Por reforma, Campinas transfere 800 alunos a prédio 27 km distante e vê tempo de aulas perdido no trânsito ‘como pedagógico’
Estudantes da EMEF Padre Leão Vallerie, no Parque Valença, terão de cruzar a cidade, em ônibus contratados pela prefeitura, e trajeto irá provocar a perda de pelo menos duas aulas por dia. Pais reclamam da distância e do impacto no ensino, mas Secretaria diz que “atendeu os anseios da comunidade”.
Secretaria de Educação de Campinas vê período em transporte de alunos como “pedagógico”
A reforma de uma escola da rede municipal de Campinas (SP) vai alterar a rotina de 800 alunos da região do Parque Valença a partir desta segunda-feira (8). A obra fará com que estudantes do ensino fundamental da EMEF Padre Leão Vallerié sejam transferidos, por ônibus contratados pela prefeitura, para um prédio distante cerca de 27 km, em trajeto que deve representar duas aulas a menos por dia. Para a Secretaria de Educação, no entanto, o tempo em trânsito é considerado “como pedagógico”.
Niraldo José da Silva, representante regional do NAED (Núcleos de Ação Educativa Descentralizada) Noroeste, defende que o tempo de transporte dos alunos será considerado como conteúdo, conforme previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ele destaca que a experiência de convivência durante o trajeto também contribui para o aprendizado dos estudantes.
Embora os pais ouvidos pelo DE demonstrem preocupação não só com a distância, mas também que menos aulas dentro da escola por causa do traslado possam representar em crianças e adolescentes que já sofreram impactos durante a pandemia da Covid-19, o representante da Secretaria de Educação vê “benefícios” no modelo adotado.
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“Eles não vão perder. Eu acho que nós temos que sair desse patamar, desse paradigma, que escola é só dentro da sala de aula e aprendendo conteúdo. Escola é movimento. Está certo? Já tem o conteúdo preparado para eles fazerem em casa também. Só que eles vão ter uma vivência em cima disso. Uma vivência de fazer o percurso. Isso também é aprender. Isso também é conhecimento. As pessoas imaginam a escola lá do século passado, conteudista, onde só tinha giz e lousa verde. Hoje não é mais isso”, argumenta Niraldo.
Questionado sobre a reposição das aulas perdidas, o representante do NAED Noroeste destacou que não há nenhum plano para isso – e muito menos voltar atrás no plano adotado.
“Como é que você vai fazer um plano de substituição de uma aula presencial? Vai colocar de sábado também as aulas lá no Fitel? É isso que os pais querem? O planejamento da Secretaria junto com o Conselho de escola é que esses alunos terão o material didático para fazer em casa e serão orientados dentro das aulas”, explica Niraldo.
Mãe de um estudante de 11 anos que está no 5º ano do ensino fundamental 1, Ana Flávia de Mendonça Nascimento expressa preocupação com o impacto da mudança na rotina do filho. Ela destaca que o aluno tem enfrentado dificuldades para lidar com o conteúdo em casa durante o período de reforma da escola.
Grupo de pais e mães de aluno reclamam da distância do local escolhido para receber os alunos da escola do Parque Valença, e da perda de duas aulas por dia por causa do transporte de ônibus
Para fazer o trajeto até a nova escola desde o antigo Terminal Campo Grande, que será reativado para servir como ponto de embarque e desembarque dos alunos, o DE levou 37 minutos para percorrer a distância, só que de carro e no período da tarde.
O trajeto para o novo espaço alugado pela prefeitura pode ser feito tanto pela Av. John Boyd Dunlop como pela Rodovia Campinas-Monte Mor (SP-101), além de trechos pelas rodovias Anhanguera (SP-330) e D. Pedro I (SP-065), em pontos que sofrem com congestionamentos em horários de pico – entenda abaixo como vai funcionar a logística do transporte.
Mães reclamam da distância que filhos terão de enfrentar durante obra em escola
“A desculpa que eles deram foi que as escolas perto não tinham liberação, então por isso que colocaram lá para o fim do mundo. Não pensam nas crianças”, diz Antônia Larissa, de 26 anos, mãe de um estudante de 7 anos.
Terminal Campo Grande
Para realizar a operação logística de transferir os 800 alunos para outra região da cidade, a pasta reabriu o antigo Terminal Campo Grande. O espaço, no entanto, ainda passava por ajustes nesta sexta-feira (5), como instalação de fiação elétrica, vasos sanitários e trabalho de limpeza.
Os alunos serão deixados no terminal para o transporte contratado pela prefeitura, que segundo informe entregue aos pais, contará com dois zeladores e um vigilante.
Para os estudantes da manhã, a programação prevê saída do terminal às 6h50, próximo do que seria o início das aulas na escola, às 7h.
Em um cenário sem trânsito, de carro, são pelo menos 37 minutos entre um ponto e outro, o que provoca, segundo os pais, a perda de uma aula.
No DE, a preocupação dos pais se estende ao período que os alunos ficarão dentro do ônibus, considerando a extensão do trajeto e o possível impacto na saúde e no aprendizado das crianças.
Educação especial
Mesmo para quem não usará os ônibus, e sim a van ofertada para alunos da educação especial, como é o caso do filho de Luciane Aparecida Favoto da Silva, de 45 anos, a distância preocupa.
Alexsander, de 12 anos e autista de nível 2 de suporte, terá uma cuidadora na van, mas permanecer tanto tempo em transporte é uma situação atípica para ele.
Niraldo destaca que houve um aumento no transporte de alunos da educação especial devido à mudança, visando garantir o suporte adequado para esses estudantes.
Em relação às obras na EMEF Padre Leão Vallerie, a previsão da Secretaria de Educação é que as reformas durem ao menos 9 meses. Durante esse período, estão planejadas correções estruturais, como a substituição do telhado e a instalação de ar-condicionado, além de melhorias na acessibilidade do prédio.
O representante do NAED Noroeste garante que a escola será entregue completamente acessível, mesmo que as obras de acessibilidade não estejam previstas na licitação e sejam realizadas pela equipe de manutenção interna da Secretaria.
Em meio às preocupações dos pais e comunidade escolar, a Secretaria de Educação destaca que a mudança no transporte dos alunos atendeu aos anseios da comunidade, apesar das críticas e dos desafios enfrentados pelo novo esquema logístico.apesar das críticas e dos desafios enfrentados pelo novo esquema logístico.