai ao banco ou então usa os meios eletrônicos para abri-la, eles pedem uma prova de vida para confirmar a identidade do usuário. Isso precisa ficar bem claro”, concluiu.

Ato de alugar, vender ou emprestar conta para prática ilícita configura crime. (Foto: Pedro Moura)

Todo material levantado para fazer essa matéria foi repassado à Polícia Civil (PC). 

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