Em dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os crimes de racismo saltaram de 34 para 61 entre 2020 e 2021, em Goiás. Esse aumento de 77,1% chama a atenção, além da elevação de 480 para 614 ocorrências de injúria racial nesses dois últimos anos, uma porcentagem de 26,3%. Como explicar esses números?
A questão histórica do racismo
De acordo com o doutor em história Givaldo Corcinio, Goiás tem histórico de racismo tanto quanto o Brasil, por conta das condições que se dão por todo o país. Segundo ele, a escravização e a organização da sociedade em estruturas de privilégio social, ligadas ao modelo de exploração econômica, têm dado esse resultado.
No entanto, o aumento dos crimes de racismo no estado pode ser visto por dois pontos. Por um lado, há mais mobilização e conscientização, levando as pessoas a identificarem a possibilidade de denunciar com maior facilidade situações de preconceito. Por outro, há o fenômeno de reação ou exposição daqueles que tinham ações racistas cotidianas.
“Diante do aumento da difusão e da discussão sobre o racismo, aqueles que entendem que ‘antes estava tudo certo’ começam a reforçar suas atitudes. É quase como uma afirmação da ‘velha ordem’, onde ‘tudo funcionava sem problemas’, não vendo as contradições e os privilégios que essa visão encerra”, explica o historiador.
Para ele, o caminho para contornar essa situação é a conscientização, por meio da discussão sobre racismo em suas diversas dimensões. Além disso, Givaldo afirma que é preciso haver punição para aqueles que ainda insistem em considerar que a pele é um fator de distinção social e uma melhoria de condições do povo preto em vários aspectos.
O lado da psicologia
De acordo com a doutora em psicologia Juliana Hannum, a discriminação acontece das mais variadas formas e pelos mais variados motivos. “Percebemos que um dos fatores que influenciam e torna-se gatilho é a intolerância ao diferente”, comenta.
Segundo ela, no estado de Goiás ainda é possível acompanhar limitação de compreensão da diversidade cultural por valores rígidos, onde em alguns núcleos familiares há pouca ou nenhuma oportunidade de conhecer o outro, de respeitar e entender as diversas culturas da sociedade. Desta forma, não se percebem os preconceitos.
“Percebemos a intolerância, o preconceito, a falta de limite nas relações sociais e podemos acrescentar da pouca visibilidade de políticas públicas sobre o assunto. Uma possibilidade seria a maior conscientização da sociedade, com campanhas dentro de instituições escolares”, opina.