Ré pela morte das filhas gêmeas diz ter sido agredida por policiais penais: ‘me quebraram um dente’
Caso teria ocorrido supostamente antes da audiência de custódia, em 2024. Mulher está presa preventivamente. Defesa afirma não ter tido acesso à denúncia.
Mortes das gêmeas Antonia e Manoela Pereira são investigadas pela Polícia Civil. Gisele Beatriz Dias, ré pela morte das filhas Antonia e Manuela Pereira, de 6 anos, em Igrejinha, no Vale do Paranhana, afirma ter sido agredida por policiais penais. O caso teria ocorrido supostamente antes da audiência de custódia dela, realizada em 16 de outubro de 2024.
Por nota, a Corregedoria-Geral do Sistema Penitenciário confirmou que há uma investigação em andamento sobre a denúncia, mas afirmou que não pode detalhar sobre o procedimento.
De acordo com o advogado de defesa, José Paulo Schneider, a suspeita relatou que teria levado tapas no rosto, socos e pontapés. Ela acredita que as agressões tenham ocorrido no Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), em Porto Alegre. Conforme relato da ré, em um desses momentos, um dos dentes teria caído.
Ela estima que seriam de 5 a 6 homens e que a levaram para uma sala. Ela diz ainda ter sido forçada a ficar de cabeça baixa, o que dificultaria a identificação dos homens.
A mulher disse que não comentou sobre as violências na audiência de custódia por medo de sofrer represálias. Manuela Pereira morreu no dia 7 de outubro; a irmã, Antônia, morreu no dia 15. A partir do segundo caso, que ocorreu oito dias depois do primeiro, a polícia civil começou a investigação.
A Corregedoria-Geral do Sistema Penitenciário informa que há processo apuratório sobre a denúncia em questão, todavia não é possível detalhar as informações tendo em vista que o procedimento está em andamento.
Mãe é indiciada por morte de filhas gêmeas em Igrejinha. Manuela Pereira foi encontrada desacordada em casa, onde estava com a mãe, em 7 de outubro. Ela foi localizada desacordada em casa e foi levada para o hospital, onde já chegou morta. A suspeita inicial era de infarto. Oito dias depois, em 15 de outubro, Antônia Pereira foi encontrada também desacordada em sua cama, onde antes estava dormindo. O Corpo de Bombeiros atestou o óbito no local.
A partir do segundo caso, a polícia suspeitou do comportamento da mãe. Os indícios foram reforçados após um médico relatar que ela falou ter “ideias perversas” em relação às filhas durante o período em que esteve internada na ala psiquiátrica para tratamento de um quadro de depressão profunda, semanas antes das mortes.
O depoimento do profissional de saúde levou a polícia a pedir a prisão temporária da mãe, que foi detida enquanto prestava depoimento em 15 de outubro.
Além do médico, o depoimento da filha mais velha de Gisele, irmã das gêmeas, também reforçou as suspeitas da polícia. Ela disse que a mãe seria “plenamente capaz” de matar as irmãs.
O inquérito que apurou o caso das gêmeas Manuela e Antônia Pereira, de 6 anos, traz como um dos indícios um relatório de buscas enviado pelo Google à polícia após determinação judicial. A investigação foi concluída em 10 de dezembro.
Ele indica que a mãe das meninas, Gisele Beatriz Dias, indiciada e presa por suspeita de assassiná-las, fez buscas para descobrir se veneno de rato é capaz de matar um ser humano.
As pesquisas, segundo o inquérito, teriam sido feitas nos dias 10, 11 e 12 de janeiro de 2024 e depois apagadas do celular. As gêmeas foram encontradas mortas em 7 e 15 de outubro do mesmo ano.
O sumiço repentino do registro de uma câmera de segurança que registrava o movimento da casa também é elencado como comportamento suspeito da mulher. Segundo o inquérito, Gisele disse ao marido que, dias antes da morte da primeira menina, um bandido furtou da casa dinheiro, devolveu no dia seguinte, mas levou consigo o cartão de memória que guardava as imagens. O delegado entendeu que isso foi “uma conveniente maneira de Gisele não ter suas ações filmadas no local enquanto seu marido trabalhava fora nos dias imediatamente anteriores à morte de Manuela”.
O criminalista José Paulo Schneider recebeu com surpresa a revelação da denúncia feita sob absoluto sigilo para as partes envolvidas. O advogado lembra que o caso foi amplamente divulgado na imprensa até a acusada não ter defesa constituída. O sigilo máximo foi decretado após a audiência que a ré revela ter sofrido agressões e ameaças por agentes públicos, antes da Audiência de Custódia. O advogado salienta que o pedido para atuar em sua defesa veio por parte do pai da ré, que relatou não acreditar que foi a filha que cometeu o crime.
Para a defesa, decretar o sigilo de uma denúncia, e automaticamente sonegar informação importante para um profissional devidamente cadastrado, foge das regras do estado democrático de direito. Estendendo assim as vendas da Justiça à defesa, que não é cega, mas ficou às escuras, sendo levada em erro.
O advogado afirma que, mesmo após a denúncia, segue sem ter acesso integral ao processo.
Por fim, a defesa ressalta que a transparência e a paridade de informações para o devido é requisito fundamental para a ampla defesa. E que tudo será meticulosamente contestado nos autos durante o curso do processo, sobretudo as condutas que colocam em xeque a imparcialidade judicial.