Do anonimato ao topo da África: conheça o Pyramids, rival do Flamengo no Intercontinental
Clube fundado em 2008, rebatizado e reestruturado em 2018, se tornou potência continental rapidamente e teve brasileiros no processo até conquistar a Champions africana pela primeira vez.
Alberto Valentim comenta vontade de dono do Pyramids em 2018
Clube que não figurava nem entre os gigantes do Egito há poucos anos, o Pyramids, criado há 17 anos e reconstruído há apenas sete, conquistou seu maior título e agora busca fazer história na Copa Intercontinental. A ascensão meteórica do time egípcio virou símbolo de um “novo” modelo de futebol no país. E o DE mostra como a equipe chegou ao auge em poucos anos, sendo a próxima rival do Flamengo no Intercontinental: os dois times duelam por uma vaga na final da competição diante do PSG. O confronto será realizado no sábado, em Doha, no Catar, às 14h (de Brasília).
Me lembro bem que, nas primeiras reuniões nossas, com a diretoria e com o próprio Sheikh, eles já diziam que o Pyramids seria o time a ser batido.” — Alberto Valentim, técnico brasileiro que teve passagem pelo clube.
A fala de Alberto Valentim, que passou pelo Pyramids em 2018, relata como se tornar referência no futebol africano era um plano concreto do clube egípcio. O momento em que o técnico brasileiro chegou ao time coincidiu com a reestruturação do clube, que nasceu 10 anos antes e precisou passar por mudanças profundas, inclusive no nome, para chegar aos seus objetivos.
O Pyramids nasceu em 2008, mas com outro nome: Al Assiouty Sport. Pequeno, sem expressão nacional e longe dos centros tradicionais do Egito. O clube só foi promovido à primeira divisão egípcia pela primeira vez em 2014, mas foi rebaixado. Em 2016/17, eles retornaram à elite do torneio, e só em 2018 ganharam força.
O clube foi comprado na época por Turki Al-Sheikh, ex-presidente da Autoridade Esportiva Geral da Arábia Saudita e ex-presidente honorário do Al-Ahly, que foi o grande responsável pelas mudanças. O clube foi renomeado para Pyramids, mudou da cidade de Assiut para Novo Cairo, e saltou de coadjuvante nacional para campeão.
DINHEIRO, AMBIÇÃO E CONTRASTES CULTURAIS
Turki Al-Sheikh era investidor e ligado ao Al Ahly – o maior campeão do Egito. Porém, após brigar com o presidente do gigante local, Mahmoud El Khatib, decidiu aplicar seu dinheiro em outra equipe – e viu no Al-Assiouty Sport uma oportunidade.
Sob o novo comando, o plano era transformar um time sem história, ainda novato, em uma potência moderna, capaz de competir com os rivais. O futebol egípcio era dominado há décadas por Al Ahly e Zamalek.
A reconstrução do antigo Al-Assiouty Sport foi profunda. A mudança não foi apenas de nome, escudo e cidade. O clube montou centro de treinamento de padrão internacional e passou a investir pesado no mercado para disputar de igual para igual com os principais adversários locais.
Alberto Valentim foi um dos brasileiros contratados nessa reformulação. O treinador ficou apenas quatro jogos no comando, em 2018, e acabou sendo demitido após não acatar um pedido de Turki para não escalar Ribamar, na época ex-Athletico-PR. Apesar do pouco tempo, Valentim conta que em conversas com o saudita dava para perceber o quanto queria que aquele clube crescesse.
Porém, as quantias enormes injetadas no Pyramids e as contratações de peso para o futebol local levaram o dono do clube a receber críticas políticas e da imprensa. No Egito, o investimento feito pelo saudita não era bem aceito – o país preza pela tradição e identidade.
MUDANÇA DE INVESTIDOR
Por isso, a era Turki Al-Sheikh, apesar de transformadora, durou apenas um ano – e foi recheada de polêmicas. O atacante Arthur Caíke foi contratado e, antes mesmo de estrear, foi negociado com o Al Shabab, da Arábia Saudita. Além da própria demissão de Alberto Valentim por não ter aceitado a interferência do presidente.
Apesar dos momentos conturbados, a passagem do investidor ajudou o clube a crescer esportivamente. Naquela temporada, o Pyramids terminou o Campeonato Egípcio em terceiro lugar – o que garantiu vaga na Copa das Confederações da CAF.
Fora de campo, em 2019, o clube do Egito anunciou a transferência de propriedade para Salem Saeed Al Shamsi, dos Emirados Árabes. Com o novo nome no comando financeiro, o Pyramids chegou à final da Copa das Confederações da CAF, mas acabou perdendo para o Berkane, por 1 a 0.
ZICO, DUNGA… O APREÇO POR BRASILEIROS
A era de Turki Al-Sheikh também marcou um olhar diferente do Pyramids para o mercado brasileiro. No mesmo ano em que contratou Alberto Valentim, trouxe outros cinco nomes do Brasil para reforçar o elenco.
O atacante Keno, que atuava no Palmeiras; Ribamar, naquela ocasião ex-Athletico-PR; Carlos Eduardo, do Goiás; Arthur Caíke, que era da Chapecoense; e Rodriguinho, ex-Corinthians. Apesar da pouca convivência com a torcida local, o treinador Alberto Valentim relembra que os brasileiros chamavam atenção no país.
Atualmente, o clube egípcio conta apenas com um brasileiro: Ewerton Silva, que chegou em julho, como o maior reforço para a temporada 2025/26. O valor da transferência foi de 2,8 milhões de euros (cerca de R$ 18 milhões na cotação da época).
O brasileiro, atualmente com 28 anos, nasceu no Amapá, mas não chegou a atuar em times no país. Desde que começou a carreira, Ewerton Silva atuou no Zlaté Moravce, da Eslováquia, Mladá Boleslav, Pardubiceda, Slavia Praga e Baník Ostrava, todos da República Tcheca.
A admiração pelo futebol brasileiro também aparece no atual elenco entre dois jogadores estrangeiros, que foram apelidados com nomes canarinhos: Mostafa Mohamed Zaki Abdelraouf, o Zico, e Mahmoud Abdelaati, o Dunga.
O PRIMEIRO TÍTULO E A HISTÓRICA CHAMPIONS
A partir de 2018, e também daquela legião brasileira, o Pyramids passou a figurar entre os grandes times em finais locais, mas ficou por alguns anos batendo na trave. Na temporada 2023/24, enfim a equipe conquistou seu primeiro título, a Copa do Egito, principal competição de mata-mata do país.
Na ocasião, o Pyramids enfrentou o ZED e venceu com gol do atacante congolês Fiston Mayele – que permanece no clube e é um dos destaques hoje. Essa taça foi histórica no país, já que desde 2011 um clube diferente de Al Ahly e Zamalek não levantava o troféu.
O Pyramids elevou o nível em junho de 2025, um ano depois da primeira conquista – e faturou logo o troféu mais cobiçado do futebol africano. A equipe conquistou seu primeiro título continental ao vencer a Liga dos Campeões da África neste ano, garantindo vaga para o Intercontinental.
O título veio em uma final contra o Mamelodi Sundowns, da África do Sul – que esteve na Copa do Mundo de Clubes logo depois. Depois de empatar fora de casa, o time egípcio venceu por 2 a 1 – garantindo um 3 a 2 no agregado.
O feito histórico colocou o Pyramids ao lado de clubes gigantes do país, como Al Ahly, Zamalek e Ismaily, já que o time se tornou o quarto egípcio a conquistar a principal competição de clubes da África.
O desafio agora é tentar um resultado que novamente colocaria o clube novato em capítulos históricos do futebol mundial. O Pyramids precisa vencer o Flamengo, atual campeão da Copa Libertadores e do Brasileirão, para chegar à decisão do Intercontinental contra o poderoso PSG, vencedor da última Champions. O duelo será realizado neste sábado, em Doha, no Catar, às 14h (de Brasília).
Para chegar à semifinal – chamada de Challenger Cup pela Fifa -, o clube do Egito precisou superar outros dois adversários em duelos realizados em setembro. Primeiro, bateu o Auckland City, da Nova Zelândia, e depois superou o Al-Ahli, da Arábia Saudita.




