A Polícia Civil de São Paulo realizou uma operação no início de novembro que resultou na apreensão de aproximadamente 30 toneladas de creatina pertencentes ao Grupo Soldiers, uma das maiores empresas de suplementos alimentares do Brasil. A investigação, iniciada em setembro, apura suspeitas de adulteração nos produtos vendidos em plataformas como o Mercado Livre.
Yuri Silveira de Abreu e Fabiula de Arruda Freire, conhecidos como o ‘Rei’ e a ‘Rainha da Creatina’, são os proprietários da Soldiers. A empresa, que projeta faturar R$ 250 milhões em 2024, tem uma estratégia de marketing agressiva, incluindo interações com personalidades como Neymar e Ronaldo Fenômeno.
Durante a operação, dois locais ligados ao Grupo Soldiers foram interditados pela Vigilância Sanitária. Um deles, na zona leste de São Paulo, servia como centro de distribuição, mas não possuía licença para funcionamento. O outro, localizado em Jundiaí, era usado para manipulação e envase de creatina sem autorização sanitária. Os endereços não constavam nos rótulos dos produtos, o que configura descumprimento da legislação.
As investigações começaram após policiais identificarem inconsistências em recibos de produtos vendidos em um estande da marca no shopping Anália Franco, zona leste de São Paulo. Em outubro, a Justiça autorizou buscas em endereços relacionados ao grupo, resultando na apreensão de documentos, equipamentos eletrônicos e celulares.
Nos celulares, foram descobertas conversas que indicavam reclamações de clientes sobre supostas irregularidades nos produtos, incluindo a presença de larvas, fios de cabelo, pedaços de luvas e até bexigas plásticas. Além disso, um vídeo compartilhado por funcionários mostrou creatina empedrada sendo quebrada com ferramentas improvisadas, como martelos e chaves, expondo o produto a riscos de contaminação.
Relatórios policiais apontaram também problemas de rastreabilidade, com embalagens que não indicavam precisamente os locais e horários de fabricação. Isso contraria o Código de Defesa do Consumidor, dificultando ações de órgãos reguladores em caso de emergências.
Por meio de nota, a Soldiers afirmou que os locais lacrados pertenciam a prestadores de serviços independentes e que o grupo segue padrões de qualidade superiores aos exigidos pela lei. “Não houve qualquer justificativa plausível para a abertura da investigação”, declarou a empresa, destacando que sua fábrica, recentemente vistoriada pela Vigilância Sanitária, continua operando normalmente.
A Soldiers também negou irregularidades e considerou a investigação “vaga e sem objeto definido”. Segundo a nota, os produtos apreendidos estão à disposição para perícia, o que, segundo a empresa, comprovará a segurança e a qualidade dos suplementos.
A creatina produzida pela Soldiers consta na lista de produtos aprovados pela Abenutri (Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais). No entanto, o suposto problema de adulteração levou a polícia a notificar grandes distribuidores, como o Mercado Livre, que afirmou investigar o caso e adotar medidas contra eventuais irregularidades.
A operação é um desdobramento de outra investigação realizada neste ano sobre a venda de produtos com prazo de validade vencido. O Grupo Soldiers, que tem um crescimento de 900% em um ano, atribui seu sucesso à estratégia “Excellence for Less”, que combina qualidade e preços competitivos, eliminando intermediários e vendendo diretamente ao consumidor.
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