Profissionais de saúde trans transformam o cuidado em representatividade: ‘Vamos ocupar todos os espaços’
Entre ser e se enxergar pertencente, a experiência se desenha diferente para quem está de ambos os lados dos acolhimentos, das consultas e dos prontuários. A presença de profissionais trans na área da saúde está mudando a forma como a população trans se sente representada e acolhida. A importância da representatividade é evidente em diversos aspectos da vida, desde a infância, quando a criança sonha com seu futuro ao se ver representada na sociedade. Da mesma forma, a representatividade de pessoas trans que ocupam cargos como profissionais de saúde tem um impacto positivo nos acolhimentos e consultas.
Esta é a terceira reportagem da série “Saúde Transformada” publicada no DE, que mostra as diversas questões que envolvem as pessoas trans e o acesso à saúde. O enfermeiro Felipe Oliveira, que trabalha na saúde há sete anos, compartilhou como a sua identidade de homem trans impactou a percepção dos pacientes transgênero que atendia. “Estar nesse espaço é como se eu tivesse conseguido alcançar na minha mente o que, um dia, eu pensei que fosse inalcançável, algo que eu não viveria nunca. E poder contribuir para que as outras pessoas possam ser quem elas são, de uma forma plena e com dignidade”, avaliou o enfermeiro.
No entanto, a presença de profissionais trans na área da saúde ainda é escassa. Uma pesquisa realizada em 2024 pelo Datafolha revelou que apenas 4,5% das empresas do Brasil tinham funcionários LGBTs. Quando o recorte afunilava para pessoas trans, apenas 0,38% faziam parte desse grupo. A baixa representatividade de profissionais trans em empregos formais dificulta o acesso e o respeito aos direitos dessas pessoas. Felipe Oliveira ressaltou a importância de ter pessoas trans trabalhando nos serviços de saúde para garantir um atendimento respeitoso e acolhedor.
A psicóloga Andie de Castro, que trabalha no campo da saúde há cinco anos, também destacou a necessidade de mais profissionais trans na área. A falta de representatividade causa um sofrimento desde a infância, quando a pessoa trans ainda não compreende totalmente sua identidade. Andie, que é conselheira no Conselho Regional de Medicina da 10ª região no Ceará, enfatizou a importância de espaços de trabalho inclusivos e acolhedores para promover a expressão e o bem-estar das pessoas trans.
A pesquisa realizada na Universidade Federal do Ceará mostrou que a maioria das pessoas trans ouvidas apresentava sintomas depressivos e de ansiedade, muitas vezes relacionados a experiências negativas nos serviços de saúde. A presença de profissionais trans nesses espaços pode contribuir para um atendimento mais empático e adequado. Portanto, é fundamental aumentar a representatividade de pessoas trans na área da saúde e garantir que todos tenham acesso a um atendimento digno e respeitoso.




