Retratos do artista Dalton Paula surpreendem ao serem tema de questão no Enem 2025

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Famoso internacionalmente, artista que mora em Goiás se surpreende ao ter retratos usados em questão no Enem 2025

Dalton Paula, de 42 anos, usa a arte como uma forma de reconhecer o protagonismo de corpos negros. Retratos de Zeferina e João de Deus foram apresentados em exposição no Museu de Arte de São Paulo.

Retratos do artista visual Dalton Paula aparece em questão do DE 2025 — Foto: Leda Abuhab/Masp | Reprodução/Instagram Sertão Negro

O artista visual Dalton Paula, e 42 anos, usa a arte como uma forma de reconhecer o protagonismo de corpos negros, historicamente silenciados. Em entrevista ao de [https://de.de.globo.com/go/goias/], ele contou ter se surpreendido ao ter os retratos de sua autoria presentes em uma questão no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025. Natural de Brasília [https://de.de.globo.com/df/distrito-federal/cidade/brasilia/] e morador de Goiânia [https://de.de.globo.com/go/goias/cidade/goiania/] desde a década de 1990, Dalton é reconhecido internacionalmente pelas suas contribuições artísticas.

“Foi uma surpresa! Enviaram a questão no meu WhatsApp e começou a chover mensagens: ‘meu sobrinho fez a prova’, ‘eu fiz a prova’, e assim por diante. Recebi mensagens de vários lugares, foi uma repercussão muito grande”, ressaltou o artista.

Os retratos que compuseram a questão do Enem são de Zeferina e João de Deus Nascimento, apresentados na exposição Histórias Afro-Atlânticas, realizada pelo Museu de Arte de São Paulo (Masp), em 2018. Eles fizeram parte da prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, feita por mais de 3,5 milhões de estudantes brasileiros, no domingo (9).

“Na ocasião, me pediram para criar retratos de personalidades de povos negros que não tinham retratos na pintura e fazer como se eles tivessem”, explicou Dalton.

Segundo o artista, o projeto tem um valor simbólico grandioso. “É muito importante para a fotografia e para a identidade, nesse momento em que se fala de diversidade, porque trata de figuras muito relevantes. Uma delas é uma figura de referência e a outra é João de Deus, que liderou a Revolta dos Malês. Ambos representam liberdade”, contou.

Dalton relatou que ver a sua obra dentro da ementa escolar é um motivo de grande alegria e celebração. De acordo com ele, quando o seu trabalho chega ao Enem, ganha um lugar mais próximo no dia a dia das pessoas.

Zeferina e João de Deus Nascimento, Dalton Paula [2018] — Foto: Paulo Rezende/Masp

Em seu portfólio, Dalton contou que o seu encanto pela pintura iniciou a partir do universo de cores e mitos de Os Cavaleiros do Zodíaco. Quando tinha 14 anos, ele copiava os desenhos de herói usando papel-carbono e os coloria com lápis de cor. Posteriormente, o desejo de menino se profissionalizou a partir da formação de Dalton no curso de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiás (UFG), onde durante as aulas surgiu o desejo de fundamentar o seu trabalho artístico retratando corpos silenciados.

Em abril de 2021, em parceria com a pesquisadora Ceiça Ferreira, o artista idealizou o Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes, localizado no Loteamento Shangrilá, na região Norte da capital.

Ao DE [https://de.de.globo.com/go/goias/], o artista disse que se apresenta como um artista goiano. ”Faço pesquisas tendo como ponto de partida o Estado de Goiás. Tenho o entendimento de que não é à toa que finquei minhas raízes aqui. Há uma missão, que começa nas questões locais e vai até o universal”, destacou.

Ao definir o propósito de sua arte, Dalton afirmou que busca deixar um legado nas artes visuais. “Quero deixar uma contribuição para as futuras gerações, um legado que possa contribuir de alguma forma na historiografia nacional e no pensamento sobre o negro. Quero provocar reflexões que nos levem a lugares melhores, contribuir com o pensamento de forma mais ampla”, disse.

Ele mencionou ainda que entende o retrato como um documento histórico e como forma de combater o apagamento de pessoas negras ao longo da história, para que gerações futuras tenham uma referência. “É um legado deixado, um documento dos processos de visibilidade e contra o apagamento histórico”, concluiu.

Histórias Afro-Atlânticas, realizada pelo Museu de Arte de São Paulo (Masp) em 2018 — Foto: Paulo Rezende/Masp

As obras de Dalton já viajaram o mundo. As pinturas Zeferina e João de Deus foram expostas no Texas e em Washington. Além disso, o artista também possui obras no acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e em coleções do Instituto de Arte de Chicago e do Instituto de Arte Contemporânea de Miami.

Em 2024, Dalton participou da Bienal de Veneza, tendo Adriano Pedrosa como curador. No mesmo ano, ele recebeu o Chanel Next Prize, um prêmio destinado a artistas com perspectivas visionárias.

Em abril de 2025, o artista passou a ser representado pela Lisson Gallery, uma das galerias de arte contemporânea mais relevantes do mundo, com sedes em Nova York, Londres, Los Angeles e Shangai. Em setembro, ele abriu uma exposição individual de estreia na galeria de Nova York com a temática de infâncias negras.

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