“Quem manda no governo hoje não é o Bolsonaro, é o Lira”, afirma Delegado Waldir

Imagem mostra delegado Waldir, candidato ao Senado por Goiás, pelo União Brasil

Em entrevista exclusiva ao jornal The Intercept Brasil, o deputado federal Delegado Waldir e ex-líder do PSL na Câmara Federal, relevou como funciona o orçamento secreto do “Bolsolão”, o esquema de compra de votos pelo governo de Jair Bolsonaro. Na conversa, o ex-bolsonarista afirma que cada deputado receberia R$ 10 milhões na eleição de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Casa.

Durante as negociações para a eleição de Lira, o deputado afirmou que “R$ 10 milhões [em emendas do orçamento secreto por deputado]. E na [reforma da] Previdência, R$ 20 milhões por parlamentar”, ao ser questionado pelo veículo sobre em que ele votou, o delegado diz não se lembrar e que recebeu as orientações do partido – o PSL orientou o voto em Lira. Além disso, ele afirma que os líderes partidários recebiam o dobro desse valor.

Ainda, de acordo com Waldir, hoje é o presidente da Câmara, Arthur Lira, quem comanda o governo “quem manda no governo hoje é o Lira. Não é o Bolsonaro, é o Lira”. O deputado explica o motivo pelo fato que que Lira detém verba em cada votação e que os ministérios não têm mais recursos. O dinheiro é liberado pela Câmara Federal e pelo Senado “eles são os concentradores da distribuição de emendas extraordinárias [do orçamento secreto], o que os torna superpoderosos”, disse.

Delegado Waldir explica a compra de votos do governo de Bolsonaro

De acordo com o deputado federal Delegado Waldir, as negociações funcionam da seguinte maneira “o governo federal traz demandas, não sei na pessoa de quem, da Casa Civil, sei lá eu. Chega no Lira, que é braço direito do governo hoje, que é quem manda no governo […] Ele vê a necessidade do governo e dialoga com os líderes, ok? E vai ver qual a disponibilidade de recursos.”, disse.

Entretanto, segundo o Delegado, ele não recebeu os R$ 20 milhões prometidos “da eleição da Câmara eu tive R$ 450 mil liberados […] O governo me proibia de receber. Sou um dos lobos maus do governo. Eles acham que sou um lobo mau do governo”, afirma.

A verba ao Delegado Waldir não foi repassada devido ao episódio em que o político afirma que iria “implodir” Bolsonaro “desde que vazou aquele áudio pelo Daniel Silveira [deputado federal do PSL, preso no inquérito dos atos antidemocráticos], eu fui excluído”, contou.

Na entrevista, Waldir acusa o deputado federal por Goiás, Vitor Hugo, conhecido como Major Vitor Hugo, também do PSL, de receber R$ 300 milhões em emendas secretas “Duzentos milhões, ele recebeu de extra. De extra não devo ter recebido R$ 20 milhões. E ele recebeu R$ 200 milhões. Isso cria animosidade, que vai desgastar o Lira quando ele for vir para a reeleição [da presidência da Câmara]. Porque a grande parte não recebe os R$ 200 milhões que o Vitor Hugo recebeu, que o Lira recebeu, que um grupo pequeno de parlamentares recebeu”, afirmou.

Como funciona o Bolsolão

O orçamento secreto, conforme explicado pelo The Intercept Brasil, sempre existiu nos governos federais, acontece que antes as negociações eram feitas diretamente com o poder Executivo. As listas de quem trocava por dinheiro as bases eleitorais sempre foi secreta.

Com  o governo Bolsonaro, a Câmara Federal e o Senado criaram as chamadas “emendas de relator”, inclusas na lei orçamentaria de 2020. É através dessa lei que todo o dinheiro arrecadado pelo governo federal é direcionado.

Antes da mudança, a destinação da verba, cuja rubrica era a RP2, se referia ao governo federal. Ele decidia onde seria alocado o orçamento. Agora, a rubrica de verba, a RP9, é autorizada pelo parlamentar relator do orçamento, ou seja, o dinheiro fica a cargo do Legislativo. Em 2020, R$ 20,1 bilhões foi destinado em emendas. Em 2021, foram R$ 18,5 bilhões.

O orçamento secreta mora, exatamente, nas emendas RP9, pois elas não discriminam quem está recebendo esse valor e o motivo. Nos documentos aparecem apenas o nome do relator do orçamento – ou seja, o poder Legislativo. Na prática, a negociação é escondida dos cidadãos.

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Indiciado, Bolsonaro diz que Moraes “faz tudo o que não diz a lei”

Após ser indiciado pela Polícia Federal (PF), o ex-presidente Jair Bolsonaro publicou em sua conta na rede social X, nesta quinta-feira (21), trechos de sua entrevista ao portal de notícias Metrópoles. Na reportagem, ele informa que irá esperar o seu advogado para avaliar o indiciamento. 

“Tem que ver o que tem nesse indiciamento da PF. Vou esperar o advogado. Isso, obviamente, vai para a Procuradoria-Geral da República. É na PGR que começa a luta. Não posso esperar nada de uma equipe que usa a criatividade para me denunciar”, disse o ex-presidente.

Bolsonaro também criticou o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF). “O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei”, criticou Bolsonaro.

Bolsonaro é um dos 37 indiciados no inquérito da Polícia Federal que apura a existência de uma organização criminosa acusada de atuar coordenadamente para evitar que o então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu vice, Geraldo Alckmin, assumissem o governo, em 2022, sucedendo ao então presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas últimas eleições presidenciais.

O relatório final da investigação já foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Também foram indiciados pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos; o ex-diretor da Agência Brasileira de Informações (Abin) Alexandre Ramagem; o ex-ministro da Justiça Anderson Torres; o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno; o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; o presidente do PL, Valdemar Costa Neto; e o ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, Walter Souza Braga Netto.

Na última terça-feira (19), a PF realizou uma operação para prender integrantes de uma organização criminosa responsável por planejar os assassinatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes.

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