É hora de correções: Roger Machado precisa fazer ajustes para que as ambições do Inter sigam intactas. A partir do começo do Brasileiro e da Libertadores surgiram alguns pontos de preocupação para a equipe colorada. Apenas as almas mais ingênuas acreditavam que o Inter teria facilidades para o Gre-Nal do último sábado. Na verdade, na estranha lógica da rivalidade, a recente mudança de comando técnico no Grêmio, os resultados desastrosos e o fraco desempenho do rival já antecipavam um jogo encardido — os tricolores jogavam pela dignidade e para encontrar algum horizonte na temporada.
De fato, tudo se desenrolou seguindo os preceitos básicos de um típico Gre-Nal. Um tempo de domínio para cada lado, com placar refletindo esta igualdade, em um jogo que se mostrou agressivo do começo ao fim. Para que estivesse totalmente de acordo com a cartilha do clássico, faltaram apenas um par de expulsões e aquela correria generalizada que representam mais o Rio Grande do Sul que o chimarrão, o churrasco e o xis coração. Depois da constrangedora goleada para o Mirassol, já esperando novo técnico (o acerto com Mano Menezes foi confirmado hoje), o Grêmio parecia renascido das cinzas que na quarta-feira passada haviam se esparramado pelo interior paulista, enquanto o Inter, na condição de favorito, leva na bagagem, além do ponto conquistado como visitante, alguns sinais que já estavam evidentes em jogos anteriores.
Com justiça e por seus méritos, a equipe doravante chamada de Butiá Mecânico de Roger Machado é apontada como uma das favoritas a conquistar algo grande na temporada. O trabalho que se estende desde o ano passado, o bom elenco, as atuações convincentes e a forma indiscutível como venceu o Gauchão subscrevem esta impressão. No entanto, justamente a partir do começo do Brasileiro e da Libertadores surgiram alguns pontos de preocupação. É claro que o nível dos adversários também subiu e a sequência de jogos foi feroz: além dos clássicos que definiram o perrengue pampeano, Flamengo, Bahia, Cruzeiro, Atlético Nacional, Fortaleza, Palmeiras e, novamente, o Grêmio. E foi exatamente o calibre dos rivais que tornou visíveis alguns ajustes que Roger precisa fazer — e com certa urgência, para que as ambições da temporada continuem as mesmas.
Um dos pontos mais dramáticos envolve Alan Patrick, indiscutível maestro da equipe e um dos melhores jogadores do Brasil. Em jogos em que a equipe se vê pressionada (e às vezes até se dispõe a ser pressionada, como contra Flamengo e Bahia), o camisa 10 se vê absolutamente sobrecarregado na armação e condução da equipe. E isso leva a outra questão: para jogar com dois pontas, o meio-campo colorado muitas vezes parece pouco povoado, especialmente nos jogos em que a equipe não detém a bola a maior parte do tempo. Às vezes faltam tentáculos mesmo para Fernando, o homem-polvo que domina o campo inteiro.
Há também questões menos estruturais e mais pontuais. Um dos melhores laterais do país, Alexandro Bernabei é um meteoro quando lhe oferecem o campo, mas desde o jogo contra o Atlético Nacional tem sofrido para cumprir suas funções defensivas — os adversários ultimamente decidiram punir sua audácia e mostrar que há um preço a ser pago por todo lateral que nasceu com alma de ponteiro. E, bem, o zagueiro uruguaio Agustín Rogel vem jogando devido às lesões de outros defensores, e na verdade tem qualidades que se destacam (bola aérea, consciência dos espaços, tranquilidade), mas precisaria entrar em campo montado em uma moto quando necessita acompanhar atacantes velozes.
É claro que Roger Machado percebe esses gargalos, que não colocam em discussão o fato de que o Inter é um time muito bem treinado. E os próprios resultados mostram que existe uma perspectiva muito positiva — no Brasileiro, a posição na tabela por enquanto está comprometida exclusivamente pela derrota no equilibrado jogo contra o Palmeiras. A mudança de status entre ser apontado como favorito e se perfilar de fato como favorito passa por algumas correções — o caminho está certo, basta saber antecipar os quebra-molas, para usar um gauchês gratuito.