Projeto GARFIELD: Aliança de Clubes da Europa contra Greenwashing no Futebol. Solução para promessas sustentáveis e transparência.

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Clubes da Europa formam aliança para combater greenwashing no futebol

Projeto GARFIELD ajuda clubes a serem fiéis a suas promessas, ações e responsabilidades sobre sustentabilidade, além de cobrarem maior transparência de patrocinadores

Greenwashing, ou lavagem verde, em português, é uma estratégia de marketing na qual empresas promovem marcas, produtos ou serviços como ambientalmente responsáveis mas sem cumprir isso na verdade. A grosso modo, é enganar sobre ser ecológico e sustentável. E um projeto inovador promete combater esse problema no futebol da Europa, epicentro da indústria da bola.

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Conheça o Projeto GARFIELD, que combate o greenwashing no futebol da Europa
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No futebol, o greenwashing costuma andar de mãos dadas com o sportswashing. Esse é o termo usado para falar de casos em que governos ou empresas investem pesado no esporte para melhorar sua reputação — e tirar do horizonte más ações. A combinação dos dois acontece quando o dinheiro vai para marketing no esporte e tenta ocultar a imagem de poluidor do planeta.

A Fifa, por exemplo, foi criticada por atletas e organizações de direitos humanos e ambientais pelo patrocínio recebido da Aramco (estimado em US$ 100 milhões por ano), companhia de petróleo da Arábia Saudita, como revelou a revista “Forbes” na semana passada.
[https://www.forbes.com/sites/vitascarosella/2025/10/03/fifa-formula-1-icc-under-fire-for-aramco-sponsorships/]

A estatal é acusada de não cumprir as obrigações do Acordo de Paris sobre a redução de emissão de gases do efeito estufa. Trata-se da petrolífera que mais emite gás carbônico em todo o mundo, segundo levantamento da organização Influence Map
[https://influencemap.org/briefing/The-Carbon-Majors-Database-2023-Update-31397]. Se fosse um país, ficaria em quarto lugar no ranking mundial.

+ Sportswashing: futebol recebe R$ 5,4 bilhões de patrocínio do setor de combustíveis fósseis
[https://ge.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2024/09/21/sportswashing-futebol-recebe-r-54-bilhoes-de-patrocinio-do-setor-de-combustiveis-fosseis.ghtml]

Vini Jr ao lado de Khalid Al Zamil, vice-presidente de Relações Públicas da Aramco — Foto: Getty Images

Para combater esse problema que impacta o futebol, a Universidade Scuola Superiore Sant’Anna, de Pisa, criou o Projeto GARFIELD, em associação com quatro clubes da Europa: Aris FC, da Grécia; Betis, da Espanha, Hofffenheim, da Alemanha; e o Porto, de Portugal.

— Greenwashing é um problema crescente não só no futebol, mas em outros setores econômicos. Organizações esportivas ou não querem comunicar ações sustentáveis o quanto antes, mas precisam entender que para isso precisam sustentá-las com informações sólidas — comentou o professor Tiberio Daddi, da Universidade Scuola Superiore Sant’Anna, coordenador do projeto, ao ge [https://ge.globo.com/].

Também faz parte do consórcio a organização Sport Positive, que ajuda a comunidade do esporte a aumentar suas ambições climáticas.

— Acredito que um grande desafio para organizações esportivas, do futebol, sobre greenwashing é que, em muitos casos, a sustentabilidade não está tão integrada internamente quanto poderia estar, em todos os departamentos. Isso pode levar a um greenwashing acidental: uma decisão em outra área da organização ofusca o trabalho da equipe ESG — disse Claire Poole, fundadora e CEO da Sport Positive.

+ Copa 2022: Fifa fez promessa falsa sobre sustentabilidade
[https://ge.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2023/06/07/copa-2022-fifa-fez-promessa-falsa-sobre-sustentabilidade-diz-orgao.ghtml]

Gianni Infantino, presidente da Fifa, prometeu uma Copa de 2022 neutra em emissões de carbono — Foto: Divulgação / Fifa

O acrônimo GARFIELD significa, em português: greenwashing evitado por meio de relatórios: iniciativa do futebol para líderes ambientais desenvolverem. É ser transparente sobre ações de sustentabilidade para evitar falsos discursos de responsabilidade ambiental.

— Transparência é fundamental para impulsionar clubes a trabalharem o impacto concreto de seus projetos e atividades, e não se concentrar unicamente na parte midiática. É importante que as comunicações ambientais se baseiem em dados concretos, fundamentos sólidos. Isso permite a elementos externos, como torcedores e patrocinadores, avaliarem corretamente o compromisso dos clubes — comentou Fausto Scaldaferri, especialista de sustentabilidade do Betis.

Iniciado em janeiro deste ano, o projeto recebe financiamento da União Europeia (UE) e tem previsão de 30 meses de duração. Mas a intenção é abri-lo para mais clubes e ir além desses 30 meses. Os trabalhos estão na fase de estudo das informações e alegações de vários clubes europeus, para apurar possíveis riscos de greenwashing e, por outro lado, encontrar exemplos positivos no mercado.

— O greenwashing afeta a credibilidade dos clubes: quando se comunica algo que não é totalmente verdadeiro ou é exagerado, os torcedores, patrocinadores e até os reguladores perdem confiança. Há a questão legal e regulatória, e há ainda o desperdício de recursos. Em vez de investir em medidas concretas para reduzir o impacto ambiental, pode-se cair na tentação de gastar em campanhas de marketing que não mudam nada — disse Teresa Santos, responsável pela área de sustentabilidade do Porto.

+ Quinze clubes mais ricos do mundo viajam 183 mil km na pré-temporada e geram poluição
[https://ge.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2025/08/13/quinze-clubes-mais-ricos-do-mundo-viajam-183-mil-km-na-pre-temporada-e-geram-poluicao.ghtml]

O que é greenwashing? [https://s02.video.glbimg.com/x240/13921909.jpg]

O que é greenwashing?

O greenwashing atrasa mudanças reais e prejudica o próprio ambiente e as comunidades ligadas ao esporte”.
— Teresa Santos, responsável pela área de sustentabilidade do Porto.

A iniciativa também vai criar uma ferramenta específica para ajudar clubes a comunicarem corretamente os seus dados, além de ajudar na formação de funcionários e promover eventos sobre transparência no esporte. O encontro mais recente do grupo foi em junho, na Alemanha.

Relatórios bem elaborados sobre sustentabilidade obrigam os clubes a cobrar mais informações de seus fornecedores, o que gera um círculo virtuoso de atenção ao tema, segundo integrantes do GARFIELD.

Esse programa busca ajudar os clubes a seguir a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD), legislação que entrou em vigor na UE em janeiro de 2023. A lei exige que empresas relatem o impactos das suas atividades corporativas no meio ambiente e na sociedade. A indústria do futebol europeu terá que cumprir isso até 2028.

Companhias aéreas como a Qatar Airways investem pesado no patrocínio a clubes da Europa — Foto: Getty Images

+ Futebol joga no lixo o equivalente a 500 milhões de camisas por ano só no Reino Unido
[https://ge.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2025/05/21/futebol-joga-no-lixo-mais-de-500-milhoes-de-camisas-por-ano-so-no-reino-unido.ghtml]

De acordo com estudo publicado neste ano
[https://journal.igiinsight.com/index.php/gimer/article/view/22/24] por pesquisadores das universidades de Toulon, Groningen e Dortmund, com base em dados de 2010 a 2024, dos chamados “patrocínios verdes” no esporte, 23% eram superficiais. Os considerados autênticos também eram 23%.

Há discussão sobre se esses poluidores exploram o futebol de forma estratégica e sistemática só para fins de greenwashing, e os grandes clubes da Europa não costumam ser acusados de mentir sobre seus dados de sustentabilidade. Mas isso não muda a questão: o quanto essas empresas e o futebol em si levam a sério suas preocupações ambientais?

— Se você perguntar: clubes ignoram ou banalizam suas obrigações ambientais, ou são cúmplices em ajudar outras organizações a desviar a atenção de seus históricos ambientais ruins? Sim. Podemos dizer que clubes de futebol estão associados ao greenwashing. Mas em vez de debater se isso é ou não greenwashing, parece muito mais importante para o futebol cortar o cordão umbilical com os poluidores e, ao mesmo tempo, colocar a casa em ordem para que, como indústria, melhore significativamente sua própria pegada ambiental — comentou Simon Chadwick, professor de esporte e economia geopolítica.

Enquanto o futebol é fascinado por dinheiro, empresas como as grandes petrolíferas continuarão a pagar e a colher os benefícios. ”
— Simon Chadwick, professor de esporte e economia geopolítica da SKEMA.

* O repórter viaja a convite da organização Sport Positive, que ajuda a comunidade do esporte a aumentar suas ambições climáticas. O Sport Positive Summit 2025 tem o apoio do COI e da ONU.

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