Projeto Soul Feminina: Transformando Dor em Recomeço no Interior de SP

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Coragem é o primeiro passo’: projeto Soul Feminina transforma dor em recomeço no interior de SP

Criado pelo Judiciário, o projeto une educação, empoderamento e acolhimento para romper ciclos de violência e promover igualdade de gênero.

1 de 8 Projeto Soul Feminina teve início em Adamantina e se estendeu para outras cidades — Foto: Reprodução

Projeto Soul Feminina teve início em Adamantina e se estendeu para outras cidades — Foto: Reprodução

“Muitas vezes, o silêncio é imposto pelo medo, pela vergonha ou pela dependência emocional e financeira. Mas eu costumo dizer: coragem é o primeiro passo.” Com essa fala da juíza Ruth Duarte Menegatti é refletida uma triste realidade que atinge não só o Oeste Paulista, mas todo o Brasil: a violência contra a mulher.

Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), até 31 de agosto desse ano, 720.919 novos casos de violência contra a mulher foram registrados em todo o país. Só em Presidente Prudente (SP), foram 958 novos processos e 1.764 pendentes. Em Adamantina, o levantamento aponta 99 novos casos e 228 pendentes.

São números que revelam não apenas a gravidade do problema, mas também o desafio diário enfrentado por mulheres que buscam proteção e justiça. Muitas desistem do processo por medo, vergonha ou dependência, mas o Soul Feminina surge como uma iniciativa transformadora, que atua além do judiciário, promovendo empoderamento e educação.

EMPODERAMENTO E EDUCAÇÃO TRANSFORMAM VIDAS

Criado em 2018 dentro do escopo do Roteiro Único de Trabalho Humanizado, o projeto atua em diferentes frentes: educação, assistência social, hospitais psiquiátricos, sistema prisional e parcerias com a Polícia Civil.

O objetivo do projeto é promover igualdade de gênero, prevenção da violência e protagonismo feminino. Um documentário apresenta o Soul Feminina.

Entre as ações de destaque está a Cartilha da Mulher, elaborada em parceria com reeducandas da Penitenciária Feminina de Tupi Paulista, que também contribuiu para a 3ª edição do Calendário da Vida. O material foi apresentado no 2º Seminário Técnico-Científico da Revista Brasileira de Execução Penal, promovido pela Senappen, em Brasília, no dia 29 de maio de 2025.

2 de 8 Projeto é apresentado em, diversos locais e, um deles, foi um centro universitário em Adamantina — Foto: Croeste/Divulgação

Projeto é apresentado em, diversos locais e, um deles, foi um centro universitário em Adamantina — Foto: Croeste/Divulgação

A juíza Ruth Duarte Menegatti explicou ao DE que “o Soul Feminina se diferencia por atuar de forma multinuclear”. “Envolver não apenas mulheres, mas também homens e toda a sociedade é essencial, porque o enfrentamento à violência de gênero só é possível de forma coletiva”, pontuou.

Ela reforçou ainda que, ao longo de sua carreira, casos de feminicídio a marcaram profundamente, mostrando o ponto máximo do ciclo da violência que poderia ser interrompido com prevenção e respostas rápidas:

> “Durante a minha carreira, vivi inúmeros processos dolorosos de famílias destruídas pela violência de gênero. É essa realidade que me impulsiona a trabalhar não apenas dentro do judiciário, mas também na sociedade, através de projetos transformadores”, lembrou.

Além da Cartilha da Mulher, o Soul Feminina promove oficinas, debates e rodas de conversa, proporcionando autoconhecimento e reflexão sobre valores, identidade e escolhas, com impacto direto na autoestima das participantes.

3 de 8 Projeto foi idealizado pela juíza Ruth Duarte Menegatti — Foto: Reprodução

Projeto foi idealizado pela juíza Ruth Duarte Menegatti — Foto: Reprodução

SOUL FEMININA NA PENITENCIÁRIA FEMININA DE TUPI PAULISTA

O projeto chegou à Penitenciária Feminina de Tupi Paulista em 2020, por meio de uma parceria do Tribunal de Justiça de São Paulo, da SAP e da 3ª Vara de Adamantina, inspirada no Roteiro Único de Trabalho Humanizado.

Segundo Adriana Alkmin, chefe de departamento do Complexo Penal de Tupi Paulista, “muitas reeducandas chegam com a autoestima abalada, inseguras e sem consciência do próprio valor”.

> “Ao longo das oficinas do Soul Feminina, elas começam a se transformar, passam a se expressar com mais confiança, fazem escolhas mais conscientes e voltam a acreditar em si mesmas”, contou ao DE.

O projeto inclui Cartilha da Mulher, Calendário da Vida, oficinas de dinâmicas, palestras e rodas de conversa, criando um ambiente seguro e acolhedor. Os resultados são percebidos tanto no comportamento das reeducandas quanto na relação com familiares e equipe da unidade. Algumas participantes se tornam multiplicadoras, orientando outras mulheres sobre violência doméstica.

Além das reeducandas, o Soul Feminina implantou Grupos Reflexivos voltados a homens condenados por violência doméstica e feminicídio na Penitenciária Masculina Vanderlei Tartari Monteiro. A metodologia segue a Lei Maria da Penha e o Roteiro Único de Trabalho Humanizado, com cinco encontros pedagógicos e psicossociais abordando:

* Conscientização sobre violência de gênero e construção da masculinidade;
* Gestão de emoções e resolução de conflitos;
* Promoção da mudança de comportamento e construção de rede de apoio;
* Autoconhecimento e ressignificação da identidade masculina.

4 de 8 Projeto foi apresentado na Penitenciária Feminina de Tupi Paulista — Foto: Croeste/Divulgação

Projeto foi apresentado na Penitenciária Feminina de Tupi Paulista — Foto: Croeste/Divulgação

“Investir em educação reparadora é fundamental para quebrar ciclos de violência e desigualdade. Dentro do sistema prisional, ela contribui para a humanização da pena e valoriza o papel da mulher, como previsto na Lei 14.232/21. O Soul Feminina promove inclusão social, autoestima e redução da violência — gerando mudanças reais e duradouras”, afirmou Adriana.

No Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher, nesta sexta-feira (10), o Soul Feminina reforça a importância da coragem e da ação coletiva.

> “Coragem é o primeiro passo. A partir desse gesto, a proteção, a lei e a rede de apoio virão logo depois. Nenhuma mulher deve ser deixada para trás”, reforçou a juíza Ruth Duarte Menegatti.

O projeto demonstra que justiça, educação e sistema prisional podem caminhar juntos para promover transformação social, empoderamento e igualdade, servindo de modelo para políticas públicas voltadas à proteção e fortalecimento da mulher no Oeste Paulista e em todo o país.

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