O sonho latino-americano de Oscar Niemeyer que ficou abandonado por uma década e agora volta a ganhar vida em Foz do Iguaçu
Paralisada desde 2014, obra na Universidade Federal da Integração Latino-Americana, símbolo de integração e ensino, será finalizada com apoio da DE e Itaipu. Previsão é que entrega da primeira fase ocorra até 2027.
A última obra de Oscar Niemeyer é construída em Foz do Iguaçu
Projetado pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, considerado uma das figuras-chave da arquitetura moderna, o campus da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) caminha para voltar a ganhar vida em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, depois de ficar 10 anos abandonado.
O projeto do campus, intitulado de “Arandu”, foi entregue por Niemeyer em 2008 ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que à época estava no segundo mandato. A proposta era de a construção simbolizar a união entre os povos da América Latina por meio da educação em um ambiente multicultural e bilíngue, mas a execução passou por complicações, como aditivos financeiros e auditorias fiscais, o que resultou na paralisação.
Segundo Jair Valera, arquiteto responsável pelo escritório Oscar Niemeyer atualmente, a obra reflete o sonho de Niemeyer em promover a integração regional e a educação pública de qualidade entre os povos da América Latina – a Unila tem alunos de 23 países.
Agora, a obra, que representa um dos últimos projetos do arquiteto, volta a ganhar forma em parceria com o Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops), agência da Organização das Nações Unidas (ONU), em conjunto com a Itaipu Binacional e o Ministério da Educação (MEC). O investimento será de R$ 752 milhões, valor que será repassado pela Itaipu. A primeira fase da obra tem previsão de conclusão até 2027.
Nesta segunda-feira (3), marcando a retomada das obras, foi iniciado um programa de visitação ao canteiro. Quem quiser fazer um pedido de agendamento de visita precisar acessar o site da Unila. Podem visitar o local até 15 pessoas por grupo.
Os impasses na obra
As obras do campus começaram em 2010, mas foram interrompidas em 2014 após divergências com as construtoras responsáveis.
Em 2024, o projeto passou por revisão técnica e atualização das plantas de arquitetura e engenharia, incluindo adequações de segurança e acessibilidade.
Em 10 de junho deste ano, a ordem de serviço para retomada foi assinada.
Segundo o gerente de projetos do Unops, Rafael Esposel, o principal desafio foi avaliar a condição da estrutura após 10 anos de paralisação.
A Unops é responsável pela fase 1 da retomada, que inclui a finalização do edifício central, do restaurante universitário, da biblioteca e do bloco de salas de aula. As entregas serão feitas de forma escalonada ao longo dos próximos três anos.
A previsão é que o restaurante fique pronto até março de 2026, e o complexo principal, totalmente finalizado, seja entregue até 2027. A segunda fase do projeto ainda não está prevista.
Um projeto com assinatura de Niemeyer
Considerado uma obra-monumento, o campus foi um dos últimos projetos desenvolvidos em vida por Oscar Niemeyer, arquiteto e urbanista brasileiro renomado mundialmente. Ele morreu em 2012.
Ao longo da carreira, Niemeyer projetou cinco universidades, em Brasília, na Argélia, no Rio de Janeiro e em Foz do Iguaçu. No Paraná, foi o responsável pelo projeto do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, um dos principais cartões-postais da cidade.
O projeto “Arandu” tem nome com origem guarani, unindo as palavras “Ara” (tempo, espaço, cosmos) e “Andu” (sentir e ouvir), e significa “sabedoria”. Segundo a Unila, o termo reflete a conexão entre o conhecimento ancestral e o acadêmico.
Limitação de espaço na Unila
Com mais de cinco mil alunos, a Unila enfrenta hoje limitações de espaço. A maioria das aulas e atividades administrativas ocorre em prédios alugados, o que gera custos mensais superiores a R$ 1 milhão, segundo a universidade.
Para Dario, a conclusão do Campus Arandu representa um marco na consolidação da universidade.
O novo campus terá 94 mil metros quadrados de área construída e contará com sistemas mais eficientes de energia e sustentabilidade. De acordo com a Unops, as atualizações técnicas foram realizadas sem alterar o projeto original de Niemeyer.
Obra deveria ter sido entregue em 2015
Na programação original, o novo campus da Unila deveria estar em funcionamento desde 2015, com três prédios concluídos.
Inicialmente, a obra foi planejada em duas etapas. A primeira previa a construção dos prédios administrativo, de aulas e do restaurante universitário, com investimento estimado em R$ 120 milhões e prazo de dois anos. Essa fase permitiria o início das atividades no local.
Após o início das obras, o consórcio responsável pediu um aditivo financeiro alegando aumento no número de pilares e blocos de fundação, além de uma “descoberta geológica inesperada”.
“À medida que o projeto avançou, começaram a surgir vários aditivos. São custos imprevistos que nem sempre estão definidos no momento da contratação”, explicou Giuliano Derrosso, pró-reitor de extensão da Unila.




