Última atualização 29/03/2022 | 21:00
O aumento dos casos de feminicídio tem assustado a população e chama atenção para a necessidade de mais políticas públicas e de cuidado por parte das mulheres. Embora o assassinato motivado pelo gênero seja a face mais extrema de uma questão sociocultural permeada pelo machismo, alguns comportamentos abusivos observados em um relacionamento amoroso heterossexual ou homossexual podem indicar sinal vermelho.
Para a psicóloga Carolina Ribeiro, é possível evitar companheiros (as) com o perfil abusador. Os sinais começam em simples comentários nem sempre interpretados como ameaçadores.
“Para usuárias de aplicativo, eu sugiro uma pesquisa na internet com o nome do pretendente para saber se há algum registro de violência praticada por ele. A pessoa não chega e simplesmente mata a outra. Muito antes disso, há agressividade, xingamento, desmotivação, coação e até constrangimento do parceiro por fazer algumas coisas que o fazem feliz”, explica.
Ela relata que associar ciúmes a amor é muito comum entre as vítimas e isso reforça o sentimento de baixa autoestima. Trata-se de um ciclo no qual a mulher se sente desejada pelo parceiro e ele sente autoridade para agir limitando hábitos e rotina da companheira para mantê-la à sua mercê. As ações dele, inclusive, são uma forma de encobrir as próprias inseguranças e traumas da infância que se manifestam na vida adulta reproduzindo um relacionamento visto por ele dentro da família.
“É claro que não estamos falando de atitudes isoladas, mas recorrentes porque ciúmes existem em toda relação. É muito importante que a mulher note a abordagem desse homem com familiares como mãe e irmã para entender a dinâmica dele. A verdade é que ambos têm problemas emocionais. O tratamento psicoterápico é muito importante. Se tem cura? Depende de uma escolha pessoal porque o acompanhamento tende a ser ao longo da vida já que será sempre voltado para se educar em relação ao seu comportamento”, diz a especialista.
Como pôr um fim?
A prevenção é ideal, mas quando xingamento, gritos, ameaças, ciúmes, humilhação, manipulação e isolamento fazem parte do namoro ou casamento é preciso ter uma conduta coerente com o contexto para dar um fim no compromisso amoroso. A dica de Carolina é “sair á francesa”. Segundo ela, evitar contato pode ser a melhor estratégia para mudar as estatísticas registradas entre 2020 e 2021 pelo Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH). O número de delitos contra as mulheres triplicou nesse período.
“Silêncio, rede de apoio e assistência jurídica são o necessário para a mulher sair dessa situação de violência. O ideal é que esteja firme na decisão de terminar esse relacionamento e não aceitar recaídas. Eu oriento sempre a denunciar possíveis agressões para pedir medidas protetivas, se for o caso, e nunca ficar sozinha, por isso devem ter um lugar para ficar enquanto se reerguem. Estar sempre cercada por familiares e amigos inibem ações violentas e manipulação por parte desse abusador. Eles podem tentar convencer a parceira de que ela é frágil até para cuidar dos filhos”, sugere a psicóloga.