Mulher que teve lábio arrancado por cão terá rosto reconstruído por projeto já
operou mais de 200 pacientes de graça em SC
Projeto Leozinho começou a partir de uma promessa feita pelo profissional.
Iniciativa começou em 2021.
Equipe durante cirurgias para Projeto Leozinho, em Santa Catarina
Equipe durante cirurgias para Projeto Leozinho, em Santa Catarina
Uma promessa. Esse foi o início de um projeto que atende, gratuitamente, pessoas
que buscam uma cirurgia facial, mas que não podem arcar com os custos.
Idealizado pelo médico Raulino Brasil, o Projeto Leozinho atende em Araranguá, no Sul de Santa
Catarina, pacientes de todo o país.
Entre os casos mais marcantes, a iniciativa reconstruiu o lábio de Natani Santos,
de 35 anos. A mulher, natural de Ji Paraná (RO), foi mordida pelo próprio
cachorro, da raça chow-chow, no início do mês.
O primeiro procedimento ocorreu na tarde de segunda-feira (26) e outras
cirurgias estão previstas. O Projeto Leozinho surgiu em 2021 e, desde então,
operou entre 300 e 350 pessoas. Desse total, 200 fizeram todos os procedimentos
de graça. Aqueles que têm condições, ajudam a pagar custos como o do
anestesista, e o dinheiro é revertido para ajudar quem não pode arcar com
nenhuma despesa (entenda melhor abaixo).
Equipe em atendimento durante Projeto Leozinho — Foto: Projeto
Leozinho/Divulgação
Equipe em atendimento durante Projeto Leozinho — Foto: Projeto
Leozinho/Divulgação
A promessa foi feita enquanto os filhos gêmeos do cirurgião, que nasceram
prematuros, estavam em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Se eles
sobrevivessem, eu ia criar esse projeto e ajudar as pessoas. E deu tudo certo”,
resumiu o médico. Os gêmeos vão fazer 5 anos.
Inclusive, antes o projeto se chamava Nola, em homenagem a eles. Mas Raulino
trocou o nome por causa de um paciente, o Léo, o primeiro a ser operado pela
iniciativa.
Ele tinha neurofibromatose, uma doença genética. Um dos principais sinais dela
consiste no aparecimento de nódulos e tumores na pele.
Raulino contou que Léo fez sete cirurgias no Hospital Infantil. A oitava, porém,
não podia mais realizar naquela unidade de saúde, já que o paciente já tinha
passado da idade em que podia ser atendido no local. Sabendo da situação, o
cirurgião resolveu operá-lo.
“O Léo tinha 17 anos. Ele era um menino mais isolado e, após as cirurgias, ele
tirou carteira de motorista, conseguiu um emprego. Ele tinha um rosto bem
deformado. Mas aí conseguiu emprego. Meses depois, ele foi promovido três
vezes”, contou o cirurgião.
“Só que infelizmente o Léo pegou uma infecção. Ele teve um problema renal muito
grave. Obviamente não teve nada a ver com a cirurgia, isso aconteceu três anos
depois. E o Léo veio a óbito”, relembrou. Com a morte do querido paciente, ele
rebatizou o projeto em homenagem a ele.
Cirurgião Raulino Brasil em atendimento no Projeto Leozinho — Foto: Projeto
Leozinho/Divulgação
Cirurgião Raulino Brasil em atendimento no Projeto Leozinho — Foto: Projeto
Leozinho/Divulgação
As cirurgias são feitas no hospital de Raulino, em Araranguá. “A gente opera
muito pacientes de estética, que pagam por isso. E os anestesistas acabam
ajudando também. Então, eles trabalham comigo, recebem, pela parte particular
das pessoas de estética. E, no projeto, eles acabam também não cobrando. Então,
a gente bota praticamente todo dia. Eu opero duas faces de estética e um
projeto”, explicou o cirurgião.
A maioria dos pacientes atendidos gratuitamente pelo Projeto Leozinho procuram a
iniciativa para grandes reconstruções faciais, contou Raulino. Dessa forma, a
maioria das cirurgias são feitas nas seguintes situações:
* neurofibromatose
* paralisia facial
* sequelas de pós-operatório
* síndromes que causam deformação na face
A seleção e como tudo vai ser feito depende das condições de cada paciente. Por
isso, os profissionais que atuam na iniciativa conversam antes com cada um.
Quando o paciente tem condições de ajudar o projeto, esse dinheiro é usado para
arcar com as despesas de outros.
“Daí a gente cobra o anestesista e o centro cirúrgico. Esse valor vai para uma
conta, que eu utilizo para pagar passagem de outros pacientes que vêm para cá
para a cidade. Hoje eu estou com cinco pacientes na cidade de fora. Eu pago
hospedagem, eu pago avião”, declarou o cirurgião.
> “Acho que é um negócio muito de confiança. E as pessoas acabam falando a
> verdade, não precisa ficar comprovando renda”.
Os casos mais urgentes são operados primeiro. “Eu olho o caso e digo: ‘Ó, esse
aqui tem que operar quanto antes, esse aqui já bota na fila’. E vai se criando
uma fila”.
E há casos em que o cirurgião orienta que o paciente procure ajuda na própria
cidade. “Entra muita gente em contato, por exemplo, para corrigir uma pequena
cicatriz. Eu falo, ‘não vale a pena você vir para cá de avião, arrecadar
dinheiro, às vezes, para a gente corrigir uma cicatriz pequena. Você pode fazer
na unidade básica do município'”, completa.
Um dos casos atendidos pelo projeto que ganhou destaque foi a operação do rosto
da influenciadora Mariana Michelini,
que perdeu o lábio em uma harmonização com PMMA em 2020 no interior de São
Paulo. Ela fez a cirurgia em Santa Catarina de forma gratuita.
A ideia é expandir o projeto. Raulino contou que, no final do mês, haverá uma
reunião para treinar alguns cirurgiões em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul,
para que eles possam ajudar pacientes no estado gaúcho.