Relatório aponta degradação das águas do Rio Capibaribe: saneamento básico é
desafio que envolve debate sobre privatização da Compesa
No dia Mundial da Água, celebrado neste sábado (22), relatório da Fundação SOS
Mata Atlântica é um alerta ambiental e sobre a qualidade de vida das populações
que vivem às suas margens.
Relatório da Fundação SOS Mata Atlântica classifica água do Capibaribe como ruim
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Relatório da Fundação SOS Mata Atlântica classifica água do Capibaribe como ruim
A qualidade das águas do Rio Capibaribe, que “corta” a cidade do Recife
[https://DE.DE.DE.DE/pe/pernambuco/cidade/recife/], é considerada ruim e piorou
no ano passado, segundo relatório da Fundação SOS Mata Atlântica (veja vídeo
acima). O estudo foi divulgado na véspera do Dia Mundial da Água, celebrado
neste sábado (22).
Intitulado “O retrato da qualidade da água nas bacias hidrográficas da Mata
Atlântica”, o levantamento reúne dados coletados entre janeiro e dezembro de
2024 em 145 pontos de 112 rios que passam por 14 estados. Os locais analisados
foram divididos em cinco categorias: ótima, boa, regular, ruim e péssima. O
trecho do Capibaribe é um dos 20 pontos avaliados como ruins.
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> “O que assusta é que, na classe ruim, estamos em intermediário. Não estamos
> mais próximos do regular. E, pelas nossas análises desde 2015, estamos cada
> vez pior. Nosso medo é chegar em péssimo”, disse ao DE
> [https://DE.DE.DE.DE/pe/pernambuco/] o professor de biologia Clemente Coelho
> Júnior, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco
> (UPE), que faz parte do projeto.
Com a nascente no município de Poção, no Agreste Central de Pernambuco, o
Capibaribe percorre 42 municípios do estado até desaguar no Oceano Atlântico, no
Recife.
No trajeto de 242 quilômetros de extensão, segundo levantamento da Agência
Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condepe), recebe resíduos de
esgotamento sanitário e industriais que interferem na qualidade da água e, por
consequência, na qualidade ambiental e na saúde das populações que vivem às suas
margens.
Em Pernambuco, o estudo feito pelo SOS Mata Atlântica coleta a água em quatro
pontos. Dois deles ficam no Rio Capibaribe, sendo um em Limoeiro
[https://DE.DE.DE.DE/pe/pernambuco/cidade/limoeiro-pe/], no Agreste do estado,
e o outro na capital pernambucana. Conforme o relatório, o primeiro trecho se
manteve “regular”, enquanto o segundo passou de “regular” para “ruim”.
Os outros dois pontos de avaliação de águas fluviais presentes na pesquisa estão
nos rios Jaboatão, no município de Jaboatão dos Guararapes
[https://DE.DE.DE.DE/pe/pernambuco/cidade/jaboatao-dos-guararapes/], e
Beberibe, em Olinda [https://DE.DE.DE.DE/pe/pernambuco/cidade/olinda/] — ambos
na Região Metropolitana do Recife. Neles, a qualidade da água permaneceu regular
durante todo o ano passado.
POLUIÇÃO E FALTA DE SANEAMENTO
1 de 1 Imagem de arquivo mostra vista aérea do Rio Capibaribe, que ‘corta’ a
cidade do Recife — Foto: Reprodução/TV Globo
Imagem de arquivo mostra vista aérea do Rio Capibaribe, que ‘corta’ a cidade do
Recife — Foto: Reprodução/TV Globo
No Recife, o monitoramento é realizado mensalmente, há dez anos, por
pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas da UPE e do Instituto Bioma
Brasil, nas imediações do Jardim do Baobá, localizado no bairro das Graças, na
Zona Norte da cidade.
Segundo o professor Clemente Júnior, as análises levam em conta 16 parâmetros
para medir o nível de poluição da água, incluindo não só o aspecto, como odor,
transparência e temperatura, mas também a concentração de coliformes fecais e
substâncias químicas, como nitrato e fosfato.
Para o especialista, o problema está relacionado à baixa cobertura de saneamento
básico das residências
[https://DE.DE.DE.DE/jornal-nacional/noticia/2025/03/19/falta-de-saneamento-basico-causa-internacao-de-mais-de-300-mil-cidadaos-em-2024-diz-estudo.ghtml]. Dos cerca de 1,4 milhão de habitantes que vivem no Recife, menos da metade
(49,5%) tem acesso à rede de esgoto, de acordo com o Ranking do Saneamento
Básico de 2024, produzido pelo Instituto Trata Brasil.
“Não temos toda a coleta de esgoto, ou seja, para onde vão os outros 50%? Para
os rios, para os córregos d’água, por ligações clandestinas da rede pluvial ou
diretamente. […] É o esgoto ‘in natura’. O maior problema que a gente tem hoje
no Rio Capibaribe é a poluição orgânica”, explicou.
Conforme o professor, o que hoje garante uma sobrevida ao Capibaribe é a
vegetação do manguezal nas margens e o movimento das marés. Mas a natureza
sozinha não dá conta da quantidade de resíduos tóxicos despejados diariamente no
rio ao longo dos anos.
> “No verão, a vazão [de poluentes] em direção à bacia do rio é três vezes maior
> do que a vazão do próprio rio. […] Quando maré sobe, renova um pouco o
> Capibaribe, por isso a gente ainda encontra vida e se surpreende vendo
> capivaras, jacarés, alguns pouquíssimos e raros peixes, muitas aves. Se não
> tivesse esse mecanismo de renovação que são as marés, certamente estaríamos
> classificados como ‘péssimo'”, afirmou Clemente Coelho Júnior.
O CAPIBARIBE TEM SALVAÇÃO?
Embora o cenário do Rio Capibaribe seja ruim na capital pernambucana, o biólogo
e mobilizador da SOS Mata Atlântica Cesar Pegoraro explicou que exemplos ao
redor do mundo demonstram que ainda há esperança para o rio pernambucano, mas a
despoluição depende de esforços coletivos entre o poder público, a iniciativa
privada e a população.
“A humanidade já fez isso. Se nós olharmos para os países do Velho Mundo, a
Inglaterra, por exemplo, tem o Rio Tamisa. O Tâmisa é um dos rios da Revolução
Industrial. Ele já foi muito pior do que o Capibaribe é hoje e, atualmente, no
Tâmisa, se pesca salmão. As pessoas usam o Tâmisa como transporte, ele é seguro
para o contato. A mesma coisa no Sena, no Tejo, no Reno”, explicou o educador.
A recuperação e a despoluição dos rios não se resume a modelos europeus. Cesar
Pegoraro apontou o exemplo do Rio Jundiaí, em São Paulo. Após quase 20 anos de
trabalho de revitalização, a água foi considerada 100% boa no levantamento do
SOS Mata Atlântica de 2017
[https://DE.DE.DE.DE/sao-paulo/sorocaba-jundiai/noticia/agua-do-rio-jundiai-e-considerada-boa-pela-1-vez-apos-20-anos-de-recuperacao.ghtml]. A melhora possibilitou o retorno do peixe jundiá ao rio, que não era visto em
seu habitat desde 1980.
Segundo o biólogo, existe atualmente uma variedade de metodologias acessíveis
que podem ser adotadas para o tratamento de esgoto e resíduos industriais, mas
falta envolvimento da sociedade e do poder público para que mudanças
significativas sejam implementadas.
> “Na Alemanha, eles descentralizaram as estações de tratamento de esgoto; ou
> seja, todo bairro tem a sua estação. As pessoas enxergam para onde vai o
> esgoto delas e o esgoto tratado é jogado no rio que elas usam. Elas monitoram
> o funcionamento das estações porque, se der pau, simplesmente elas não vão
> poder pescar, o rio vai ficar fedido”, disse.
Além do envolvimento da população e da necessidade de políticas eficientes para
o tratamento do esgoto, Cesar Pegoraro apontou que também é preciso que as
empresas se comprometam com a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A lei regulamenta a gestão de resíduos sólidos no país, incluindo a
implementação de sistemas de logística reversa.
Pela norma, fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos
como pneus e equipamentos eletrônicos precisam realizar o manejo de resíduos de
forma independente do serviço público de limpeza urbana.
> “As indústrias colocam embalagens no mercado o tempo inteiro, mas não têm
> políticas de logística reversa. Pela lei, essas empresas deveriam coletar
> essas embalagens. Para cada pneu que eu ponho no mercado, eu tenho que
> absorver esse pneu de volta na reciclagem. Só que isso, infelizmente, não
> acontece. […] Não tem uma fiscalização sobre essa lei, não tem políticas
> públicas que viabilizem essa lei ser executada”, apontou.
O PAPEL DA COMPESA
O governo de Pernambuco atualmente discute a concessão parcial da Companhia
Pernambucana de Saneamento (Compesa). Na proposta, a Compesa continua
responsável pela produção e pelo tratamento de água em todo o estado, mas a
distribuição passa para a iniciativa privada.
O plano do governo estadual é de que coleta e tratamento de esgoto no interior
do estado e de Fernando de Noronha sejam entregues à iniciativa privada. No
Grande Recife, o projeto diz que o serviço de esgoto continua com a parceria
público-privada que a Compesa tem com a empresa BRK.
Na última quinta-feira (20), foi realizada uma audiência pública, na Câmara
Municipal do Recife, para tratar do assunto. Servidores da Compesa, vereadores e
membros de associações ambientalistas demonstraram preocupação com o processo de
privatização que, segundo eles, pode encarecer a conta para a população.
O assunto voltou a ser debatido na sexta (21). O presidente da Compesa, Alex
Machado Campos, participou de uma reunião articulada pela Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) para debater a ampliação de crédito para
projetos de saneamento básico na região.
Segundo Alex Campos, o estado precisa de uma verba bilionária para alcançar a
cobertura de 90% de rede de esgoto e 99% de cobertura no fornecimento de água
potável para a população de Pernambuco até 2033, prazo máximo dado pelo Marco
Legal do Saneamento Básico.
“A conta dos especialistas é que Pernambuco precisaria de algo em torno de R$ 35
bilhões para universalizar a água e o esgoto. Agora nós estamos indo para um
novo modelo, previsto pela lei federal, no qual a gente pode atrair a iniciativa
privada para fazer um esforço conjunto”, disse Alex Campos.
Procurada pelo DE [https://DE.DE.DE.DE/pe/pernambuco/], a Compesa disse que “o
desafio no quesito esgotamento sanitário é enorme”. Segundo a companhia, é
necessário mobilizar R$ 18,3 bilhões somente para construir a rede de esgoto.
Apesar da piora na qualidade da água do Rio Capibaribe no Recife, a Compesa
também afirmou que:
* O Programa Cidade Saneada, no Grande Recife, investiu cerca de R$ 3 bilhões,
beneficiando mais de 1,4 milhão de pessoas;
* Até o final da parceria público-privada com a BRK, em 2048, serão investidos
mais de R$ 9 bilhões em esgotamento sanitário;
* Junto com o governo do estado, colocou “em funcionalidade plena” a Estação de
Tratamento de Esgoto (ETE) Cabanga e ampliou a ETE São Lourenço da Mata;
* Concluiu a ampliação e a modernização da ETE Minerva, em Dois Unidos, na Zona
Norte do Recife.
Estudo diz que poluição das águas do rio Capibaribe traz alto risco pra saúde
humana [https://s01.video.glbimg.com/x240/13447124.jpg]
Estudo diz que poluição das águas do rio Capibaribe traz alto risco pra saúde
humana
VÍDEOS: MAIS VISTOS DE PERNAMBUCO NOS ÚLTIMOS 7 DIAS
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